Por Reinaldo
Azevedo
Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência,
concedeu uma entrevista à BBC Brasil. O rapaz que o
entrevistou está notoriamente à sua esquerda, e isso fez com que o petista
parecesse até sensato às vezes. Na verdade, não se trata exatamente de uma
entrevista, mas de um diálogo de fundo moral entre um jovem radical, o tal rapaz,
e o velho militante, que já conhece a vida. Os fatos deixam de ter importância,
e o que vale é a agenda. A quantidade de bobagens que há nas perguntas e nas
respostas diz um tanto da qualidade de certa imprensa e da qualidade do
governo. Mas cuido desses aspectos outra hora. Agora, quero dar relevo ao
Gilberto Carvalho que milita contra Dilma Rousseff.
A presidente tem alguns pepinos gigantescos pela
frente, e é claro que ela sabe disso. Num cenário hoje realista, a economia
pode crescer menos de 1% no ano que vem e com pressão inflacionária. Ninguém
sabe o que vai sair da caixa de Pandora da Operação Lava Jato. Pode estar sendo
gestada a maior crise política desde a volta da democracia. As demandas sociais
tendem a crescer, e a mandatária não tem mais folga fiscal para fazer milagres.
Se não chover o suficiente, há risco de crise energética, que só não deu as
caras porque o país parou de crescer. Será que dá para ter alguém como Gilberto
Carvalho conspirando contra o governo na cozinha do Palácio do Planalto? Acho
que não.
Na entrevista à BBC Brasil, o ministro não se fez
de rogado. Aproveitando que falava a alguém ainda mais esquerdista do que ele
próprio, com ainda mais viseiras, Carvalho se sentiu à vontade para criticar o
governo Dilma na comparação com o antecessor. Afirmou: "O governo da presidenta
Dilma deixou de fazer da maneira tão intensa, como era feito no tempo do Lula,
esse diálogo de chamar os atores antes de tomar decisão; de ouvir com cuidado,
e ouvir muitos diferentes, para produzir sínteses que contemplassem os
interesses diversos. Há uma disposição explícita da presidenta em alterar essa
prática".
Ocorre que a farra que permitiu a Lula "dialogar" acabou. O modelo ancorado no consumo entrou em colapso, e o erro da presidente,
ao contrário do que diz Carvalho, foi tentar insistir em mais do mesmo, em vez
de mudar. Dilma não errou ao se afastar do modelo Lula. Ela errou foi em
insistir no modelo Lula. Se Carvalho não estivesse apenas fazendo baixa
política, estaria dizendo uma tolice. Burro ele não é.
Num país que viverá dias turbulentos na economia,
Carvalho deixa claro que a sua agenda é exacerbar as questões indígena e
agrária, por exemplo. Não só isso: ele quer também a militância na rua,
atropelando e pressionando o Congresso. Leiam o que disse: "Outro aspecto é a
governabilidade social. A eleição mostrou o quanto a militância social está
disposta a ir para a luta. É um fator que teremos de trabalhar para fazer
avançar processos, sobretudo a reforma política. Se não tiver rua, se não tiver
mobilização, não tem nenhuma esperança de passar nesse Congresso".
Entenderam por que, crescentemente, os deputados
querem Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Presidência da Câmara?
O governo tem hoje dificuldade para conseguir fazer
com que o partido oficial consiga emplacar o presidente da Casa, e Carvalho, o
secretário-geral da Presidência, está sonhando com modelos que levem as ruas a
pressionar o Parlamento - tudo, aliás, conforme aquela resolução aloprada do
PT.
Se Dilma não demitir Gilberto Carvalho e não isolá-lo,
criando um cordão sanitário que o impeça de chegar no governo, ela vai se meter
numa grande enrascada. Na entrevista, ele aproveita para pedir emprego: diz que
continua no governo se for convidado. Indagado se poderia ir para alguma
embaixada, brinca: "Só se for a do Afeganistão".
Não precisa tanto. Dilma pode mandá-lo para o
Cazaquistão. Quem sabe ele não se encontre com o Borat por lá.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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