Por Paulo Monsieur
Era assim que o saudoso Ildásio Tavares o chamava. Simplesmente, Jonny. Um sujeito da melhor qualidade; e de muitos amigos. Seu monte de amigos decorria, em parte, de ele estar por todo canto. Dificilmente você deixava de encontrá-lo num botequim, onde quer que fosse. Dos toscos aos sofisticados. Sua universalidade e ubiquidade era proclamada por todas as classes sociais. Estava sempre rindo, solícito, amigável, encantador de serpentes, explorador de euforias, criador de encantamentos.
Um de seus maiores amigos chamava-se Tuna Espinheira. Cineasta e figura humana extraordinária, querida por toda a Metrópolis. Quando os dois se encontravam era uma maravilha: uma festa de dar arrepios! Que se colhesse risos à mancheia. E abraços. E histórias. E sabedorias. E tantas outras coisas. Algumas até indescritíveis. Acontece que os dois se encontravam sempre. Não todos os dias, é claro, pois não há quem não precise de alguns dias de descanso e de solidão. Mas podemos dizer que seus encontros eram contumazes.
Havia outros comparsas nesses encontros lúdicos. E aí era uma festa de amizade. Dentre eles, uns preferiam chamar o Jonny pelo seu prenome completo, na linguística de origem: Johnnie; outros se compraziam em tratar-lhe com a relevância da reverência britânica; ou melhor, escocesa: Johnnie Walker; eventualmente, até com um Sir na frente. Os mais abastados o preferiam vestido de preto, quando lhe aclamavam, amigavelmente, como Black. Os menos abastados preferiam que viesse de vermelho mesmo, sua vestimenta mais costumeira e afeita ao cotidiano dos cidadãos comuns. E então o minimizavam para um simples Red. Então, com Black ou Red, confraternizavam até não poderem mais.
O velho Tuna Espinheira, que hoje faria 77 anos, se não tivesse viajado para outras esferas, tinha algumas exigências no seu relacionamento com Jonny. Exigências que aos demais humanos não importava tanto. Só o aceitava em duplicidade. Não é o que estão pensando, não. O Jonny era um só, indivisível, indissolúvel. A duplicidade exigida por Tuna era na dosagem de amizade. Esta, sim, tinha de ser dupla. Principalmente a primeira, aquela que carregava os espíritos com os deuses da terra. Depois, se a oportunidade não falhasse, até que aceitava uma dose simples. Mas, ao menos, que fosse continuada.
Hoje seria um dia precioso para Jonny. A esta hora o saudoso Tuna já estaria mancomunado com ele, carregando um monte de outros amigos para casa ou para os botequins da vida para festejar a amizade. E que festejo! Era o dia de seus anos, um dia mágico, desembocado do Natal: 26 de dezembro. A maioria dos convidados naturais - os que nem quatro pedras, para descer leve. Tuna nem tava aí. Aliás, só ia acontecer de começar com uma quente, para descer rascante, arrancando a alma dos seus esconderijos secretos. Daí pra frente que viesse como fosse: com três pedras, gelada, fria ou novamente quente. Sua indeclinável exigência é que fosse dupla.
Estou aqui pensando o que seria de mim a tais horas se hoje não fosse hoje, mas 26 de dezembro de 2012, 13 ou mesmo 14. Em que parte estaríamos da festa? De quem seria a vez do discurso? De quem o abraço? De quem a declamação e o canto? Com qual parceira conviria a inevitável dança? E ao fazer estas perguntas fico meio engasgado, pois tudo parece inacreditável; parece que o que passou ainda não passou, ainda vai ter que passar, que o dia e a hora de Jonny não é hoje, mas amanhã, com certeza, e que todos estaremos lá. De mãos dadas e de copo na mão. Por isso, tim tim Tuna Espinheira! E viva o Jonny, que nos faz estar juntos novamente!
Texto de Paulo Monsieur, do Facebook
Enviado por Olney São Paulo Junior
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