Por Bruno Pontes
Em entrevista à revista "Época" durante a temporada de promoção de seu filme "Linha de Passe", de 2008, o badalado Walter Salles, aquele apologista de Che Guevara, sintetizou a filosofia dos cineastas brasileiros: cinema não deve lucrar, deve fazer retratos da sociedade. E para ele, filho de banqueiro multimilionário, suas aventuras particulares devem ser bancadas por todos os pagadores de impostos.
Indagado se a anêmica audiência dos filmes nacionais naquele período poderia ser comparada ao marasmo cinematográfico decorrente do fechamento da Embrafilme no governo Collor, Sales deu uma aula de sensibilidade artística que somente as pessoas maravilhosas do terceiro mundo geográfico e mental sustentadas por verba pública têm condições de oferecer:
"Cinema não é sabão em pó. O papel do cinema é gerar uma memória de nós mesmos, um retrato de uma sociedade num dado momento. O problema é que estamos julgando hoje o cinema brasileiro com os instrumentos que são utilizados para avaliar o cinema de mercado norte-americano. É um pouco como comparar o público do McDonald's com daquele restaurante de bairro, que te propõe uma comida autêntica, de um lugar específico. Então, a pergunta que talvez devêssemos fazer é a seguinte: os filmes brasileiros têm tido sucesso em refletir nossos desejos e contradições?"
Salles e outros tantos não conseguem aceitar o fato de que filmes, assim como picolés, camisas e sabão em pó, dependem da vontade do público. Dói em suas almas de artistas visionários que sua arte não seja prestigiada como imaginam ser merecido. Eles querem é retratar a sociedade usando dinheiro alheio, e aí temos o ciclo: como não precisam se preocupar com retorno financeiro, livram-se da necessidade de oferecer a mínima qualidade que se pague em troca. Os retratos da sociedade morrem na bilheteria, e então pedem mais dinheiro aos ministérios. Em nome da cultura, naturalmente.
A revista também perguntou a Salles quais seriam os motivos para a diminuição do público do cinema nacional. Disse o filho de banqueiro: "Nos países onde existe uma compreensão solidificada de que o cinema é algo necessário para a cristalização de uma identidade nacional, como é entendido por exemplo na França, o cinema vai bem, obrigado. Nos países onde o cinema é abandonado às leis de mercado, as cinematografias nacionais morrem".
A hipótese de que sua arte seja uma porcaria, aliás, é inconcebível aos nossos gênios incompreendidos, que odeiam o livre mercado porque se sabem ignorados naquele momento crucial: quando o espectador tira a carteira do bolso.
E agora, seguindo nossa rica tradição da picaretagem cultural, Maria Bethânia e Andrucha Waddington, pessoas das mais famosas em suas áreas de atuação, se acham no direito de pegar R$ 1,3 milhão do povo para brincar de blog. Poderiam muito bem tocar o projeto "revolucionário" de levar poesia ao povo "em meio a tantos absurdos do mundo moderno" (pfff), como justificam a coisa, sem recorrer ao Estado, juntando dinheiro de empresas privadas que poderiam ser facilmente convencidas a associar suas marcas a essa gente tão linda, bacana e maravilhosa. Mas não. São artistas brasileiros típicos: têm o direito divino a uma sinecura.
Publicado no jornal "O Estado"
Bruno Pontes é jornalista - http://brunopontes.blogspot.com
Em entrevista à revista "Época" durante a temporada de promoção de seu filme "Linha de Passe", de 2008, o badalado Walter Salles, aquele apologista de Che Guevara, sintetizou a filosofia dos cineastas brasileiros: cinema não deve lucrar, deve fazer retratos da sociedade. E para ele, filho de banqueiro multimilionário, suas aventuras particulares devem ser bancadas por todos os pagadores de impostos.
Indagado se a anêmica audiência dos filmes nacionais naquele período poderia ser comparada ao marasmo cinematográfico decorrente do fechamento da Embrafilme no governo Collor, Sales deu uma aula de sensibilidade artística que somente as pessoas maravilhosas do terceiro mundo geográfico e mental sustentadas por verba pública têm condições de oferecer:
"Cinema não é sabão em pó. O papel do cinema é gerar uma memória de nós mesmos, um retrato de uma sociedade num dado momento. O problema é que estamos julgando hoje o cinema brasileiro com os instrumentos que são utilizados para avaliar o cinema de mercado norte-americano. É um pouco como comparar o público do McDonald's com daquele restaurante de bairro, que te propõe uma comida autêntica, de um lugar específico. Então, a pergunta que talvez devêssemos fazer é a seguinte: os filmes brasileiros têm tido sucesso em refletir nossos desejos e contradições?"
Salles e outros tantos não conseguem aceitar o fato de que filmes, assim como picolés, camisas e sabão em pó, dependem da vontade do público. Dói em suas almas de artistas visionários que sua arte não seja prestigiada como imaginam ser merecido. Eles querem é retratar a sociedade usando dinheiro alheio, e aí temos o ciclo: como não precisam se preocupar com retorno financeiro, livram-se da necessidade de oferecer a mínima qualidade que se pague em troca. Os retratos da sociedade morrem na bilheteria, e então pedem mais dinheiro aos ministérios. Em nome da cultura, naturalmente.
A revista também perguntou a Salles quais seriam os motivos para a diminuição do público do cinema nacional. Disse o filho de banqueiro: "Nos países onde existe uma compreensão solidificada de que o cinema é algo necessário para a cristalização de uma identidade nacional, como é entendido por exemplo na França, o cinema vai bem, obrigado. Nos países onde o cinema é abandonado às leis de mercado, as cinematografias nacionais morrem".
A hipótese de que sua arte seja uma porcaria, aliás, é inconcebível aos nossos gênios incompreendidos, que odeiam o livre mercado porque se sabem ignorados naquele momento crucial: quando o espectador tira a carteira do bolso.
E agora, seguindo nossa rica tradição da picaretagem cultural, Maria Bethânia e Andrucha Waddington, pessoas das mais famosas em suas áreas de atuação, se acham no direito de pegar R$ 1,3 milhão do povo para brincar de blog. Poderiam muito bem tocar o projeto "revolucionário" de levar poesia ao povo "em meio a tantos absurdos do mundo moderno" (pfff), como justificam a coisa, sem recorrer ao Estado, juntando dinheiro de empresas privadas que poderiam ser facilmente convencidas a associar suas marcas a essa gente tão linda, bacana e maravilhosa. Mas não. São artistas brasileiros típicos: têm o direito divino a uma sinecura.
Publicado no jornal "O Estado"
Bruno Pontes é jornalista - http://brunopontes.blogspot.com
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
2 comentários:
Uma vergonha, heim, Dimas! Como sempre, só temos mesmo o direito de pagar, pagar, pagar...sem reclamar e sem termos nada que preste, de volta.
pffff mesmo
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