Por
Ricardo Setti
Eu não estranharia se o culto post-mortem ao
caudilho Hugo Chávez resultasse não apenas em sua destinação ao Mausoléu do
Libertador Simón Bolívar, em Caracas, mas também na permanente exibição de seu
corpo embalsamado e devidamente tratado em uma urna de vidro.
A exploração da adoração das massas por
dirigentes mortos não é novidade ao longo da história. No século XX, em geral
foi coisa de regime comunista, embora tenha havido pelo menos uma exceção.
Começou com o líder da Revolução Bolchevique,
Vladimir Illitch Ulianov, o Lênin, cujo corpo embalsamado está exposto desde o
ano de sua morte, 1924 - e, a partir de 1930, no mausoléu especialmente
construído e ainda existente na Praça Vermelha, em Moscou.
O corpo de Lênin lá continua, mesmo após o
fim do comunismo na Rússia, em 1991. Outros dirigentes comunistas seguiram o
exemplo, primeiro com Mao Tsé-tung, o líder chinês, morto em 1976, e em seguida
com Ho Chi Minh, o herói nacional do Vietnã (1969), o norte-coreano Kim Il Sung
(1994) e seu filho e sucessor, Kim Jong Il (2011), ambos mantidos conservados
no Palácio Memorial de Kumsusan, em Pyongyang, capital da Coreia do Norte.
A exceção não-comunista veio de uma ditadura
populista da América Latina com a qual o regime chavista exibia algumas
semelhanças - a de Juan Domingo (1946-1955), e a partir da morte precoce de sua
mulher e espécie de "Mãe dos Pobres" do país, Evita Perón, de câncer, aos 33
anos, a 26 de julho de 1952. Seu corpo embalsamado pelo médico Pedro Ara foi
exibido em seu antigo escritório no prédio da Confederação Geral do Trabalho
por quase dois anos, até o golpe militar que derrubou Perón, em setembro de
1955.
Os militares sumiram com o corpo de Evita por
16 anos, até 1971, quando se soube que estava encerrado em uma cripta em Milão,
na Itália, sob o nome de "María Maggi". O corpo então voltou à Argentina e,
depois de diferentes peripécias, acabou finalmente merecendo repouso no túmulo
da família de Evita no Cemitério de La Recoleta, em Buenos Aires.
Fonte: "Veja Online"
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