Em sua coluna de Cinema na "Tribuna da Bahia", edição de quinta-feira, 6, André Setaro abriu espaço para "aviso aos navegantes" de Tuna Espinheira, pelo fato de "Cascalho", filme baiano da gema, ter sido lançado no Multiplex Iguatemi, em Salvador, considerando que, "é uma grande vitória para o cinema baiano e um acontecimento que não pode deixar de ser registrado. Com som majestoso em Dolby digital".
Como o filme está chegando em Feira de Santana, a partir desta sexta-feira, 14, no Orient Cineplace, em duas sessões, às 14 horas e 18h35, resta concordar que também nesta cidade, um acontecimento cultural marcante.
Eis o texto de Tuna Espinheira, um apelo para que sua obra seja vista:
Desde que tomou corpo e se fez verdade, o dizer: "A propaganda é a alma do negócio", a catequese de uma clientela, na sua ampla diversidade, principalmente, a mensagem dirigida ao chamado público alvo, não se fez mais nenhum vôo, digno deste nome, sem este dispositivo artificial. Vender, divulgar, incutir idéias, passou a andar sincronizado com o repeteco do ir e vir publicitário. De forma linear ou subliminar (contra os fatos não há argumentos), esta dura realidade é "Lei Pétrea". Ai de quem duvidar!
O cinema já nasceu com o destino traçado de arte de massa. Durante décadas e décadas, navegou no imaginário dos mais diversos tipos de espectadores... Alumbrou corações e mentes. O cinema não detém mais a hegemonia do grande "Leviatã" elétrico que só não ia atrás quem já morreu. Diminuíram de tamanho as salas exibidoras, sumiram dos bairros, os preços dos ingressos ficaram salgados. O imperialismo das produções norte-americanas dominaram o mercado. Não só aqui, o mundo todo sofre com esta ocupação mercadológica. "Vade retro..."
Mas, com certeza, os famigerados profetas/coveiros, não colocarão a pá de cal na arte cinematográfica que se faz aqui e acolá. O cinema é e continuará sendo, um importantíssimo elo de ligação entre os povos, entre as aldeias (e não da aldeia), a idéia de "aldeia global" é ditame do "big brother", não o televisivo mas do livro emblemático. A sétima arte significa a "língua é minha pátria", de cada país produtor.
Hoje, por conta do lançamento do filme, Cascalho, um filme de baixo orçamento. Genuinamente baiano, em termos de sua produção que, em verdade define a origem da obra. Mas o filme é brasileiro. Depois de vencer uma caminhada de léguas tiranas, chega ao escurinho do cinema seu "habitat" natural, na luminosidade da tela grande do Multiplex Iguatemi. Aleluia!
As "vidas secas" de um baixo orçamento não podem servir de desculpas pra nada. Um filme é um filme e sua circunstância e tem de mostrar a que veio. Um filme, pobre ou rico, será sempre caro.
Nosso assunto, mais tocante, neste momento, é o labirinto da distribuição dos filmes. Com a implosão da Embrafilme (que caiu mais pelos seus acertos que pelos seus erros - parafraseando Darcy Ribeiro), o cinema brasileiro ficou órfão de pai, mãe e guia de cego, era uma vez a única distribuidora existente que, de uma maneira ou de outra, trabalhava com critério democrático com as produções prata da casa.
É na hora e a vez do filme (do chamado baixo orçamento), adentrar no escurinho do cinema, é que se vê e se tem a prova dos nove: Eles não usam "Blacktie". Não há grana para bancar os anúncios, para bancar coisa alguma. Vira morfético, todos fogem dele, como o diabo da cruz!
O cinema não tem vocação para a clandestinidade, seu habitat, único e legítimo, é a luminosidade da tela grande. O ar que respira é o público. Não existe esta baboseira de se dizer: "Faço filmes para os amigos", ou seja lá que público seleto for. No Brasil, toda a produção de filmes nacionais, depende e é deita correndo o chapéu do Governo, isto vale tanto para o caviar dos primos ricos, como para o leitinho dos primos pobres. Todo o dinheiro emana do erário público.
Nosso aviso aos navegantes que prestigiam o cinema nacional, referido ao título, é mais um SOS (em plena voga no sul maravilha, onde os freqüentadores do cinema da terrinha existem em muito maior número e vibração) é o apelo dramático ao público para que façam presença nos primeiros dias do lançamento, o registro da bilheteria, destes fatídicos primeiros dias, é o que marca o destino da permanência, ou não, do filme em cartaz. Refiro-me, sobretudo, aos nossos filmes de produção franciscana e, em conseqüência disto, enjeitados pela "Medusa" televisiva e outros cantos hipnóticos de sereias saídas de peças publicitárias. Não sobra tempo para a formação da marcante opinião boca-a-boca. Ao contrário da parábola: os primeiros é que salvarão o filme. Permitindo que fiquem um tempo a mais em exibição. Evitando que, a correnteza do descaso, o arraste para o Ossuário Geral da Utopia do Fazer Cinema no Brasil. Ou então, resta apenas, como uma agônica opção, recitar o último terceto de um soneto exemplar de Mário Quintana: "Pobres cartazes por aí afora que anunciam: Alegria - Risos
Depois do circo já ter ido embora..."
2 comentários:
A presença de Tuna Espinheira em Feira para acompanhar o lançamento do seu filme e promovê-lo deve mobilizar o público para assistir "Cascalho".
É isso aí, Tuna! A navegante aqui pegou sua mensagem. Tou lá, no Orient Cineplace co-la-da!!! Como cinéfila, não posso deixar de prestigiar um negócio desses. Afinal, "Um filme é um filme" E um filme baiano num cinema baiano.... Massa!!!
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