Por Augusto
Nunes
É preciso lembrar aos sem-memória o que não
pode ser esquecido, reitera há quase quatro anos a inscrição no alto desta
página. Não se pode esquecer, por exemplo, o caso de polícia em que Lula foi
envolvido pela primeiríssima amiga Rosemary Noronha. A Polícia Federal revelou
em 23 de novembro do ano passado que a chefe do escritório da Presidência da
República em São Paulo era também dirigente da uma quadrilha infiltrada em
agências reguladoras que comercializava pareceres técnicos. Passados mais de
dois meses, o ex-presidente a quem Rose se referia como “meu namorado” não deu
um único pio sobre o escândalo.
Faz 65 dias que Lula foge de jornalistas.
Nesse período, discursou para moradores de rua, posou para a posteridade ao
lado de Sofia Loren, fez palestras sobre assuntos que ignora, assistiu ao jogo
entre Santos e São Bernardo enfurnado num camarote, garantiu a uma
entrevistadora da TV da Federação Paulista de Futebol que quem pratica esporte
não usa droga, deu conselhos a Fernando Haddad, nomeou-se co-presidente,
encontrou tempo até para mostrar que, embora não tenha lido um só livro nem
saiba escrever, tem muito a ensinar a intelectuais cucarachas. Só não falou da
chanchada pornopolítica em que se meteu.
Confiante na crônica amnésia nacional, deve
achar que o filme de quinta categoria vai terminar antes do fim - e com a
vitória dos vilões. Engano. Até que recupere a voz (e crie coragem), será
perseguido por perguntas sem resposta. Não são poucas. E faltam muitas, adverte
o avanço das apurações da Polícia Federal e a coleta dos primeiros depoimentos
pelo Ministério Público. As patifarias já descobertas sugerem que a história
está em seu começo. Os inocentes não têm o que temer. Quem tem culpa no
cartório não vai escapar pela trilha do silêncio.
O Brasil não pode desviar-se da trilha desmatada
pelo desfecho do julgamento do mensalão. As penas impostas pelo Supremo
Tribunal Federal transformaram numa espécie a caminho da extinção o
brasileiro-condenado-ainda-no-berço-à-perpétua-impunidade. Todos são iguais
perante a lei, ensinaram os ministros. O ex-presidente não é mais igual que os
outros. Não está acima de qualquer suspeita. Não é inimputável. Nem mesmo ao
fundador do Brasil Maravilha é permitido transformar urna em tribunal e decidir
que um chefe de seita absolvido pelo rebanho não tem contas a prestar à
Justiça.
Apesar de tudo, apesar de tantos, o Brasil
não é uma Venezuela. O Código Penal vale também para Lula.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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