Por Reinaldo Azevedo
Flávio Morgenstern é
articulista do site Implicante e
tradutor. Ele me envia, acompanhado de fotos e vídeo, um relato da baixaria que
aquelas derivações teratológicas dos chimpanzés promoveram contra Yoani Sánchez
nesta quinta-feira, na livraria Cultura. Leiam o seu relato. Ah, sim: já vimos
nos jornais e sites muitos cartazes contra Yoani. Os deste post são favoráveis à
democracia.
*
Encontrei um pessoal da USP (daquelas pessoas que tomam banho e leem livros) e chegamos com uma hora e meia de antecedência e não havia muitas pessoas por ali. Pegamos nossas pulseiras e, enquanto conversávamos, uma moça se aproximou de nós e perguntou: "Vocês são do Solidariedade?". Ignorante que sou, perguntei: "O Solidariedade da Polônia?". Poxa, sou muito burro pra presumir que a cidadã falava do Solidariedade polonês, o movimento que acabou com o comunismo… Essa minha mania de achar que pessoas "politizadas" sabem quem é Leszek Kolakowski ou pelo menos o Lech Walesa… Ela virou as costas sem nem dar tchau.
Fui comprar o livro da Yoani
(um imenso pecado! comprar livros! lê-los antes de criticar a blogueira que
nenhum deles tentou ler antes de criticar! ter idéias e informações, essa coisa
subversiva!), e quando voltei para a entrada da livraria, onde tudo acontecia,
o caos já reinava.
Pegamos nossos cartazes e
fomos também dar nossa voz.
O que ouvi foram pessoas
gritando pela "liberdade" de Cuba. Estranho. Liberdade para quem? Para o Fidel?
Para o Raúl? Não ouvi uma palavra sobre liberdade de voto para o povo cubano.
Sobre liberdade de expressão. Sobre liberdade de um cubano usar um Facebook ou
Twitter (esse regime deve ser tão frágil que tem medo até do Twitter, aquele
negócio que serve pra todo mundo ficar comentando o Big Brother Brasil…). Sobre
liberdade para… Yoani Sánchez.
Se é liberdade que querem, é
liberdade para agredir o outro. Para impedir que alguém que não quer que a
totalidade do poder político esteja concentrada unicamente nas mãos deles se
manifeste.
Por isso levaram apitos e
tambores. Cada vez que alguém pronunciava algo, tentava dar uma entrevista para
um repórter ou simplesmente dizer: "Ei, peraí…", era obtemperado com ruídos
primitivos. Schopenhauer certamente tinha razão em determinar que pode
averiguar o grau civilizatório de uma pessoa na razão inversa de sua tolerância
a ruídos…
Não era só a expressão que
tentavam vetar. Também se concentraram com força exatamente na entrada do Cine
Livraria Cultura, onde aconteceria a palestra com Yoani, e impediam as pessoas
de entrar, ou mesmo de passar pelo centro do corredor. Ora, é essa a "liberdade"
que defendem? A liberdade de impedir pessoas de andarem por onde eles
determinaram que não querem que elas andem?
Todavia, essa turma está
acostumada ao fascismo de massas, em que andam em bando e nem a polícia pode
fazer nada contra suas agressões, mas não com pessoas civilizadas, banhadas,
vacinadas e usando desodorante, reclamando seus direitos óbvios de poderem
existir, andar e falar sem serem impedidas. Gritávamos: "Ô Yoani, pode falar!
Aqui não tem Fidel pra te calar!" - mas erramos um pouco. Fidel não estava. O
PT, o PCdoB e o PCB estavam.
Aliás, por que essa turminha
reclama de Yoani receber salário do El País e prêmios internacionais por criar
o blog mais influente da raça humana se eles são financiados por fundos partidários
milionários tomados à força do nosso bolso, sem que perguntem se apoiamos
ditaduras e ditadores ou não?
O método deles é sempre o da "agressão
mínima" - agridem sem partir pra porrada desabrida. Esperam que alguém revide.
Eu discuti com um fascistóide que tentava me impedir de andar na frente da
entrada. Enquanto isso, disfarçadamente, um menininho pequeno pisava no meu pé
a intervalos regulares. Obviamente que a uma pisadinha minha de volta (que,
admito, pelo tamanho do menino, deve tê-lo deixado mancado por meia hora), a
pancadaria começou, vários chutes foram dados no ar, o empurra-empurra quase
virou violência generalizada, até que a velha-guarda, acostumada a protestar só
contra velhinhas da "burguesia", apaziguou ânimos.
Tentei me aproximar mais uma
vez. Um cidadão me barrou com o corpo e disse: "Sai daqui, pra cá você não vai
vir". Saquei o celular e comecei a filmá-lo. Lembrei-lhe: "Eu vou para onde eu
quiser, por que eu vivo numa democracia, Fidel não vai me censurar aqui não!".
A resposta dele foi, disfarçadamente, dar uma cabeçada (que encostou no
celular, mas não em mim, embora foi o momento da minha vida em que mais corri o
risco de pegar piolho). Claro, esperava outra resposta. E agride no canto,
escondido. Felizmente, filmei tudo.
O curioso é que as poucas
pessoas que entraram para ver a palestra sofreram uma revista séria dos seguranças. "Cadê o cartaz? Levanta a camisa! Vira de costas!" Todavia, ao entrar no auditório,
toda a turminha da UJS (braço de porrada do PCdoB estava lá, gritando, cheios
de cartazes. Meu amigo Thomaz Martins reclamou com o segurança. Aí o discurso
mudou: "Ah, a gente não pode fazer nada, você sabe…" Até a PM por lá apenas
observava, mas não se mexeu muito nem nos momentos mais tensos.
Enfim, vi apenas fascistas
que tentam proibir que o outro fale. Até um aprendiz de genocida com camiseta
do Stálin. Outro partiu para cima de um amigo meu gritando: "Eu sou fã do Stálin
sim! Stalin matou um monte de alemão!" (sic) Por mais que se odeie Hitler,
parece estranho admirar alguém apenas pelas mortes causadas. Ou alguém aí é fã
do Churchill por ele ter "matando um monte de alemão"?
Qual o argumento deles para
isso? Bem, apitar, gritar e entoar coros como "Quem não pula é fascista!",
seguido de pulinhos. Reinaldo, o sr. está pulando? Pois, se não estiver, serei
obrigado a desconfiar que o sr. é um fascista…
Num ponto hei de concordar
com os moçoilos. Também gritavam: "A América Latina será toda socialista!". É,
de fato, um perigo. Vide o que diz o mocinho abaixo (para quem é da turma "Sou
petista, mas…" e jura que a ditadura cubana não tem nada a ver com o modo de
comprar poder político do mensalão petista, suas palavras falam pelo Partido):
Outro ponto em que sou
obrigado a concordar com eles é sobre o embargo. Ora, há muitas razões para ele
(inclusive a máfia cubana em Miami, que assassina dissidentes a rodo, e nunca
vemos essas notícias por aqui quando lemos sobre Cuba). Mas livre comércio é
paz. Bacana que algum dia acabem com o embargo. Poderiam instalar um sinal
wi-fi gigantesco sobre Cuba, e sobrevoá-la jogando iPhones dos aviões. Quero
ver quanto tempo dura essa ditadura.
Agora, por que são contra o
embargo (mesmo que o país com o qual Cuba mais comercie hoje seja, justamente,
a América! Basta acabar com o nome do negócio, mas essas pessoas também só
entendem palavras, não o conceito real que designam)? Por que não são favoráveis
logo ao comércio pacífico? Cuba é uma porcaria por causa do embargo? Taí a
prova de que o comércio enriquece ao invés de explorar!
Reinaldo, o sr. está pulando?
Ainda estou de olho…
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