Por Reinaldo
Azevedo
A Polícia Militar da Bahia entrou em greve na noite de
terça-feira. Imediatamente, o caos se espalhou por Salvador e outras cidades,
com saques, assaltos, arrastões. E, como está virando já um hábito, foi preciso
apelar às Forças Armadas. No ano da demonização dos militares, campanha
inequivocamente comandada pelos petistas, foi preciso apelar aos soldados para
manter a ordem mínima que o "civilismo" do petista Jaques Wagner não consegue
garantir ao povo baiano. E deixo claro: não apoio greve de gente armada. Aliás,
sou contra greve de servidores públicos, não importa o setor. Isso não impede
que se pense o desastre a que o governo petista conduziu a segurança pública na
Bahia. Já volto ao ponto. Antes, vou relembrar aqui uma foto. Vejam.
Esse que se vê acima, de arma em punho, é o subsecretário de
Segurança Pública da Bahia, Ari Pereira. O busílis é o seguinte: em setembro,
os incivilizados do MST resolveram invadir a secretaria, partiram pra porrada
mesmo. O secretário, então, sacou a arma e atirou. Dentro do prédio! Fosse um
governo, como dizem as esquerdas, "reacionário, conservador e de direita", a
imagem teria circulado freneticamente na rede. Em 2007, o tucano José Serra fez
uma visita ao Gate, da Polícia Militar. Era uma homenagem em razão de uma
operação antissequestro bem-sucedida. De brincadeira, pegou um fuzil e fez de
conta que estava mirando um alvo. O PT, acreditem, em nota oficial, repudiou essa "grave atitude" do então governador. Segundo os valentes, a imagem incentivava
a violência. A imprensa e os colunistas petistófilos fizeram a festa. Vocês
sabem como a hipocrisia custa barato a esse partido e a essa gente. Com a foto
acima, nada aconteceu. E, no entanto, ela é um emblema do desastre que é a área
de segurança pública no governo do companheiro Jaques Wagner. Que se note: o
MST, repelido a bala, tem uma secretaria no governo da Bahia e já foi farta e
literalmente alimentado pelo próprio governo quando invadiu a Secretaria de
Agricultura do Estado: era tanta carne que os invasores improvisaram um varal
para secá-la ao sol. O conjunto da obra parece governo, mas é só uma bagunça.
Escreveu o poeta baiano Gregório de Matos no século 17: "À Bahia aconteceu/ O que a um doente acontece:/ Cai
na cama, e o mal cresce". É isto: a Bahia caiu de cama quando
Wagner venceu a eleição, em 2006 - reeleito em 2010. E, de lá para cá, o mal só
lhe tem crescido. Vencerá de novo? Não sei. A democracia pode não ser o melhor
remédio, mas é o único aceitável. E tem, obviamente, um custo.
Em nenhum outro estado do país o desastre na segurança pública é
tão evidente como na Bahia, pouco importa o índice que se queira analisar. Com
mais de 42 milhões de habitantes, São Paulo registrou 5.180 mortes violentas
(latrocínios, homicídios e lesão seguida de morte) em 2012, segundo o Anuário
da Segurança Pública com dados de 2012. Com pouco mais de 15 milhões, houve
5.764 ocorrências na Bahia. Assim, a taxa por 100 mil habitantes no Estado
governado por Wagner situa-se entre as maiores do país: 40,7 por 100 mil,
contra 12,4 de São Paulo.
"Por que falar da Bahia? Só para pegar no pé do PT?" Não! Só para
ser óbvio. Os petistas prometeram, na disputa eleitoral de 2010, dar uma
resposta eficaz à segurança pública. Dilma, reitero, anunciou uma revolução na
área. Wagner governa o estado, diz, em parceria com o governo federal e
PRATICAMENTE SEM OPOSIÇÃO. A Bahia é um estado rico, mas que concentra um
grande número de pobres; tem à sua disposição tudo o que pode oferecer a
modernidade, mas também bolsões de atraso. É uma boa síntese do Brasil. Ali os
petistas poderiam demonstrar a sua expertise na área. Em vez disso, nos sete
anos de governo do partido, a violência explodiu.
Esses números não são produzidos por acaso. Embora tenha um dos
maiores índices de homicídios do país, a Bahia é o segundo estado que menos
prende bandido - só perde para o Maranhão da família Sarney, onde há muito
bandido solto. A taxa de encarceramento de pessoas maiores de 18 anos na Bahia
é de 134 por 100 mil habitantes. Só para comprar: a de São Paulo é de 633. Sim,
números, nesse caso, são argumentos fortíssimos.
Quando se consideram, então, os dados de um outro levantamento, do
Mapa da Violência, a gente se dá conta da tragédia baiana. No ano 2000, o
estado tinha, vejam tabela abaixo, 9,4 motos por 100 mil habitantes; em 2010,
já eram 37,7%. Quanto Wagner assumiu, era de 23,5. Em 2010, já tinha havido um
crescimento de 60%. Em 2012, segundo o outro levantamento, o anuário, a taxa de
mortes violentas passou de 40 por 100 mil, muito acima até da já escandalosa
média brasileira, que é de mais ou menos 26. Só para comparar: Na Alemanha, é
de 0,8. No Chile, 3,2. Mata-se no Brasil 31,5 vezes mais do que no primeiro
país e sete vezes mais do que no segundo.
Segundo Wagner, a greve tem uma "motivação política". Huuummm,
entendi. Ele deveria dar nome aos bois. Os petistas entendem disso. Eles não
gostam de um monte de coisas neste blog. E eu compreendo os seus motivos. Mas
detestam mesmo é a minha memória. Na greve de parte da Polícia Civil em São
Paulo, em 2008, na gestão Serra, vejam quem estava fazendo proselitismo em cima
de carro de som, segundo informa a Folha:
Encerro
Como a gente nota, quando a greve atrapalha a gestão
petista, é tudo tramoia política. Se é contra adversários, aí se trata apenas
de "apoiar companheiros".
A Bahia vai votar em 2014. Vota, Bahia, vota!
Para encerrar: na campanha de 2010, Dilma prometeu espalhar o
modelo de segurança pública do Rio país afora. Parte do Rio, na prática, está
sob necessária intervenção das Forças Armadas. Outra referência de competência
na área é a Bahia, que também teve de se render aos soldados. Que coisa, né? Em
certo sentido, o petismo é o caminho mais curto entre a política e os quartéis.
Não é ideologia, não. É só incompetência mesmo.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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