Por J.
R. Guzzo
Não há rigorosamente mais nada de útil que
possa ser dito a respeito do deputado federal Henrique Alves, candidato oficial
do governo e do PT à presidência da Câmara dos Deputados. Em pleno ano de 2013
da era cristã, Alves foi considerado pelas forças que mandam hoje no país como
o homem ideal para dirigir um dos três poderes da República - justo ele, "Henriquinho", que em onze mandatos e 42 anos de casa construiu uma biografia
impecável como agente de tudo o que existe de mais atrasado na política
brasileira. O deputado, em si mesmo, vale por um gênero inteiro: o dos
profissionais que se mantêm nos galhos mais altos da vida pública, geração após
geração, servindo-se da pobreza, da ignorância e dos vícios sociais que
envenenam o Brasil desde os tempos do imperador. Nas vésperas da eleição,
coerente com seus hábitos de vida, estava outra vez metido em confusão - agora,
numa miserável embrulhada com dinheiro público, seu principal assessor e uma
empreiteira de obras, que ficará na crônica como o caso do bode "Galeguinho".
Chega? Chega. Não há mais nada a dizer, realmente, sobre esse novo gigante da
classe trabalhadora. Em compensação, há muito a dizer sobre o PT.
O partido fundado pelo ex-presidente Lula foi
uma nova força na política brasileira de trinta anos atrás. Talvez houvesse aí,
pela primeira vez, um alerta para os aproveitadores, demagogos e senhores de
engenho, rurais ou urbanos, que sempre exploraram o Brasil como um negócio
pessoal e jamais admitem mudança alguma para melhor. A esperança durou pouco.
Começou a se desmanchar quando o PT ganhou suas primeiras prefeituras e
descobriu algo chamado Erário. Vinte anos depois, quando o partido chegou enfim
à Presidência da República, já tinha ido tudo para o diabo. Antes mesmo de
tomar posse em 2003 o presidente operário e sua tropa casaram no civil e no
religioso com o tipo de gente que mais combatiam. O objetivo seria amansar os
inimigos. O resultado prático é que acabaram ficando iguais a eles.
Os petistas mais espertos, e são muitos,
descobriram com grande rapidez as oportunidades pessoais oferecidas pelo
Brasil velho que prometiam mudar. Desde então, não pararam mais de caçar
empregos e vantagens para si próprios e seus familiares. Gente com mais ambição
farejou logo a grande mina dos conselhos de estatais e fundos de pensão
controlados pelo governo - rolam bilhões aí. Aprenderam a traficar com licenças
para emissoras de rádio e TV, montar ongs que recebem dinheiro do Tesouro e
fechar excelentes negócios no mercado de "prestação de serviços"; é todo um
mundo de empresas que pertencem a esposas ou maridos, ex-esposas ou ex-maridos,
amigos dos amigos e por aí afora, empenhadas dia e noite em vender alguma coisa
para o governo. A mistura entre negócios privados e canetas públicas tornou-se
procedimento-padrão. Um filho do próprio Lula recebeu 5 milhões de reais de uma
empresa interessada em realizar negócios que dependiam da assinatura de seu
pai, em troca de ações na sua companhia de videogames - que jamais mostrou
resultado algum capaz de justificar um investimento desse tamanho. (As últimas
notícias dizem que está à beira da falência, devendo mais de 6 milhões de reais
na praça.)
Hoje o PT é apenas o partido do homem-cueca,
dos bebês de Rosemary e do bode "Galeguinho". Virou o beneficiário número 1 das
doações feitas pelas empreiteiras de obras. Em todos os escândalos de corrupção
dos últimos dez anos, assumiu automaticamente a defesa dos acusados. Está 100%
ao lado de "Henriquinho", Fernando Collor e Paulo Maluf. Ficará marcado para
sempre pela concordata moral do mensalão, que se tornou um ponto central na
biografia de Lula e despedaçou a reputação de José Genoino, um dos últimos
símbolos do PT que existiu um dia - e que hoje é deputado com uma sentença de
prisão nas costas. Ninguém falou mais claro sobre esse mergulho na decadência
do que o ex-governador gaúcho e petista de raiz Olívio Dutra. "Eu acho que tu
deverias pensar na tua biografia, na trajetória que tens dentro do partido",
recomendou ele a Genoino. "Eu acho que tu deverias renunciar." Nada que a "direita" disse, em anos de ataque ao PT, foi tão arrasador.
O que se ouviu, aí, foi a voz da consciência.
O PT valeu enquanto foi jovem; hoje é um caso perdido. Como nos mostra o
personagem Chance Wayne, de Tennessee Williams, em geral não vale a pena fazer
viagens para reencontrar o doce pássaro da juventude. É pouco provável que
esteja onde o procuramos - e talvez seja melhor não encontrar o que sobrou dele.
Fonte: Revista "Veja". edição que está nas bancas
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