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domingo, 5 de janeiro de 2014

"Caso clínico de hoje..."


Aquiles César (elemento maligno de alta periculosidade) baleado na coxa e na perna, chega ao hospital após troca de tiro com a polícia, trazido por policiais. Na entrada da emergência chorando copiosamente disse ser vítima e que estava trabalhando quando foi alvejado pelos maldosos policiais. Foi encaminhado ao bloco cirúrgico onde foi submetido a exploração vascular do membro com revascularização da artéria femoral lesada mais fasciotomia da perna. 

Durante a anestesia e sob efeito de Dormonid o cliente que se dizia vítima das elites, da burguesia e dos policiais sem alma, começou a falar em tom diferente, disse que a profissão dele era ladrão, que matava se fosse preciso, mas que ia decorar a cara da equipe médica que estava operando ele para poupá-los quando o mesmo estivesse exercendo suas atividades diárias de bandido perigoso. Bandido consciente e misericordioso esse não é? 

E chacoteando de todos, ainda disse que se encontrasse com a técnica de enfermagem por aí, iria assaltá-la e espancá-la pois sentiu dor quando a coitada da profissional de saúde foi pegar um acesso venoso no seu braço. 

O cliente foi operado em um hospital público, pago com os impostos que os trabalhadores desse país pagam, evoluiu sem intercorrências, nem uma febre sequer teve, e recebeu alta após uma semana, curado e apto para voltar as suas atividades de assalto a mão armada e latrocínio, mas sem antes pedir um atestado médico para se encostar pelo INSS recebendo um salário mensal também pago pelo contribuinte, ou seja, por você que está lendo esse relato sorrindo e feliz. 

Infelizmente a mesma sorte não teve seu Severino, o pai de família que o paciente acima citado baleou na cabeça durante o assalto que cometeu. Devido aos graves ferimentos causados pelo projétil de arma de fogo no crânio, e após ser operado e ficar uma semana em coma, seu Severino teve morte encefálica e a família doou os rins que foram transplantados em outro serviço, beneficiando dois pacientes que faziam hemodiálise há alguns anos e estavam sem acesso vascular para fazer diálise, caso não tivessem sido transplantados teriam morrido alguns dias depois, o que serviu de consolo para os familiares de seu Severino que não sabem como vão sobreviver agora sem o provedor a família, já que não vão poder receber nenhuma ajuda do governo, INSS e afins, pois não têm a mesma sorte do ladrão e não estão cadastrados nas bolsas petistas da vida pois seu Severino era trabalhador. 

Os nomes dos personagens são fictícios, o caso é real, e retrata o dia a dia das famílias brasileiras que não têm acesso a educação, muito menos outros serviços públicos de qualidade, e de um país onde só existe direitos humanos para bandidos, e nunca para os humanos direitos...

Fonte: Hugo Santiago

 

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