Por Reinaldo Azevedo
A presidente Dilma Rousseff escolheu para a
coordenação política um nome que não pode ser demitido: Michel Temer,
vice-presidente da República. Ele vai incorporar as funções da pasta denominada "Relações Institucionais", ministério que havia se tornado meramente decorativo
na gestão da sucessora de Lula. Afinal, já foi ocupado pelo deputado Luiz
Sérgio - que saiu de lá para assumir a Pesca - e por Ideli Salvatti, que saiu
da Pesca para assumir o cargo. No novo mandato, a presidente inventou Pepe
Vargas, que não transita nem no PT. Vejam que curioso: se Dilma for impichada,
seu substituto é Temer - na hipótese de a aluvião não alcançá-lo. A
possibilidade do impedimento, hoje, é remota, sabe-se. Mas, em certa medida,
com a ida de Temer para a coordenação política, dá-se o impeachment parcial da
presidente e do petismo: a segunda área mais sensível do governo também sai das
mãos da mandatária e do PT. A primeira, a economia, já saiu - ou Joaquim Levy
representa o sonho de consumo dos companheiros?
A escolha de Temer é, dado o contexto
recentíssimo, uma boa saída do ponto de vista da presidente. Afinal, o dia
político raiou com uma humilhação e tanto para Dilma: Eliseu Padilha, ministro
da Avião Civil, recusou o convite para assumir as Relações Institucionais. Os motivos?
Percebeu que não contaria com o apoio efetivo dos principais líderes do PMDB.
Dilma havia costurado o seu nome com o próprio Temer, mas Eduardo Cunha (RJ),
presidente da Câmara, e Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, não
demonstraram nenhum entusiasmo. O primeiro afirmou que nada mudaria na relação
do partido com o governo. Padilha sentiu cheiro de carne queimada de um lado e
de outro: na pasta, sua autonomia seria relativa, em meio a tantos "coordenadores políticos"; no PMDB, sua voz não seria mais influente do que é
hoje.
Vamos ver: que Dilma precise fazer alguma coisa,
ah, isso precisa, não é? A patetice com a história de Padilha é um emblema
disso. Como é que uma presidente da República permite que um ministro seu
recuse publicamente uma mudança de pasta? Antes que a alternativa viesse a
público, alguém deveria ter feito as devidas consultas prévias. Não aconteceu.
Deu no que deu.
Procurem o noticiário de há uns 15 dias para
trás. Ele informa, e com correção - porque assim era -, que Temer estava
alijado das decisões. Dilma mantinha o seu vice a uma prudente distância por
razões que a razão desconhece. E os trapalhões ficavam lá, tomando olé ora de
Cunha (no mais das vezes), ora de Renan (às vezes). Temer tem esse poder
todo no PMDB? A resposta, como todo mundo sabe, é "não". Ele endossava o nome
de Padilha, por exemplo; foi consultado. Também deu no que deu. Em passado não
muito distante, chegou a ser acionado para tentar impedir a candidatura de
Cunha à presidência da Câmara. O resultado também é conhecido. Não é, e todo
mundo sabe, o nome com mais influência no PMDB.
Mas é claro que a relação de Dilma com o PMDB
passará por uma acomodação. Mas não contem com a possibilidade de Cunha perder
seu protagonismo. Não vai acontecer, a menos que colhido por fatores outros.
Não contem com a possibilidade de Renan desistir de ter uma agenda com a sua
marca, a menos que… Nem partam do princípio de que, assim, se realiza o sonho
de Lula: entregar o Planalto ao PMDB, que garantiria a governabilidade, enquanto
ele cuidaria da própria candidatura à Presidência em 2018.
Anotem aí: uma coisa hoje une todos os
peemedebistas, de qualquer quadrante, de qualquer corrente, de qualquer
vertente - e isso inclui Temer e até o veteraníssimo José Sarney: o partido já decidiu
que não vai preparar a cama de Lula para a próxima disputa presidencial. Todas
as prefigurações caminham para uma candidatura própria à Presidência. Ou, na
expressão de Cunha, "time que não joga não tem torcida".
Com Temer na coordenação política, o número de
vexames do governo Dilma no Congresso tende a ser menor. Mas pensem num PMDB,
reitero, que não quer ser mais um mero mordomo ou um eunuco da corte persa
do petismo.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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