Por
Reinaldo Azevedo
Acabou a moleza para Marina Silva. Se querem saber, isso é bom.
Não estou, não agora, a fazer juízo de valor sobre candidaturas. O que estou a
afirmar é outra coisa: quanto mais os temas forem realmente debatidos, melhor.
No horário eleitoral desta terça-feira, a petista Dilma Rousseff e o tucano
Aécio Neves acordaram para a realidade e passaram a questionar os postulados da
candidata do PSB. Isso é bom. Quem sabe as coisas se aclarem.
A propaganda do PT lembrou que Marina teria hoje 33 deputados na
Câmara. A aprovação de um projeto de lei requer um mínimo de 129; a de uma
emenda constitucional, de 308 - além de 49 senadores. Com duas votações na
Câmara e no Senado. A lembrança faz sentido? É claro que sim! Boa parte das
mudanças com as quais Marina acena depende da aprovação do Congresso. Como ela
pretende conquistar essa maioria sem negociar com os partidos? "Ah, mas ela vai
fazer a devida interlocução", poderiam dizer seus seguidores. Pois é… Por
enquanto, ela se apresenta como a "nova política" contra tudo o que está aí,
que seria a velha.
Os petistas chegaram até a pegar carona numa lembrança que fiz
aqui: o país só elegeu dois presidentes, até agora, que anunciaram a disposição
de governar acima dos partidos: Jânio Quadros e Fernando Collor. O primeiro deu
no que deu, e o segundo também. Não me incomodo que os petistas tenham colado
meu argumento. A questão é procedente. O locutor do programa do PT tenta lançar
a dúvida na cabeça do eleitor: "Como é que você acha que ela vai conseguir esse
apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para
negociar?".
Os petistas insistem ainda que Marina Silva dá pouca bola para o
pré-sal em seu programa de governo. Pesquisas feitas pelo partido apontam que
esse é um tema "que cola". No debate de ontem, promovido pela Jovem Pan, Folha,
UOL e SBT, Dilma atacou Marina por esse flanco, mas acabou sendo vítima do
contra-ataque. Em sua resposta, a candidata do PSB lembrou os desmandos na
Petrobras.
O programa de Aécio repetiu a propaganda de sábado e deu
destaque à inexperiência de Marina: "Tem gente que acha que é só tirar o
PT do governo e tá tudo resolvido". Aí ele diz por que não pode ser assim. Para
governar, alerta, é preciso ter "ideias sólidas, experiência e força política".
Muitos leitores podem se perguntar: "Mas, Reinado, esse
negócio de uns ficarem atacando os outros não é ruim para o Brasil, não rebaixa
a política?". Meus caros, desde que as questões sejam pertinentes, não! Notem:
quando Marina acusa os políticos de fazer acordos muitas vezes espúrios, contra
o interesse da população, é claro que diz algo procedente. Em parte, isso é
mesmo verdade. Mas não é menos verdadeiro que inexiste política sem negociação,
aqui ou em qualquer parte do mundo.
Marina tem, sim, de responder por suas propostas, a exemplo de
outro candidato qualquer. É saudável que Dilma e Aécio a provoquem para o
confronto de ideias, desde que seja com questões procedentes. E é bom não
confundir esse procedimento com golpe sujo. Tentar, por exemplo, transformá-la
em homofóbica, a exemplo do que já fazem grupos de pressão ligados ao petismo,
isso, sim, é baixaria e deve ser repudiado. Já o debate franco só torna melhor
a democracia.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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