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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Exposição sobre Lutero reúne Bíblias raríssimas na Biblioteca Nacional

Bíblia de Lutero

A Biblioteca Nacional inaugurou, em 20 de dezembro, a exposição "Lutero: 500 Anos da Reforma", sobre o monge agostiniano e professor de teologia Martinho Lutero, os mistérios que envolvem sua pessoa e a Reforma Protestante - um cisma da Igreja Católica que mudou profundamente a Europa social e politicamente e o levou à excomunhão. A mostra permanece até 28 de fevereiro de 2018, de segunda-feira a sexta-feira, das 10 às 17 horas, e aos sábados das 10 às 15 horas.
A exposição apresenta material raro e inédito como manuscritos, imagens, bulas papais, as "95 teses" e Bíblias antigas, incluindo a Bíblia de Mongúcia que, pelo valor histórico, ficou exposta apenas no primeiro dia - um fac simile do original estará exposto nos outros dias.
As Bíblias expostas são raríssimas e separadas em duas categorias: vulgatas e traduzidas que se diferenciam pelo fato das vulgatas terem sido traduzidas e editadas por São Gerônimo - nesta categoria estão os fac-símiles da Bíblia de Gutemberg e a de Mogúncia, da qual a Biblioteca Nacional possui dois volumes e duas edições; nas Bíblias traduzidas há anotações e notas de rodapé, escritas por religiosos, estudiosos e até censores. Dentre estes exemplares, destacam-se a primeira edição da primeira Bíblia traduzida para o português, pelo padre João Ferreira de Almeida, e as edições de Bíblias que pertenciam a Dom Pedro II, com anotações do imperador.
As raízes dos cinco séculos da Reforma de Lutero estão evidenciadas na mostra através de uma direção de arte contemporânea, concebida por Suzane Queiroz.  Os corredores do terceiro andar da Biblioteca Nacional serão transformados em um túnel do tempo que convidará o visitante a uma experiência imersiva de viagem ao passado. Na sala de Obras Raras, no mesmo andar, estarão os documentos originais.
"A partir de um minucioso garimpo do vasto e raro acervo da Biblioteca Nacional, o público terá a oportunidade de entrar em um túnel composto por uma sequência de bandeiras e arcos ogivais que o levará a 500 anos atrás, no contexto da Alemanha à época da invenção da prensa por Gutenberg. Esse será o ponto de partida para o desenvolvimento da história da vida de Martinho Lutero, desde o seu nascimento até a sua morte aos 65 anos, através de seu percurso tanto acadêmico como religioso", explica Suzane.
A curadora Ana Virginia Pinheiro, chefe da divisão de Obras Raras da BN, ressalta o caráter polêmico da história de Lutero e, por isso, ela sabe que alguns textos que serão expostos poderão deixar muitos historiadores contrariados. "A história de Lutero é mal contada na literatura. O próprio personagem era contraditório; enquanto muitos de seus seguidores eram perseguidos e queimados em esfinge, ele vivia muito bem, protegido por um príncipe. Lutero era o santo e o demônio! Para os biógrafos católicos, era nefasto; para os protestantes, ídolo.
A exposição, explica, evita dar relevância aos seguidores e aos opositores de Lutero. "Ele é o centro. Mostraremos imagens inéditas, como a que ele está no colo de sua mãe, retratos conjeturais e outros feitos a partir do retratista dele". 
A seleção do material exposto foi feita de forma minuciosa, e mobilizou todos os setores da Biblioteca: Manuscritos, Iconografia, Obras Gerais, Periódicos e Obras Raras, que encabeça a curadoria. "Não pudemos pesquisar nem na cartografia, nem na música, que estão lacradas por causa das obras da fachada do prédio, mas mesmo assim encontramos nas Obras Raras mapas antigos e o hinário de Lutero - Castelo Forte -, que era também compositor, tocava flauta e alaúde. A colaboração dos funcionários foi fundamental para podermos montar a exposição em dezembro, mês da Bíblia. Foram digitalizadas duas mil imagens em uma semana, o que nunca tinha sido feito".
Além dos funcionários, Ana Virgínia apelou para pesquisadores da Biblioteca, como Pierre Bauer, que conseguiu traduzir a legenda da foto e identificar as pessoas sentadas com Lutero numa mesa, de uma equipe do professor Fabio Frau, da faculdade de línguas clássicas da UFRJ.
Algumas obras ainda estão em fase de restauro - como as 95 teses, documento fixado na porta de uma igreja, onde Lutero contestava a doutrina da igreja Católica de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências e que deu início à Reforma. Apenas os dois primeiros cadernos estão prontos e estarão na sala de Obras Raras.
A exposição revive também momentos históricos como as colonizações e as guerras europeias, e conta com um glossário de termos que auxiliará o visitante no entendimento da história.

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