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quarta-feira, 3 de junho de 2015

"O cuidado com os conceitos. Ou: Campanha de boicote ao Boticário é intolerante? Ou ainda: Foucault vetado em homenagem em universidade não é censura"


Por Rodrigo Constantino

Tenho algum cuidado com as palavras e seus conceitos, pois entendo sua importância no debate e na defesa da liberdade. Tanto é que dediquei um longo capítulo em "Esquerda Caviar" ao assunto, pedindo auxílio a diversos pensadores importantes. Não gosto de usar com muita elasticidade certas palavras, pois elas perdem seu significado dessa forma. Já os comunistas sempre gostaram de fazer o contrário: chamavam regimes ditatoriais de "repúblicas democráticas", por exemplo.
Confesso ao leitor que não acompanhei a polêmica envolvendo a campanha do Boticário com casais gays para o dia dos namorados, até porque estou (ainda) sem canal brasileiro de televisão aqui. Mas vi que o pastor Malafaia lançou, como resposta, uma campanha de boicote à loja de perfumes e colônias. Foi logo acusado de intolerante pela esquerda. Mas será mesmo um caso de intolerância?
Talvez. Dependendo do conceito usado para definir tolerância, claro, ele pode não "tolerar" esse tipo de campanha e ser acusado de intolerante pelo movimento LGBT. Mas será que o próprio movimento também não poderia ser acusado de intolerante por não tolerar a reação do pastor? Afinal, ele não pregou uso de violência, apenas um boicote, que não deixa de ser um ato voluntário do consumidor ao escolher não comprar naquela loja. O próprio Silas Malafaia explica seu ponto: (Vídeo acima)
Não tenho certeza  que Malafaia seja o mais intolerante nesse caso. Aliás, é curioso ver a esquerda acusando o pastor de intolerante pela campanha do boicote quando sabemos que ela costuma estimular várias campanhas de boicote a Israel, por exemplo. Duplo padrão? Um peso, duas medidas? Não acho a reação de Malafaia, nesse caso, adequada, e apesar de condenar a agenda do movimento gay como um todo, por entender que se trata de uma pauta contra a família tradicional em muitos aspectos, não vejo nada demais em uma campanha direcionada aos homossexuais. Mas me incomoda a hipocrisia da esquerda.
Outro caso interessante de uso das palavras é a facilidade com a qual a esquerda usa o termo "censura", sempre aplicado quando alguém se recusa a usar a própria propriedade para dar voz ou espaço às ideias socialistas. Vladimir Safatle, aquele que pretende ser uma espécie de Vladimir Lenin tupiniquim, acusou recentemente uma universidade católica de "censura" por não aprovar uma cátedra com o nome de Michel Foucault. Recebeu uma merecida resposta do coordenador do Núcleo de Fé da PUC-SP na Folha hoje:
Não aprovar uma cátedra não interfere na liberdade de ensino, pesquisa ou extensão. Deixar de homenagear uma pessoa é muito diferente de censurá-la. Não homenagear um autor que sempre foi crítico e até agressivo à Igreja, mas ainda assim manter o seu estudo e a sua memória viva é sinal de abertura e diálogo, não de obscurantismo.
[...]
O caso gerou celeuma fora da PUC-SP não porque a identidade católica seja obscurantista. Pelo contrário, o debate ocorre justamente porque a Igreja sempre soube se renovar e, a partir de sua identidade, criar uma instituição aberta à pluralidade, um dos pilares da liberdade de pensamento durante a repressão e que deseja continuar assim.
Num mundo repleto de identidades líquidas, pensamentos débeis e opiniões passageiras, incomoda uma instituição que há séculos acredita ter encontrado a verdade, mantém-se fiel à sua identidade e procura sempre se corrigir para estar mais a serviço do bem comum.
Francisco Borba Ribeiro Neto tem um ponto, e um ponto relevante. O que Safatle queria, em nome da "liberdade", é que um pensador não apenas crítico, mas revoltado com a igreja católica recebesse uma homenagem especial de uma universidade católica. E chama de "censura" e "obscurantismo" o ato legítimo dessa universidade se recusar a prestar tal homenagem a um de seus mais virulentos detratores. Será que o Psol de Safatle prestaria uma homenagem a Thatcher ou Reagan?
Sim, a universidade é um local de aprendizagem, de pluralidade, de troca de ideias, inclusive das mais nefastas e subversivas, como as do próprio Foucault, guru da defesa da imoralidade nos tempos modernos com a desculpa de combater o "sistema opressor". Mas como reconhece o autor da resposta, nada disso foi negado. Ao contrário: há Foucault (e Marx, e Adorno, e Habermas, etc) até demais em nossas universidades. Ele apenas não virou nome de cátedra, uma homenagem especial e desnecessária no caso.
Se em meu blog eu filtro comentários e decido que alguns não merecem passar, seja por excesso de estupidez ou pelas agressões chulas, isso é um direito meu, como proprietário do blog. Não é "censura" quando um socialista não tem permissão de ficar elogiando tiranos assassinos no meu blog. Ele que vá fazer isso em outro lugar. É livre para tanto. Não há censura aqui. Mas a esquerda finge não entender isso, pois adora se vitimar.
Enfim, intolerância, censura, liberdade, esses são conceitos que precisam ser bem esclarecidos antes de qualquer debate, para que João não diga uma coisa, e José compreenda outra, completamente diferente. Quem discordar e resolver me criticar com argumentos, será liberado. Quem simplesmente me atacar pessoalmente com adjetivos, será "censurado". E se não gostar, é livre para fazer uma campanha de boicote ao meu blog. Sou tolerante com esses intolerantes disfarçados de tolerantes!

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