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sábado, 27 de outubro de 2007

Sobre curtura

Na Bahia, com o governo Wagner - como no Brasil, com o governo Lula -, está em andamento uma investida contra o que se chama "alta cultura". Apoio e incentivo só para a curtura popular ou periférica, como mostram os editais e até mesmo a II Conferência Estadual de Cultura. É o viés da quantidade pela qualidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Patuléia também é curtura, por que não?

Anônimo disse...

A ÚLTIMA AULA


Vejam quanta lucidez neste texto.

Lamentavelmente nossos governantes, por
incapacidade de entendimento e por safadeza, não conseguiram entender ainda
esse raciocínio tão simples e tão verdadeiro!

Amigos, uma verdadeira aula de brasilidade... leiam devagar... vale a pena


Leiam o que disse Weber Figueiredo , paraninfo da turma , professor da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na sua última aula para seus
ex-alunos. Diante de uma platéia de formandos, acompanhados de seus pais. Um
discurso de um verdadeiro patriota.


"Ilustríssimos Colegas da Mesa, Senhor Presidente, meus queridos alunos,
Senhoras e Senhores.

Para mim é um privilégio ter sido escolhido paraninfo desta turma.

Esta é como se fora a última aula do curso. O último encontro, que já deixa
saudades. Um momento festivo, mas também de reflexão. Se eu fosse escolhido
paraninfo de uma turma de direito, talvez eu falasse a importância do
advogado que defende a justiça e não apenas o réu. Se eu fosse escolhido
paraninfo de uma turma de medicina, talvez eu falasse da importância do
médico que coloca o amor ao próximo acima dos seus lucros profissionais.

Mas, como sou paraninfo de uma turma de engenheiros, vou falar da
importância do engenheiro para o desenvolvimento do Brasil. Para começar,
vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou chamar de bananada
especial, inventada (ou projetada) pela nossa vovozinha lá em casa, depois
que várias receitas prontas não deram certo. É isso mesmo. Para entendermos
a importância do engenheiro vamos falar de bananas, bananadas e vovó.

A banana é um recurso natural, que não sofreu nenhuma transformação.
A bananada é = a banana + outros ingredientes + a energia térmica fornecida
pelo fogão + o trabalho da vovó e + o conhecimento, ou tecnologia da vovó. A
bananada é um produto pronto, que eu vou chamar de riqueza.

E a vovó? Bem a vovó é a dona do conhecimento, uma espécie de engenheira da
culinária.

Agora, vamos supor que a banana e a bananada sejam vendidas. Um quilo de
banana custa um real.
Já um quilo da bananada custa cinco reais. Por que essa diferença de preços?
Porque quando nós colhemos um cacho de bananas na bananeira, criamos apenas
um emprego: o de colhedor de bananas.

Agora, quando a vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela cria empregos na
indústria do açúcar, da cana-de-açúcar, do gás cozinha, na indústria de
fogões, de panelas, de colheres e até na de embalagens, porque tudo isto é
necessário para se fabricar a bananada. Resumindo, 1kg de bananada é mais
caro do que 1kg de banana porque a bananada é igual banana mais tecnologia
agregada, e a sua fabricação criou mais empregos do que simplesmente colher
o cacho de bananas da bananeira.

Agora vamos falar de outro exemplo que acontece no dia-a-dia no comércio
mundial de mercadorias.

Em média: 1kg de soja custa US$ 0,10 (dez centavos de dólar), 1kg de
automóvel custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais, 1kg de aparelho eletrônico
custa US$ 100, 1kg de avião custa US$1.000 (10 mil quilos de soja) e 1kg de
satélite custa US$ 50.000. Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um
produto, maior é o seu preço, mais empregos foram gerados na sua fabricação.

Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa científica
e tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa
100g por US$ 250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa
exportar 20 toneladas de minério de ferro. A fabricação de placas de
computador criou milhares de bons empregos lá no estrangeiro, enquanto que a
extração do minério de ferro, cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no
Brasil.

O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico.
O Brasil é rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre.

Os países ricos, são ricos materialmente porque eles produzem riquezas.
Riqueza vem de rico. Pobreza vem de pobre. País pobre é aquele que não
consegue produzir riquezas para o seu povo. Se conseguisse, não seria pobre,
seria país rico.

Gostaria de deixar bem claro três coisas:

1º) quando me refiro à palavra riqueza, não estou me referindo a jóias nem a
supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários para que o ser
humano viva com um mínimo de dignidade e conforto;

2º) não estou defendendo o consumismo materialista como uma forma de vida,
muito pelo contrário;

3º) e acho abominável aqueles que colocam os valores das riquezas materiais
acima dos valores da riqueza interior do ser humano.

Existem nações que são ricas, mas que agem de forma extremamente pobre e
desumana em relação a outros povos.

Creio que agora posso falar do ponto principal. Para que o nosso Brasil
torne-se um país rico, com o seu povo vivendo com dignidade, temos que
produzir mais riquezas. Para tal, precisamos de conhecimento, ou tecnologia
já que temos abundância de recursos naturais e energia. E quem desenvolve
tecnologias são os cientistas e os engenheiros, como estes jovens que estão
se formando hoje.
Infelizmente, o Brasil é muito dependente da tecnologia externa. Quando
fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte final da
produção.
Por exemplo: o Brasil produz 5 milhões de televisores por ano e nenhum
brasileiro projeta televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de todos
os aparelhos eletrônicos, é todo importado. Somos meros montadores de kits
eletrônicos. Casos semelhantes também acontecem na indústria mecânica, de
remédios e, incrível, até na de alimentos. O Brasil entra com a mão-de-obra
barata e os recursos naturais.

Os projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam no estrangeiro, com
os verdadeiros donos do negócio. Resta ao Brasil lidar com as chamadas
caixas pretas.

É importante compreendermos que os donos dos projetos tecnológicos são os
donos das decisões econômicas, são os donos do dinheiro, são os donos das
riquezas do mundo.

Assim como as águas dos rios correm para o mar, as riquezas do mundo correm
em direção aos países detentores das tecnologias avançadas. A dependência
científica e tecnológica acarretou para nós brasileiros a dependência
econômica, política e cultural. Não podemos admitir a continuação da
situação esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não
residentes.

Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua
casa para o vizinho fazer o que bem entender. Eu tenho a convicção que
desenvolvimento científico e tecnológico aqui no Brasil garantirá aos
brasileiros a soberania das decisões econômicas, políticas e culturais.
Garantirá trocas mais justas no comércio exterior. Garantirá a criação de
mais e melhores empregos.

E, se toda a produção de riquezas for bem distribuída, teremos a erradicação
dos graves problemas sociais. O curso de engenharia da UERJ, com todas as
suas possíveis deficiências, visa a formar engenheiros capazes de
desenvolver tecnologias. É o chamado engenheiro de concepção, ou engenheiro
de projetos. Infelizmente, o mercado nacionalizado nem sempre aproveita todo
este potencial científico dos nossos engenheiros. Nós, professores, não
podemos nos curvar às deformações do mercado. Temos que continuar formando
engenheiros com conhecimentos iguais aos melhores do mundo. Eu posso
garantir a todos os presentes, principalmente aos pais, que qualquer um
destes formandos é tão ou mais inteligente do que qualquer engenheiro
americano, japonês ou alemão. Os meus trinta anos de magistério, lecionando
desde o antigo ginásio até a universidade, me dá autoridade para afirmar que
o brasileiro não é inferior a ninguém, pelo contrário, dizem até que somos
muito mais criativos do que os habitantes do chamado primeiro mundo.

O que me revolta, como professor cidadão, é ver que as decisões políticas
tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas são responsáveis pela queima
e destruição de inteligências brasileiras que poderiam, com o conhecimento
apropriado, transformar o nosso Brasil num país florescente, próspero e
socialmente justo. Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente
globalizado, mas uma globalização que inclua a democratização das decisões e
a distribuição justa do trabalho e das riquezas. Infelizmente, isto ainda
está longe de acontecer, até por limitações físicas da própria natureza.

Assim, quem pensa que a solução para os nossos problemas virá lá de fora,
está muito enganado.

O dia que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um
dândi pelos palácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico
projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em
todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só assim seremos capazes de
caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem verdadeiramente a
sociedade brasileira. Será a construção de um Brasil realmente moderno, mais
justo, inserido de forma soberana na economia mundial e não como um reles
fornecedor de recursos naturais e mão-de-obra aviltada.

Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso País poderá
aproveitar de forma muito mais eficaz a inteligência e o preparo Intelectual
dos brasileiros e, em particular, de todos vocês, meus queridos alunos,
porque vocês já foram testados e aprovados.

Finalmente, gostaria de parabenizar a todos os pais pela contribuição
positiva que deram à nossa sociedade possibilitando a formação dos seus
filhos no curso de engenharia da UERJ. A alegria dos senhores, também é a
nossa alegria.

Muito Obrigado."


Weber Figueiredo - Professor da UERJ