Por William Waack, no G1, portal de notícias da Globo
A tragédia de Congonhas não vai ficar sem conseqüências internacionais para o Brasil. Duas organizações estão averiguando de perto a situação do setor aéreo civil brasileiro, e parecem dispostas a “rebaixar” o Brasil em seus rankings. Uma é a International Federation of Air Traffic Controllers (Ifatca), com sede no Canadá e que está acompanhando o trabalho dos controladores brasileiros.
“Eles acham um absurdo nossas condições de trabalho e o equipamento que somos obrigados a usar”, diz uma fonte entre os controladores de tráfego em Brasília, que pede para não ser identificada. A Ifatca ameaça fazer uma recomendação de declarar o Brasil como “espaço aéreo perigoso” a uma outra organização que é fundamental para o tráfego aéreo internacional: a International Civil Aviation Organization, a Icao, que estipula normas, procedimentos, códigos e áreas respeitadas internacionalmente. O Brasil é membro da Icao desde a sua fundação, logo depois da Segunda Guerra Mundial.
A Icao faz revisões periódicas da situação de segurança do tráfego aéreo em seus países membros e, a partir daí, emite pareceres que as principais empresas aéreas do mundo obedecem - elas impõe restrições operacionais, por exemplo, se um país for considerado “perigoso”, qualquer que seja o motivo. Recentemente, em fevereiro, a Icao lançou um alerta sobre a situação de segurança do tráfego aéreo comercial na Rússia, exigindo que normas internacionais fossem cumpridas.
Já é altíssimo o “custo” de imagem para o governo brasileiro - que gosta de afirmar que “nunca antes este país” foi tão ouvido e respeitado lá fora (uma bobagem arrasada seguidamente pelos fatos, aliás). A imprensa internacional dedicou, claro, bastante espaço à tragédia. Mas a “suite” do caso, conforme o jargão jornalístico que designa a cobertura que se segue ao fato inicial, tem sido dedicada à incapacidade das autoridades brasileiras de lidar com a crise aérea.
O “Financial Times” afirma que o desastre de Congonhas tornou mais agudas as “sérias questões” a respeito da capacidade administrativa das autoridades federais; o “New York Times” relata em detalhes o apagão aéreo sob o título “O Brasil exige uma solução para a crise”; o “Der Spiegel” declara que “o governo (brasileiro) mostrou-se incompetente” ao lidar com a mesma crise; o espanhol “El País” qualifica o desastre de Congonhas, ecoando boa parte da imprensa brasileira, de “tragédia anunciada”.
O Brasil entra para estatísticas muito negativas, em termos internacionais: só mesmo a Rússia, notória pela insegurança aérea, teve acidentes de proporções tão grandes em tão pouco espaço de tempo (cerca de 1 ano): 3 deles em 2006. Em dez meses, o Brasil teve dois. Nenhum país entre os considerados avançados, e com muito mais pousos e decolagens do que o Brasil, apresentou números desse tipo.
Esta coluna não faz do governo brasileiro o responsável direto pelas mortes de tantas pessoas. O que esta coluna afirma é que a imagem internacional de incompetência das nossas autoridades não é fruto do imponderável (que ocorre em todo tipo de acidente) nem de má vontade da "mídia". Foi construída ao longo de anos, particularmente nos últimos, por políticos e administradores preocupados consigo mesmos em primeiro lugar, e muito pouco com a coisa pública
Um comentário:
Agora é relaxar e matar
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A crise aérea que tomou conta do País acaba de provocar mais uma tragédia. Quando se pensava que o governo tomaria algumas providências para sanar os problemas causados com o apagão aéreo, eis que os milhares de pessoas que usam as aeronaves brasileiras como um meio de transporte, acabam por descobrir que, na realidade, estão usando um meio para a morte. A recente tragédia ocorrida com o avião da TAM comprova que toda essa catástrofe já era esperada. Mesmo com a instalação da CPI para apurar as causas dos acidentes, dos atrasos nos vôos domésticos e no descaso dos controladores do tráfego aéreo para evitar acidentes, acabaram de vez com os motivos apresentados pelos responsáveis para justificar essas ocorrências.
Mesmo que -com extrema boa vontade-, não se credite à crise aérea a tragédia de Congonhas, o fato é que ela aconteceu justamente no local onde começou. Todos os levantamentos feitos pelos especialistas apontavam que algo tinha que ser feito por parte do governo mesmo quando ainda se investigava o acidente da Gol, cujo saldo de mortos foi praticamente igual ao da TAM. Atolado em administrar sucessivas crises de corrup-ção que explodem em todos os poderes dessa infeliz República -a maior de nossa história-, o presidente Lula começa a ser chamado de assassino por omissão, haja vista nada ter feito, até o presente momento, para evitar essas fatalidades.
Durante quase um ano sua excelência pouco se incomodou com os transtornos dos milhares de passageiros que esperavam (e continuam esperando) durante horas para embarcar em nossos aviões, chegando até a dormirem nos aeroportos devido ao desespero e ao cansaço. Enquanto isso, a ministra sexóloga, numa atitude altamente irresponsável, pedia, rindo, para que esse pessoal relaxasse e gozasse enquanto esperava o embarque.
Preocupado com a péssima administração que vem realizando, e também uma vaia que recebeu na abertura dos Jogos Pan-Americanos, Lula nada fez para solucionar os problemas. Destituído de autoridade para demitir o ministro da Defesa e seus auxiliares, não tem como esperar senão por outra tragédia. Saliente-se que o novo acidente ocorreu apenas dez meses do acidente da Gol, como se fosse um fato já anunciado e esperado. Mesmo dizendo ser uma fatalidade, o presidente não pode negar que, no íntimo, tal ocorrência não lhe causou qualquer surpresa. Sabendo que as vidas ceifadas serão cobradas tão logo passe o clamor público, já ensaia montar um esquema no qual fique como único culpado o próprio piloto do avião que terminou batendo no próprio prédio da empresa, matando também os que ali estavam. Nunca é demais lembrar que, em janeiro deste ano, o Ministério Público Federal em São Paulo ajuizou uma ação para que a Justiça Federal determinasse a imediata interdição da pista principal do aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital.
A ação foi protoco-lada seis meses antes dessa última tragédia. Segundo seus autores, a Infraero tinha conhecimento dos problemas existentes na pista e adjacências do aeroporto, que poderiam causar algum acidente, como de fato aconteceu com o Airbus A-320 da TAM. Agora, só resta ao presidente lamentar o ocorrido, culpar o piloto ou, como disse sua ministra, relaxar e gozar, ou melhor, matar.
Luiz Holanda é professor universitário
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