Bandeira de Israel na multidão que acompanhou enterro dos três
jovens judeus (Finbarr O’Reilly/Reuters)
Por
Reinaldo Azevedo
Uma multidão como raramente se viu em Tel-Aviv, em Israel, acorreu
para as cerimônias fúnebres dos jovens Naftali Fraenkel, Gil-Ad Shaer e Eyal
Yifrah, assassinados a tiros pelo Hamas. Os corpos, depois, foram queimados. O
governo israelense prometeu prender os assassinos. Só para deixar claro: os
alvos atacados por forças israelenses na Faixa de Gaza nada têm a ver com essa
tragédia. Trata-se de uma reação ao lançamento de mísseis. Ainda não está claro
qual será a resposta do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Seja lá qual
for, conta com a solidariedade de um país chocado e indignado.
O Hamas, com a canalhice moral peculiar a grupos terroristas, nem
assumiu nem negou a autoria dos atentados - praticado, muito provavelmente, por
uma milícia sua aliada, que atua na Cisjordânia. Mundo afora, e eu não esperava
outra coisa nestes dias de moral torta, os apelos por uma resposta branda de
Israel são bem superiores e mais eloquentes do que a condenação ao ataque
brutal. E não me venham com a história de que o repúdio a ações dessa natureza
são um pressuposto. Não são, não!
Eu não tenho especial simpatia pelo atual governo israelense e
muitas das correntes que o apoiam, mas acho realmente asqueroso que se tente
inverter o peso das responsabilidades. Aqui e ali já li textos sugerindo - e um
colunista chega a apelar a um blogueiro judeu (claro!) para não ter de assumir
ele mesmo a tese - que, não houvesse os assentamentos judaicos na Cisjordânia,
coisas assim não aconteceriam. É estupefaciente! Isso corresponde a
responsabilizar a vítima e a absolver o algoz. Mais: trata-se de uma mentira
rematada! Basta saber o que é e o que quer o Hamas. Basta ler seu estatuto,
cuja íntegra já publiquei em meu blog. Que
tal isto: "Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça
desaparecer, como fez desaparecer todos aqueles que existiram anteriormente a
ele"? Bastante eloquente, não é mesmo?
Israel saiu inteiramente de Gaza, pondo a polícia contra seus
próprios cidadãos para desocupar assentamentos. Obra, ora vejam!, do "falcão"
Ariel Sharon, que levou a tese adiante com a oposição de importantes setores da
política israelense. E o que se viu na sequência? O Hamas deu um golpe e
transformou a região numa espécie de campo de treinamento do terror. Os
adversários internos do Fatah não foram tratados com muito mais gentileza do
que tratariam aqueles a quem chamam "sionistas". Sem a força militar
israelense, a Faixa de Gaza se converteu numa base de lançamento de mísseis. E
isso é apenas um fato. Como é um fato que o tal muro fez cair drasticamente o
número de atentados terroristas.
Noto também certo esforço para tentar limpar a barra de Mahmoud
Abbas, o presidente da Autoridade Palestina e líder máximo do Fatah. Há até a
conversa, veiculada pela CNN, segundo a qual um grupo chamado Ansar as-Dawla
al-Islamiya, que se responsabilizou pelo ataque, teria ameaçado destruir a
própria AP… Desculpem-me, mas já vivi demais para cair nessa conversa. Abbas
celebrou em abril um entendimento com o Hamas. Quem se "entende" com o Hamas,
sendo o grupo o que é, incorpora o terrorismo, o sequestro, as execuções
sumárias - e aquele tal credo - como parte aceitável da "luta".
É claro que os três jovens poderiam ter sido sequestrados e mortos
ainda que não tivesse havido o acordo. Mas houve. "Abbas não pode ser
responsabilizado por atos delinquentes isolados!", diria alguém. Não se trata
de ato isolado. O crime é parte do credo do Hamas e dos grupos sobre os quais
exerce influência.
O ponto é rigorosamente este: dado o atual estágio da aproximação
entre a Abbas e o Hamas, não há menor chance de avançar qualquer coisa parecida
com, sei lá, prenúncios da paz. E um evento como o assassinato dos três rapazes
só torna ainda mais difícil a pregação dos moderados. Eventos assim impõem que,
antes de que se fale mda paz, se dê uma resposta a quem quer a guerra. e ela
será dada.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário