Por Marco
Antonio Villa
Uma nova operação da Polícia Federal atingiu
o Partido dos Trabalhadores. Não é a primeira vez. Mesmo com todo o
estardalhaço causado pelo julgamento do mensalão, parece que nada detém a ânsia
de saquear o Erário. Agora, uma das acusadas é a chefe do escritório da
Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, que teria
negociado pareceres técnicos fraudulentos.
Os agentes da PF foram ao escritório chefiado
por Rosemary para a devida busca e apreensão de documentos. Indignada, a
funcionária não fez o que seria considerado plausível: entrar em contato com
seu advogado. Não. Buscou algo superior: o sentenciado José Dirceu. Isto mesmo,
leitor.
E veja como o Brasil continua de
ponta-cabeça. A funcionária petista ligou para Dirceu, com quem tinha
trabalhado durante 12 anos, em busca de proteção. O amigo, que, como é sabido,
está condenado a dez anos e dez meses de prisão, nada pode fazer.
Em seguida, ela tentou falar com o
ex-presidente Lula, de quem é amiga. Mas o antigo mandatário está fora do país.
Restou Gilberto Carvalho, o onipresente para assuntos deste jaez, mas que
também não pode ajudá-la.
A sequência dos contatos e a naturalidade são
indicativas de como os petistas pouco estão se importando com o clamor popular
em defesa da moralização. Continuam se considerando acima do bem e do mal. E,
principalmente, acima da lei.
Para piorar - e reafirmar o desprezo pela
ética na política e na administração pública - o segundo homem na hierarquia da
Advocacia Geral da União, José Weber Holanda, está sendo acusado de fazer parte
deste grupo (a expressão correta, claro, deveria ser outra). Fica a impressão
de que na administração petista tudo pode, que o governo está à venda.
Frente às denúncias, a presidente Dilma
Rousseff vai agir da forma já sabida: exonera o acusado da função, diz que não
admite malfeitos e nada vai apurar. Foi este o figurino nestes quase dois anos
de governo.
Isto explica a sucessão de escândalos. Se o
procedimento tivesse sido o de apurar uma denúncia de corrupção, os casos não
se sucederiam. Mas o governo sabe que conta com o tempo e o esquecimento. O
leitor lembra da primeira denúncia de corrupção? Sabe se foi apurada? E o
acusado foi processado? Alguém foi preso?
As últimas denúncias só reforçam o
entendimento da lógica de poder do PT. O controle do Estado é um instrumento
para se perpetuar no poder. Transformaram o exercício de uma função pública em
meio de vida.
Vimos no processo do mensalão como o
sentenciado José Dirceu resolveu o problema de uma das suas ex-mulheres. Ela
queria porque queria um apartamento maior (e quem não quer?). O então
todo-poderoso ministro da Casa Civil transferiu o clamor para Marcos Valério,
que, prontamente, atendeu a ordem do chefe.
O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal
Federal, em um dos seus votos, destacou este ponto, de como uma "sofisticada
organização criminosa" resolvia também problemas pessoais dos seus membros. A
história se repetiu: a senhora Rosemary queria fazer uma cirurgia. Resolveu, de
acordo com a denúncia, recebendo um suborno. Queria fazer uma viagem em um
cruzeiro. E fez. Como? Da mesma forma como realizou a cirurgia.
Nada indica que os detentores do poder vão
mudar sua forma de agir. Farão de tudo para manter este estilo - vamos dizer -
despojado de tratar a coisa pública. É como se o Estado brasileiro fosse
propriedade partidária. E pobre daquele que se colocar no meio deste caminho
nada luminoso. Será atacado, vilipendiado, caluniado.
Porém, não podem controlar tudo, todos os
poderes da República. Ainda bem. Hoje, o maior obstáculo para a transformação
completa da coisa pública em coisa petista é o Poder Judiciário.
É sabido - e eu já escrevi sobre isso - que o
Judiciário tem muitos problemas e defeitos. É verdade. Mas na quadra histórica
que vivemos é o único poder que não é controlado plenamente pelo petismo. Daí o
ódio manifestado diuturnamente pelos seus porta-vozes (e não faltam línguas de
aluguel), como ainda é possível observar no julgamento do mensalão.
A sucessão de derrotas - com as condenações
dos réus petistas - deixou transtornados os petistas. Basta ler declarações
racistas contra o ministro Joaquim Barbosa, as pressões para a nomeação de um
novo ministro "companheiro" - na vaga aberta pela aposentadoria de Ayres Brito
- ou simplesmente ter observado o descaso da presidente Dilma Rousseff quando
da posse do novo presidente do STF.
O novo passo para sufocar o Judiciário é o
projeto, com apoio do PT, que está tramitando na Câmara dos Deputados que
retira do Ministério Público o poder investigativo. É uma evidente retaliação.
Há uma relação direta entre o julgamento do
mensalão, a brilhante denúncia apresentada pelo procurador Roberto Gurgel e a
consequente condenação dos petistas e seus asseclas, e esta nova investida. É
como se o Ministério Público tivesse cometido uma traição ao produzir provas
que levaram a liderança petista de 2005 à cadeia.
Nada indica que o PT vai aceitar a prisão dos
seus líderes, apesar do devido processo legal, do amplo direito de defesa, da
transmissão de todas as sessões do julgamento pela televisão. Vai fazer de tudo
para "melar o jogo". Criar situações de desconforto político e até, se
necessário, uma crise institucional.
Suas principais lideranças nunca admitiram a
existência de qualquer obstáculo às suas pretensões de exercer o poder sem
qualquer prurido. A máxima petista é a de que o bom poder é aquele que é
exercido sem qualquer limitação legal.
Um comentário:
O que me deixa mais danada da vida, é quando lembro daquelas passeatas, daquelas imensas manifestações, na era dos governos militares e pós, quando o lema de seus discursos era sempre sôbre a dita"corrupção" e "privataria", que não passa nem perto do que se passa no governo dêles. Ô raça!
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