Por
Nivaldo Cordeiro
No Brasil, a mão que comanda o Estado é a
mesma que comanda a subversão em praça pública. O grande paradoxo é que o PT é,
a um só tempo, a força da ordem e o seu contrário. Como isso é possível? Vou
tentar analisar o fenômeno.
O PT chegou ao poder liderando uma frente de
esquerda que, a grosso modo, o tornou o sucessor legítimo do Partidão. Seus
líderes, sensatos, reconheceram que precisavam abandonar velhas palavras de
ordem sobre a dívida externa, a dívida pública e a administração do Estado, de
sorte que assinaram a famosa Carta ao Povo Brasileiro, compromisso pelo qual
legitimou-se para assumir o poder.
Durante os dois mandatos de Lula foi assim. A
gestão do Estado foi feita de forma profissional. Os radicais, todavia, estavam
sempre à espreita, usando como meio de ação as chamadas conferências nacionais,
entre elas a Confecom, que tinha o firme propósito de controlar a
produção de conteúdo da mídia e a internet. Essa meta totalitária continua de
pé. São esses radicais, braços operacionais da cúpula petista, que estão
atiçando as massas para a rua.
Qual é a lógica do processo que convocou o
povo às ruas? Em primeiro lugar, a ânsia dos radicais de fazerem valer alguma
forma de democracia direta. Movimentos na ruas é seu anseio mais romântico. Mas
o objetivo principal do Movimento Passe Livre é desgastar e desestabilizar o
governo de Geraldo Alckmin. Sua derivação nos demais estados se deu por pura
imitação, o instinto humano mais primário.
O PT conseguiu de fato desgastar a imagem do
governador de São Paulo, em virtude dos seus vacilos e incoerências. O problema
é que agora o movimento saiu do controle e logrou alcançar escala nacional. O
que fazer com ele? Como governantes, só resta ao PT baixar a repressão e
restabelecer a ordem. Mas, é importante esse ‘mas’, o plano para desestabilizar
Geraldo Alckmin exige a mobilização e o atrevimento das massas nas ruas. A
ideia é manter a pressão até as eleições. Como administrar o processo sem
perder o controle?
É evidente que o interesse imediato de Dilma
Rousseff e de Fernando Haddad é governar "tecnicamente". Por isso Haddad não
queria reduzir tarifas e Dilma Rousseff recusou-se a mais um casuísmo
tributário. Certíssimos. Mas o ato de governo é operacional, tático, enquanto o
movimento é estratégico, é a via dourada para o PT alcançar o poder total,
dominando o Estado de São Paulo.
Todas as incoerências ficam explicadas se o
analista levar isso em conta. O agravante é a deterioração da situação
econômica, em face das políticas populistas levadas a cabo pelo governo da
Dilma Rousseff. De longe, o problema mais grave é a depreciação do real,
que só pode ser superada mediante uma forte mudança na política econômica.
O teatro político brasileiro está bem
interessante, prenhe de todos os perigos. Os dirigentes do PT têm demonstrado
realismo e sangue frio desde que chegaram ao poder. Estarão agora eventualmente
diante de seu teste mais decisivo. Vamos ver o que farão. Uma medida
sinalizadora para estabilizar o processo é substituir Guido Mantega por um nome
confiável para conduzir a política econômica. Esse será o momento da escolha de
Sofia.
O PT precisará abraçar novamente a bandeira
da estabilização, sob pena de perder o controle. E quer porque quer ganhar o
governo de São Paulo e a reeleição. Podem ser objetivos incompatíveis, mas fato
é que, sem a estabilidade, a condição de governança de Dilma Rousseff
desaparecerá.
Quem viver verá!Fonte: "Mídia Sem Máscara'
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