Ele deverá consumir 1 bilhão de reais de
dinheiro público e tem tudo para se transformar num abacaxi para o Distrito
Federal depois da Copa do Mundo. Se depender do PT, o Estádio Nacional de
Brasília deverá ser também o único elefante branco do Mundial vestido de vermelho
- a vontade do governador Agnelo Queiroz é de que essa seja a cor das cadeiras
da nova arena, que substituiu o antigo Estádio Mané Garrincha. Um dos projetos
mais contestados entre as doze sedes de jogos da Copa de 2014, a nova arena
enfrenta uma perspectiva preocupante, já que não existe nenhum clube de grande
porte na capital federal. Com isso, o uso do estádio depois de 2014, a
princípio, se limitará a eventuais amistosos da seleção brasileira - que
raramente marca partidas no país - e alguns shows e eventos, ainda que Brasília
(palco
do primeiro cancelamento de obras prometidas para 2014) não esteja
na rota dos grandes espetáculos que visitam o país. O petista Agnelo, que
garante que o governo distrital encontrará uma forma de evitar que o estádio
fique sem uso, contraria o projeto original do estádio, que previa cadeiras nas
cores da bandeira nacional, verde, amarelo e azul. Nesta quinta-feira, aliás, o
governo inicia, em parceria com a Coca-Cola, patrocinadora oficial da Copa, uma
campanha de coleta de garrafas PET que serão recicladas e usadas na fabricação
dos assentos do estádio.
A mudança é alvo de uma ação encaminhada à
Promotoria do Patrimônio Público do DF. O governo anunciou a alteração como
certa, mas os promotores aguardam uma nota técnica para decidir sobre a
questão. A maquete do estádio ainda está como foi projetada, com os assentos
lembrando a bandeira. Especializado em desenho de arenas esportivas e
responsável pelo projeto de Brasília, o arquiteto Eduardo de Castro Mello
explica que a ideia inicial seria a de manter a área vip na cor azul,
"significando a hospitalidade". Já os assentos das arquibancadas
iriam variar do amarelo claro ao verde. Essas variações de tons, usadas, por
exemplo, nos estádios da África do Sul para a Copa de 2010, não só destacariam
as cores nacionais como também serviriam para passar a impressão de que o
estádio está cheio mesmo quando esse não é o caso. Com 70.000 lugares e nenhum
time capaz de levar esse público ao estádio, Brasília tem, de fato, de levar
esse problema em conta. Apesar de ter seu projeto contestado pelo desejo de
Agnelo Queiroz, o arquiteto evita entrar numa controvérsia com o governador:
"A gente apresenta as cores, mas não levamos nada para o lado político, a
decisão é do cliente".
O autor do projeto conta, no entanto, que
descartou o vermelho na hora de desenhar o estádio, previsto para ser entregue
na virada do ano. A nova arena será palco do jogo de abertura da Copa das
Confederações, no dia 15 de junho de 2013, além de receber sete partidas no
Mundial de 2014. De acordo com a assessoria do governo distrital, as obras do
estádio custarão 800 milhões de reais. Os senadores Cristovam Buarque (PDT) e
Rodrigo Rollemberg (PSB), porém, já afirmaram na tribuna da Casa que o preço
deve passar de 1 bilhão de reais. Em Brasília, muitos acreditam que a conta
será ainda mais salgada - algo na casa de 1,5 bilhão. A assessoria de Agnelo
diz que a escolha das cores das cadeiras foi uma decisão técnica da Secretaria
Extraordinária da Copa do Mundo de Brasília, órgão do governo. "Não houve
alteração, já que o edital de licitação das cadeiras afirmava que as cores
ainda seriam definidas", afirma, ignorando o fato de o projeto ter outras
cores. "Baseado nas experiências de outros estádios do Brasil e do mundo,
a secretária escolheu o vermelho para os assentos da arena e a cor vinho para
os camarotes."
Outra explicação oficial é de que o vermelho
facilita a substituição das cadeiras, apesar de se tratar de uma das cores mais
sujeitas ao desbotamento. "A secretaria da Copa avaliou que, com o passar
do tempo, as demais cores mudam. O verde, sob impacto do sol, torna-se cinza; o
amarelo fica com aspecto de sujo", diz a nota da assessoria. Entre os
principais projetos de estádios para a Copa, nenhum adotou o vermelho. O
Maracanã, por exemplo, terá o azul em boa parte de suas tribunas. O Mineirão,
em Belo Horizonte, usará o cinza. Palco da abertura do Mundial, o Itaquerão, em
São Paulo, adotará branco ou cinza. Palco de uma das semifinais, o Castelão, de
Fortaleza, terá assentos brancos. O pedido de Agnelo lembra outra intervenção
de gosto duvidoso dos petistas no conjunto arquitetônico da capital federal: a
ordem da ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher de Luiz Inácio Lula da Silva,
para que fossem plantados nos jardins do Palácio da Alvorada canteiros com
flores vermelhas no formato da estrela do partido. A repercussão negativa fez
com que os canteiros fossem alterados.
Fonte: Veja On-line
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