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quinta-feira, 19 de junho de 2025

O que Israel aprendeu - e os europeus ainda não

Israel percebeu que não podia ficar à espera de descobrir se os clérigos iranianos falam seriamente quando, como Khamenei fez em 2015, prometem que Israel deixará de existir até 2040. 

Por Rui Ramos para o Observador:

Na Europa, a guerra entre Israel e a teocracia iraniana não inspirou só comentários lamentáveis, como o de Marques Mendes. O chanceler alemão, por exemplo, reconheceu que Israel, ao tentar desarmar os ditadores do Irão, estava a fazer um "trabalho sujo" necessário para a segurança das "democracias liberais". Os demais líderes europeus não se permitiram tanta honestidade. Ursula von der Leyen lastimou que não se teimasse na "diplomacia". Emanuel Macron angustiou-se com o "vazio" que um eventual colapso da tirania iraniana poderia deixar no Médio Oriente.

Há dois anos, os líderes israelitas não eram muito mais sábios do que os europeus. Julgaram, em Gaza, que podiam coexistir com o Hamas. O Hamas todos os dias explicava que o seu objectivo era destruir Israel. Mas o governo israelita insistiu em ver o Hamas como um simples bando de mafiosos. A retórica anti-israelita seria apenas isso: retórica. No fundo, queriam enriquecer. Histórias sobre as fortunas pessoais de alguns chefes do Hamas pareciam demonstrar isso. Podia-se, portanto, negociar com eles, comprá-los, mantê-los quietos e satisfeitos. A 7 de Outubro de 2023, Israel descobriu que o Hamas acreditava mesmo no que dizia.

Foi então que os governantes israelitas perceberam que não podiam ficar à espera de descobrir se os clérigos iranianos também falam seriamente quando, como fez o ayatollah Khamenei em Setembro de 2015, prometem que Israel deixará de existir até 2040. Não é um projecto impossível. Mais de metade da população de Israel - 5,4 milhões - vive numa área equivalente à do nosso distrito de Faro. Alguns mísseis com ogivas nucleares bastariam talvez para um novo Holocausto. O Irão já tem os mísseis e poderia ter em breve o material para as ogivas. Deveria Israel confiar em que, apesar do que proclamam e juram, os mullahs só querem mesmo vender petróleo e receber comissões?

Nos EUA, a discussão é diferente da Europa. Nem por isso é melhor. O direito de Israel a defender-se é geralmente admitido. Mas alguns fãs de Trump, a que Steve Bannon e Tucker Carlson dão voz, recusam a colaboração dos EUA, caso seja necessária, para desarmar o Irão. Isso só interessaria a Israel, e, portanto, Israel que o faça sozinho. A intervir, os EUA estariam a começar outra guerra do Iraque. Bannon e Carlson, alinhados aqui com a esquerda radical, não são menos míopes do que Van der Leyen e Macron. Não estamos em 2003. Ninguém fala em invasões, mas, se for preciso, num ataque aéreo localizado. E não é verdade que o desarmamento do Irão só importe a Israel.

O Médio Oriente já não está longe e não é apenas uma questão de petróleo. As migrações maciças encheram o Ocidente de gente mobilizável pelos poderes apocalípticos do mundo islâmico. Há dez anos, o auge do terrorismo jihadista na Europa e nos EUA coincidiu com os triunfos do Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Esse terrorismo decaiu quando o Estado Islâmico foi vencido. A derrota da teocracia iraniana e das suas milícias em Gaza e no Líbano servirá para dissuadir os poderes locais hostis às democracias liberais, mas é também um meio de degradar a sua influência sobre quem, no Ocidente, poderia ser sensível ao seu exemplo, quando associado à força e coroado pela vitória.

Não se trata de exportar democracia para a região, como, sob pressão de Tony Blair, George Bush teve de imaginar em 2003. Trata-se de eliminar ameaças, como o programa nuclear iraniano, sem outras expectativas. Na Síria, o despotismo pró-iraniano dos Assad não deu lugar a uma democracia como a da Suíça. Mas o novo ditador islamista não diz que quer destruir Israel, e põe fato e gravata para cumprimentar Trump. É o que deve bastar ao Ocidente. Oxalá um dia os sírios e os iranianos passem a viver de outra maneira. Mas isso é com eles.

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