Por Reinaldo Azevedo
O ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva está a caminho de ser réu pela terceira vez, de novo na
Justiça Federal de Brasília, onde é investigado sob a acusação de tentativa de
obstrução da Justiça no caso que envolve Nestor Cerveró. Ele teria participado da
tramoia para tentar comprar o seu silêncio. Na 13ª Vara Federal de Curitiba, é
acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É o caso do apartamento do
Guarujá.
No STF, é investigado no
inquérito-mãe que apura a existência de uma organização criminosa que tinha
como epicentro a Petrobras. Teori Zavascki, como se sabe, atendeu a pedido da
Procuradoria-Geral da República e o incluiu no inquérito. Nesta segunda, uma
nova denúncia, agora no âmbito da Operação Janus: Lula é acusado de ter criado
facilidades junto ao BNDES para beneficiar negócios da Odebrecht em Angola.
Crimes de que é acusado desta vez: organização criminosa, tráfico de
influência, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A possibilidade de que a
denúncia venha a ser aceita é enorme.
Muito bem! E qual tem
sido, invariavelmente, o comportamento dos seus defensores?
Acusar uma suposta
conspiração política que estaria em curso para incriminar o ex-presidente. Ele
próprio insiste nessa tecla em palanques por aí, quando sugere que estão tentando
tirá-lo da eleição de 2018. O curioso é que ele fala como se ainda fosse um
forte candidato. E, bem, todos sabemos que ele não é.
O conjunto de evidências
que vazam dessas investigações, inquéritos e denúncias contra Lula é
assombroso. Mas não serei eu o juiz. Que se proceda ao devido processo legal. O
que chega a ser espantoso é que advogados experientes insistam numa linha de
defesa que tem se provado um desastre.
Desde quando se anunciou
que o chefão petista poderia ser investigado, deu-se o grito de guerra: "Estão
querendo pegar Lula. Lula é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo". De lá pra
cá, reitero, duas denúncias aceitas, uma terceira a caminho, uma investigação
no Supremo e, bem…, sabe-se lá mais o quê.
Por que isso? Acho que
só a arrogância pode explicar. Em termos estritamente técnicos, a defesa não
prova a inocência. O que ela faz é tentar demonstrar a fraqueza da acusação,
descaracterizando as provas. Claro, havendo álibi, ele tem de ser apresentado.
Mais: se há vícios processuais, os defensores também têm de demonstrá-lo.
Reitero: estou tratando de questão técnica.
A defesa de Lula, no
entanto, elegeu a arena ideológica para combater, o que, sinceramente, é algo
incompreensível a qualquer ser razoável. Não adianta! A tese de que tudo não passa
de preconceito e de armação política se esfarela diante da pletora de
evidências de que uma organização criminosa comandava o poder. Os advogados do
ex-presidente podem até insistir que ele nada tinha a ver com isso. Mas é um
absurdo e uma perda de tempo tentar jogar tudo na conta da imaginação de
adversários e da conspiração.
O efeito tem sido
contraproducente, inclusive junto à opinião pública. O Lula inocente num mar de
lama já virou caricatura. Só serve para gerar memes na Internet. Açula a
criatividade da moçada, irrita os medianamente informados e humilha os já
humildes, que sabem que jamais terão a quem transferir responsabilidades.
Eu não tenho o menor
interesse em ensinar aos advogados de Lula como se faz a coisa certa. Até
porque não tenho expertise para isso. O que me interessa na estratégia da
defesa é estudar discursos, é a semiótica da coisa. Os advogados de Lula falam
como se houvesse na rua uma massa pronta a se sublevar e a tomar seu herói dos
braços da reação para alçá-lo em triunfo.
É chato ter de lembrar,
mas lembro: essa não é a função da defesa. Essas massas não existem.
Os doutores que o
defendem que tratem de voltar ao livro-texto da advocacia. Esse discurso
político não vai dar em nada. A não ser em cadeia.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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