Em
entrevista ao jornal espanhol "El País", publicada no domingo, 20, o ex-presidente Lula
afirmou que com o crescimento do PT, ao longo desses 33 anos, e com sua chegada
ao poder foram aparecendo "defeitos", como a valorização demasiada do
Parlamento e de cargos públicos, e o surgimento da corrupção. Apesar disso,
Lula disse que dirigentes do partido foram previamente condenados, por meios de
comunicação, no julgamento do mensalão, inclusive, segundo ele, "à prisão
perpétua".
- Era um partido pequeno (o PT),
que depois passou a ser grande e, como tal, foram aparecendo defeitos. Gente
que dá muito valor ao Parlamento, outros aos cargos públicos - disse Lula, ao "El País".
Nesse trecho, o repórter
interrompe o ex-presidente e faz referência ao escândalo do mensalão. Lula,
então, lembra, com saudosismo, de como o partido funcionava no passado:
- Eu queria dizer que as pessoas
tendem a esquecer os tempos difíceis em que achavam bonito carregar pedra. A
gente acreditava, era maravilhoso. Um grupo mais ideológico, as pessoas
trabalhavam de graça, de manhã, à tarde e à noite. Agora você vai fazer uma
campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar às origens, mas gostaria
que não esquecêssemos para que fomos criados (o PT). Por que queríamos chegar
ao governo? Não para fazer como os outros, mas para agir de maneira diferente.
O repórter retomou o assunto,
lembrando o que dizia anteriormente o ex-presidente sobre o processo de
crescimento (do PT):
- Aparece a corrupção - completou
Lula, sem explicar na entrevista sobre quais casos de corrupção se referia.
Ex-presidente critica cobertura
do mensalão
Apesar do mea culpa em relação à
atuação do PT, o ex-presidente criticou a imprensa pela cobertura do julgamento
do mensalão:
- No caso dos companheiros do PT,
já foram previamente condenados. Alguns meios de comunicação o fizeram,
independente da sentença, inclusive à prisão perpétua. Alguns (petistas) nem
podem sair na rua.
O ex-presidente afirmou ainda
duvidar que exista no mundo uma nação com quantidade de fiscalização tão grande
como o Brasil. E disse que 90% das denúncias são feitas pelo próprio governo:
- O que digo aos companheiros é
que só há uma forma de não ser investigado neste país: não cometer erros.
Na entrevista, Lula também pregou
a necessidade de renovação do partido:
- O Partido dos Trabalhadores
completou 33 anos de vida. Quando se chega a isso, os que começamos com 35
anos, devemos dar espaço a uma nova geração.
Quanto às manifestações de junho,
que tomaram conta das ruas do país e pegaram de surpresa a classe política, o
ex-presidente disse que elas "são saudáveis". E listou conquistas de seu
governo para dizer que é natural, na sua opinião, que a população queira mais.
Lula ressaltou, no entanto, que é
preciso valorizar a participação democrática e não permitir que os jovens
reneguem a política:
- Temos que valorizar a
participação democrática e não permitir que os jovens reneguem a política,
porque quando isso ocorre o que vem é o fascismo.
Apesar de haver um forte "Volta
Lula" em setores do PT, o ex-presidente disse, mais uma vez, que não será
candidato nas eleições do ano que vem:
- Eu tenho minha candidata, que é
Dilma, e vou trabalhar para ela.
Sobre a crise econômica que afeta
a Europa, principalmente Espanha, Portugal e Grécia, Lula disse ao jornal
espanhol que, na sua opinião, há um problema de falta de decisão política, e
não econômica:
- As decisões não foram tomadas
no momento adequado. No fundo, se permitiu os mesmos ajustes que se fazem nos
países pobres. Espanha ou Grécia, com suas rendas per capita, poderiam assumir
ajustes de mais longo prazo, não a um tão curto (prazo), asfixiando a economia,
a base de sacrifícios enormes, sem levar em conta o que vai custar à população
para se recuperar.
Fonte: "O
Globo"
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