Por Reinaldo Azevedo
Há um óbvio surto industriado de violência em São Paulo, sob o comando
da bandidagem organizada. E há uma verdadeira escalada de insanidade na
cobertura da imprensa, estimulada, ademais, por comportamentos marotos de
autoridades federais. Fazer alarde - que é coisa diferente de noticiar - das
ocorrências, é evidente, estimula outras tantas ocorrências. E não só em São
Paulo!
Desde que o estado passou a ser alvo da ação deletéria do crime
organizado, o trabalho virtuoso que se faz na segurança pública ao longo de uma
década - ou será que isso é falso, que isso é delírio, que estão errados todos
os estudos sérios a respeito? - passou a ser ignorado. Não! Passou a ser
pisoteado!
O que a bandidagem vê na TV são autoridades sob ataque, submetidas a uma
contínua desmoralização. O que mais podem querer os criminosos? Mandam
incendiar ônibus, matar policiais, executar pessoas a esmo, e depois
experimentam o gostinho de ver essas autoridades com o microfone na cara,
obrigadas a dizer alguma coisa.
Notem que nem mesmo se diz: "A polícia errou aqui e ali; em vez de fazer
tal coisa, fez o contrário". Ou ainda: "Autoridades foram lenientes e
permitiram que…". Nada disso! Não há uma crítica objetiva ao trabalho das
polícias - até porque a história é favorável a esse trabalho. A ironia,
reitero, é que se está a falar de um dos estados com o menor número de
homicídios do país.
Estou, com isso, tentando negar o óbvio? Ao contrário: estou cobrando
que se reconheça o óbvio. De novo: há uma diferença entre noticiar e aderir à
estética do terror.
Ontem, assistiu-se em Santa Catarina a atos delinquentes parecidos com
os que têm ocorrido em São Paulo. E há, tudo o mais constante, o risco de que
ações parecidas se alastrem Brasil afora. Quando o senhor José Eduardo Cardozo
resolveu fazer proselitismo vulgar sobre o assunto, não atentou para os riscos.
Até porque os dados indicam que, proporcionalmente, São Paulo tem menos
bandidos na rua do que a maioria dos estados brasileiros - já que é aquele que
mais prende.
Tudo o que quer um bandido é ver a sua obra na TV. Negar a influência da
cobertura jornalística no comportamento das pessoas é besteira. Não estou aqui
a cobrar que a imprensa ignore os fatos. Ao contrário: têm de ser noticiados.
Não estou aqui a cobrar que a imprensa não aponte os erros e as falhas da
polícia quando existem. Ao contrário: têm de ser noticiados.
Mas estou, sim, a cobrar que se deixe claro qual é o alvo. O que, afinal
de contas, se procura, além de informar? Reforçar as boas práticas policiais,
denunciando as más, e contribuir para que a onda de crimes termine ou
desmoralizar os órgãos que respondem pela segurança pública?
Cuidado! Aberta a Caixa de Pandora, saem os monstros, e só a esperança
resta lá no fundo. É fácil botar fogo num país que tem 50 mil homicídios por
ano. Os bandidos já perceberam que podem contar com setores da imprensa como
aliados objetivos (ver o que significa um "aliado objetivo"). Não custa lembrar
que a publicidade máxima, com a desmoralização da ordem, é parte das táticas do
terror.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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