Denúncias atingem o
governo em cheio e também podem prejudicar candidatura de Marina Silva. Tucanos
veem chance de reação
As quatro
últimas semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial devem ser ainda
mais movimentadas depois que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e
Abastecimento da Petrobras, firmou um acordo de delação premiada. Conforme
revelou VEJA nesta semana, ele citou os políticos beneficiados pelo esquema de
corrupção na estatal em depoimento à Polícia Federal. A investigação sobre o
escândalo da Petrobras pode alterar o panorama justamente quando a campanha
entrava no momento de consolidação dos votos.
Em
acordos de delação premiada, o depoente se compromete a não omitir qualquer
informação relevante de que dispuser. E precisa sustentar as acusações que faz.
Disso depende o abatimento da pena a que ele será submetido.
Evidentemente,
os políticos citados nominalmente por Costa como beneficiários do esquema devem
ser os mais afetados: isso inclui o presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB), que disputa o governo do Rio Grande do Norte.
Mas
a crise se coloca, sobretudo, no caminho da reeleição da presidente Dilma
Rousseff, candidata à reeleição pelo PT. Paulo Roberto Costa foi nomeado para o
cargo na Petrobras por Lula, em 2004, e ficou no cargo até 2012 - já no governo
atual, portanto. Além disso, o tesoureiro do PT, João Vaccari, é citado pelo
ex-diretor como uma das pessoas que captaram dinheiro no esquema. Praticamente
todos os citados no escândalo são aliados da presidente.
A
revelação de detalhes sobre os desvios em escala industrial pode atingir a
popularidade de Dilma. Eles são a confirmação de que a crise na Petrobras não é
fruto de acidente ou deslize, mas resultado de uma política consciente de
loteamento de cargos-chave da administração da companhia.
Como
Paulo Roberto Costa também mencionou o nome do ex-governador Eduardo Campos,
ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência morto em 13 de agosto,
entre os envolvidos no esquema, a campanha de Marina Silva pode ser afetada. No
mínimo, a candidata do PSB deve ficar impossibilitada de explorar o caso
eleitoralmente.
Ao
tucano Aécio Neves, o episódio se desenha como uma oportunidade - talvez a
última - de reagir nas pesquisas de intenção de voto. É nisso que os tucanos
apostam agora.
Já
na manhã de sábado, os três candidatos demonstraram como pretendem lidar com
o caso. Aécio
Neves divulgou um vídeo em que chama o episódio de
‘mensalão 2’. Dilma
adotou um discurso cauteloso: "Eu gostarei de saber
direitinho quais são as informações prestadas nessas condições e te asseguro
que tomarei as providências cabíveis", disse a candidata. Marina
Silva tratou de se desvincular do episódio e deve deixar
que o partido responda os questionamentos sobre o escândalo.
O
professor João Paulo Peixoto, do Instituto de Ciência Política da Universidade
de Brasília, acredita que o PSDB pode se beneficiar das revelações. O caso,
segundo ele, dá uma última esperança a Aécio de se consolidar como a
alternativa mais viável que o PT e chegar ao segundo turno. "Eu tendo a
acreditar que o PSDB vai crescer com a transformação das outras candidaturas em
alvo", diz Peixoto. Entretanto, o professor avalia que ainda é cedo para
avaliar se Aécio Neves pode ultrapassar uma de suas adversárias na corrida
presidencial.
As
últimas pesquisas mostram que Dilma Rousseff tem pouco mais de um terço do
eleitorado. É aproximadamente o potencial de votos mínimo do PT em eleições
presidenciais: são os petistas históricos, lulistas convictos e beneficiados
pelo Bolsa Família – que dificilmente mudariam seu voto. Por isso, o eleitorado
de Marina Silva se apresenta como o campo prioritário para as ofensivas de
Aécio.
Nos
próximos dias, portanto, conforme novos detalhes do escândalo surgirem e as
informações se consolidarem na cabeça do eleitor, a turbulenta eleição de 2014
pode sofrer novas guinadas. "A instabilidade do quadro político brasileiro
é evidente", diz o professor da UnB.
Fonte: http://veja.abril.com.br/
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