Por Reinaldo Azevedo
Lideranças como Hugo Chávez, Evo
Morales e Rafael Correa podem até chegar ao poder sem o apoio das chamadas "elites",
contra as quais vituperam em palanque, diga-se, mas só se mantêm no topo se
conseguem conquistar apoios expressivos das camadas que antes hostilizavam.
Ainda que com outra retórica e com um projeto de poder distinto, mas não
necessariamente virtuoso, foi o que os petistas fizeram no Brasil. A suposição
de que esses "esquerdistas" governam sem o apoio do que antes chamavam "direita"
é uma tolice.
O ditador se vai, e sua herança já
começa a ser avaliada. Em que resultou o "modelo alternativo" de Chávez, no
qual se ancoram, por exemplo, Bolívia e Equador? O que ele deixou de virtuoso?
Uma economia organizada? Não! Instituições democráticas? Não! Paz social? Menos
ainda. Pegue-se um exemplo dramático: Caracas é hoje uma das cidades mais
violentas do mundo, com mais de 100 homicídios por 100 mil habitantes.
O estado em que Chávez deixa a
Venezuela ilustra e antecipa o que acontecerá, mais dia, menos dia, com o
Equador e com a Bolívia, com o agravante de que são países ainda mais pobres.
Está demonstrado, mais um vez, que não existe alternativa viável ao pluralismo
democrático. A Argentina, como se sabe, caminha igualmente para o caos. Ollanta
Humala, agora presidente do Peru, que se lançou na política no rastro da retórica
chavista, parece - vamos ver - ter operado uma guinada no discurso. Talvez não
queira se confundir com a turma do hospício.
A morte de Chávez, como a de qualquer
ser humano, não tem de ser comemorada. E muita gente sabe como isso pra mim é
caro. Para a democracia e para os povos da América Latina, a sua saída de cena é
positiva, sim! A sua obra é a prova mais evidente de que estava errado e de que
não representa uma alternativa aceitável à democracia representativa.
Deixa muitas viúvas, inclusive no
Brasil. Não são poucos, por aqui, os que queriam que Lula e Dilma o tivessem
como inspiração. Felizmente, o PT herdou instituições democráticas sólidas - não
quer dizer que não possam ser abaladas - e teve de se comportar dentro das
regras do jogo que o elegeu. O partido está permanentemente mobilizado para mudá-las,
tentando adaptá-las às suas necessidades e à sua vocação para partido único. Até
agora não logrou seu intento.
Com Chavez morto, tem uma inspiração
a menos.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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