Por Carlos Brickman
Juscelino
Kubitschek, presidente da República, tentou cassar o mandato de Carlos Lacerda,
o temível orador oposicionista. Este colunista ouvia os duelos entre Carlos
Lacerda e o baiano Vieira de Mello pelo rádio de ondas curtas. Valia a pena,
apesar do som horroroso. Adhemar de Barros e Jânio Quadros eram, mais que
adversários, inimigos; insultavam-se em discursos. Jânio chamou Adhemar de "rato". Lacerda duelou com o temível Leonel Brizola e com o presidente Castello
Branco - de quem disse que era mais feio por dentro do que por fora. Brizola,
duro adversário político do grande senador Paulo Brossard, chamava-o de "Ruy
Barbosa em compota".
São mais
de cinquenta anos de história, com adversários bons de briga, até com ameaças
de morte. Mas, nesse tempo todo, ninguém tocou na família do adversário, ou do
inimigo. O adversário era uma pessoa a ser combatida, mas sem chamar ao
picadeiro sua esposa e seus filhos. As ideias podiam ser destruídas, mas o tema
era política. "O Estado de S.Paulo", que não suportava Adhemar de Barros, se
referiu à sua esposa, Leonor Mendes de Barros, como "senhora de peregrinas
virtudes" - um elogio e tanto.
Não dá
para aceitar que, para atacar Bolsonaro, falem de sua esposa. Ataquem-no - a
ele. Quem governa é ele, não ela. O relacionamento entre ambos não é tema de
debate público. Quem faz jogo tão sujo aonde quer chegar? Política é cruel, mas
como tudo na vida tem de ter um limite ético.
Carlos Brickman é jornalista e consultor de comunicação
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