Por Reynaldo Rocha
O que sabem os petistas da
vida? Como entendem aquilo que está além de um partido ou projeto de poder?
Falo de companheiras (as
verdadeiras, que, como o nome diz, comem do mesmo pão), de filhos e filhas, de
decência e das pequenas grandes coisas que são parte de nosso viver.
Como ousam usar a morte
como matéria de jogo político? Instrumentalizar a doença? Vulgarizar a dor?
Conheço
centenas de doentes, alguns chegando ao fim da jornada. Por escolhas erradas ou
por mistérios insondáveis. Não conheço nenhum que mercantilize a própria morte,
que faça dela o valor de barganha em um inescrupuloso jogo de poderes. Podres
poderes.
Eu os vejo ensimesmados,
reflexivos e esperançosos. Em balanço de vida. Sinto-os apegados à família e
aos amigos. Poupando a estes uma dor que a cada dia se torna maior. Mostram uma
falsa alegria, tentam ser ainda mais ativos e intensos do que quando tinham
saúde. Sentem falta do futuro.
A morte assusta. O mundo
existe porque eu existo. Ao morrer, o mundo - para mim - estará
acabado. Restarão a descendência, a amizade sincera de beira de fogão, os
valores plantados e exemplos deixados. Um homem à morte não sente vergonha de
estar assim. Mas certamente sente vergonha de usar a própria morte em busca de
uma piedade cínica e covarde.
É cinismo julgar-se digno
de pena (ninguém é). É covardia não enfrentar a verdade inexorável da vida.
Vejo hoje a ex-senadora
Benedita da Silva bradar que "Genoino está às portas da morte! Oremos por
ele!".
O uso vulgar da vida de um
ser humano só é menor, pois consentido por quem é usado. Mais: incentivado.
Julga-se um grupo social
(de animais ou de aborígenes, mais ainda de civilizados) pelo entendimento da
finitude da vida e respeito aos que dela se despedem. Seja nos cães ou leões.
Nos índios menos aculturados ou nos que mantém a tradição ancestral. Ou na civilização
que caminha cada vez mais para uma aceitação e compreensão deste tempo (curto)
que é dado a cada um de nós nesta existência.
Um cão se mantém altivo até
o último dia, sorvendo cada gota da experiência de existir. Os índios se reusam
a admitir a morte até que ela aconteça.
Alguns grupos desejam a
morte. Até dos seus. Para uso e consumo.
Não se trata de análise
política, mas de desesperança humana. Conheço gente - muito, muito próxima
de mim - que se alegra por um mínimo de reação durante a quimioterapia.
Por não vomitar com uma nova droga. Por usar menos morfina sintética. Por
esperar o Natal e ansiar por um novo ano. Por sentir o coração bater acelerado
com notícias da Copa do Mundo que não sabe se verá.
E sei que dói ver usarem um
homem que se deixa usar para transformar a miséria humana em injustiça
judiciária, que nunca houve. Estranho momento em que inimigos políticos torcem
pela saúde de homem enquanto seus camaradas anseiam pela sua morte.
Repito: não é política,
imbecil. É o viver. É a vida que não nos pertence, mas pertence ao mundo dos
que nos são próximos.
Aos poucos a inversão de
valores avança até o ponto de se ansiar pela gravidade (inexistente) de um
quadro de saúde como artifício para um projeto que não leva em conta a vida.Seria exagero dizer que eles cultuam a morte?
Fonte: "Direto ao Ponto"
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