Por Ion Mihai Pacepa (*)
O livro "The Devil in History:
Communism, Fascism and Some Lessons of the Twentieth Century", do professor
Vladimir Tismaneanu, é o livro definitivo sobre estas duas pestes bubônicas.
Extremamente documentado e elegantemente escrito, traz à luz não apenas as
semelhanças ideológicas entre fascismo e comunismo mas também os métodos de
manipulação semelhantes usados por ambos para criar movimentos de massa
destinados a fins apocalípticos.
Eu vivi
tanto sob o Terceiro Reich quanto sob o Império Soviético e sei que um mero
mortal qualquer que ousasse traçar um mínimo paralelo entre comunismo e nazismo
acabaria atrás das grades - se tivesse sorte. Os nazistas, indignados,
descartavam qualquer relação com o comunismo, do mesmo modo como os comunistas,
nervosamente, rejeitavam qualquer comparação com o nazismo/fascismo. Mas não os
seus líderes. No dia 23 de agosto de 1939, quando o ministro das Relações
Exteriores soviético, Vyacheslav Molotov, e o seu colega alemão equivalente,
Joachim von Ribbentrop, se reuniram no Kremlin para assinar o infame Pacto de
Não-agressão Hitler-Stalin, Stalin estava eufórico. Ele disse a Ribbentrop: "O
governo soviético leva muito a sério este novo pacto. Eu posso garantir, sob a
minha palavra de honra, que a União Soviética não trairá o seu parceiro". (John
Toland, "Adolf Hitler" (New York: Doubleday, 1976, página 548)
Havia muitas razões para Stalin
estar alegre. Tanto ele quanto Hitler acreditavam na necessidade histórica de
expandir o território dos seus impérios. Stalin chamava isso de "revolução do
proletariado mundial". Hitler chamava de "Lebensraum" (espaço vital). Ambos
basearam as suas tiranias no roubo. Hitler roubou a riqueza dos judeus. Stalin
roubou a riqueza da igreja e da burguesia. Ambos odiavam religião, e ambos
substituíram Deus pelo culto às suas próprias pessoas. Ambos eram também
profundamente anti-semitas. Hitler matou cerca de seis milhões de judeus. Durante
a década de 1930, apenas Stalin - oriundo da Georgia, onde os judeus haviam
sido escravos até 1871 - prendeu cerca de sete milhões de russos (a maior parte
judeus) sob a acusação de espionagem a serviço do sionismo americano e os
matou.
"The Devil In History" não é o primeiro livro a estudar a relação entre
fascismo e comunismo, mas é o primeiro escrito por um eminente estudioso em
cujo sangue correm os genes dos dois movimentos. Os pais de Vladimir Tismaneanu
lutaram pelo fascismo nas Brigadas Internacionais durante a Guerra Civil
Espanhola, viveram em Moscou durante a Segunda Guerra Mundial como ativistas
comunistas, compreenderam as tragédias provocadas pelo comunismo e terminaram a
vida profundamente desencantados. O próprio Vladimir foi seduzido pelo marxismo
(especialmente pelo neo-marxismo da Escola de Frankfurt) até deixar a Romênia,
aos 30 anos de idade, em 1981. Ele se tornou professor anti-comunista
especialista em estudos soviéticos e do leste europeu quando o
marxismo-leninismo estava com força total e chefiou a Comissão Presidencial da Romênia
para o Estudo da Ditadura Comunista em seu país, que condenou fortemente as
atrocidades do comunismo. O primeiro livro de Vladimir em inglês foi publicado
em 1988. O título é revelador - "The Crisis of Marxist Ideology in Eastern
Europe: The Poverty of Utopia". Quando muitos kremlinologistas focavam os seus
estudos nas elites comunistas e nos conflitos mortais, Tismaneanu percebeu que
o comportamento das elites era explicado pelo sistema de crenças leninista. Os
líderes comunistas eram assassinos, sem dúvida, mas eram assassinos com uma
ideologia. Nicolae Ceausescu, a quem conheci muito bem, era um comunista
fanático que acreditava realmente que o comunismo estava do lado certo da
história.
"The Devil In History" é tanto um
livro sobre o passado quanto um livro sobre o futuro. Em novembro de 1989,
quando o Muro de Berlim foi derrubado, milhões de pessoas gritaram: "O comunismo
morreu". O comunismo soviético, como forma de governo, realmente morrera. Mas
uma nova geração de pessoas, cujo conhecimento da vida sob o comunismo é pouco
ou nulo, está tentando dar a esta heresia, agora vestida em trajes socialistas,
uma nova vida na França, Grécia, Espanha, Portugal, Venezuela, Argentina,
Brasil e Equador, e poucas pessoas estão prestando atenção a este fato. Em 15
de fevereiro de 2003, milhões de europeus tomaram as ruas, não para celebrar a
liberdade desfrutada graças à luta dos americanos para impedir que eles se
tornassem escravos soviéticos, mas para condenar o imperialismo americano,
conforme descrito em "Empire" (de Michael Hardt e Antonio Negri, Harvard
University Press, 2000), livro cujo co-autor, Antonio Negri, um terrorista
disfarçado de professor marxista, esteve preso pelo envolvimento no sequestro e
assassinato do primeiro ministro italiano Aldo Moro. O jornal The New York
Times chamou o atual Manifesto Comunista de Negri de "o livro quente e
inteligente do momento". (David Pryce-Jones, "Evil
Empire, The Communist 'hot, smart book of the moment'", National Review Online,
17 de setembro de 2001).
Durante 27 anos da minha outra
vida, na Romênia, eu estive envolvido em operações destinadas a criar inúmeros
Antonios Negris para desempenhar o papel de guerreiros da Guerra Fria em toda a
Europa Oriental e usá-los para jogar a região contra os Estados Unidos. "The
Devil In History" é um estudo enciclopédico sobre como a máquina de
desinformação soviética e pós-soviética usou aqueles Negris para converter o
antigo ódio europeu pelos nazistas em ódio aos Estados Unidos, o novo poder de ocupação.
Em 1851, quando Luís Bonaparte, o
vil sobrinho de Napoleão, tomou o poder na França, Karl Marx disse a sua agora
famosa máxima: "A história sempre se repete, a primeira vez como tragédia, a
segunda como farsa". "The Devil In History" documenta os atuais esforços dos
esquerdistas para reviver as mentiras soviéticas, e isto mostra a sua ridícula
natureza.
"The Devil In History" tem não
apenas importância ideológica mas também histórica, pois torna o seu autor,
Vladimir Tismaneanu, uma versão americana conservadora de Eric Hobsbawm, o mais
respeitado historiador britânico.
Hobsbawm, morto há pouco com a
venerável idade de 95 anos, era um polímata erudito, um esplêndido pesquisador
e um excelente escritor. Infelizmente, também resolveu ser um marxista
profissional e os marxistas são, por definição, mentirosos. Eles são obrigados
a mentir porque a realidade de todas as sociedades marxistas tem sido
devastadora, a um nível espantoso. Mais de 115 milhões de pessoas foram mortas
em todo mundo na tentativa de manter vivas as mentiras do marxismo.
O quarteto de livros mais
respeitado de Hobsbawm, "The Age of Revolution" e "The Age of Extremes", aos
quais dedicou a maior parte da sua vida, também são uma mentira: apresentam a
história da revolução marxista soviética, evolução e 'descentralização' (evolution
and devolution) que ignoram totalmente os gulags. São como uma história do
nazismo ignorando o Holocausto, ou uma história do Egito desconsiderando os
faraós e as pirâmides. Hobsbawm filiou-se ao Partido Comunista Britânico em
1936, e nele permaneceu mesmo após o seu eterno ídolo, a União Soviética, ter
sucumbido. Hobsbawm jamais retirou a sua filiação ao Partido Comunista. Ele
explicou: "O Partido… teve o primeiro, ou mais precisamente, o único direito
real das nossas vidas… As exigências do Partido têm prioridade absoluta… Se ele
mandar você abandonar a namorada ou a esposa, você deve fazê-lo".
Vladimir Tismaneanu também se
filiou ao Partido Comunista quando jovem - como eu fiz - mas rompeu com o
partido quando o comunismo ainda estava com força total - como eu fiz - e expôs
os seus males ao resto do mundo - como eu também fiz. A bem da verdade, devo
registrar a minha imensa admiração por Tismaneanu e dizer que o considero um
bom amigo, embora jamais tenhamos nos encontrado. Sob o meu ponto de vista, ele
é o maior especialista em comunismo romeno e um dos maiores estudiosos do mundo
sobre o Leste Europeu. O seu "Stalinism For All Seasons" é o mais amplo estudo
sobre o comunismo romeno e o seu "Fantasies of Salvation: Democracy,
Nationalism, and Myth in Post-Communist Europe" recebeu o prêmio
romeno-americano da Academy of Arts and Sciences. Por sua incansável atividade
de pesquisa, Vladimir Tismaneanu tornou-se um membro do prestigioso Institut
fur die Wissenschaften von Menschen em Viena, Áustria, e recebeu o título de
Public Policy Scholar do Woodrow Wilson International Center for Scholars.
A despeito da cobertura da
imprensa sobre a corrida nuclear durante a Guerra Fria, nós, no topo do serviço
de inteligência do bloco soviético naqueles anos, lutamos, naquela guerra, pela
conquista das mentes - na Europa, na esquerda americana, no Terceiro Mundo - pois sabíamos ser impossível ganhar as batalhas militares. A Guerra Fria acabou
realmente, mas, diferentemente das outras guerras, não terminou com um inimigo
derrotado depondo as armas. No ano 2000, alguns dos meus antigos colegas da KGB
tomaram o Kremlin e transformaram a Rússia na primeira ditadura de inteligência
da história. Mais de seis mil antigos agentes da KGB estão nos governos russos
federal e local. Seria como tentar democratizar a Alemanha com os oficiais da
Gestapo no comando.
Vladimir
Tismaneanu é o analista político perfeito para os dias de hoje, pois é um
especialista nos dois legados, nazista e comunista. A despeito de diagnósticos
otimistas e do excessivo wishful thinking, estas duas patologias
não estão mortas. O esclarecedor livro de Vladimir Tismaneanu é um antídoto
contra os novos experimentos do radicalismo utópico e da engenharia social.
* O general Ion
Mihai Pacepa, é o oficial de mais alta patente que desertou do
bloco comunista. Obteve asilo político nos Estados Unidos. O seu novo livro, Disinformation,
em co-autoria com o professor Ronald Rychlak, foi publicado pelo WND Books em
junho de 2013.
Publicado no World
Net Daily em 8 de julho de 2013.
Tradução: Ricardo
Hashimoto
Fonte: http://www.midiasemmascara
Nenhum comentário:
Postar um comentário