Por Elio Gaspari
A doutora Dilma e o chanceler Antonio
Patriota deveriam revisitar a estudantada em que se meteram no Paraguai,
comparando os próprios erros com outro episódio, ocorrido em 1996, quando as
coisas deram certo, sem espetáculo.
Durante as festividades da Rio+20,
Dilma e Patriota souberam que a Câmara dos Deputados aprovara a abertura do
processo de impedimento do presidente Fernando Lugo por 76 votos a um. O doutor
foi mandado ao Paraguai numa comitiva da Unasul para recolocar a pasta de
dentes no tubo. A embaixada do Brasil em Assunção já advertira o governo, há
semanas, a respeito da gravidade da situação. Fizeram o quê? Nada.
Havia o que fazer? Em abril de 1996,
o presidente Juan Carlos Wasmozy soube que o comandante do Exército, Lino
Oviedo, pretendia derrubá-lo.
Pediu apoio ao Brasil, e o embaixador
Márcio Dias disse-lhe que Fernando Henrique Cardoso não concordaria com um
golpe. Era pouco. Ele queria ouvir isso pessoalmente. O diplomata combinou que
Wasmozy iria a Brasília (pilotando seu avião), seria recebido no aeroporto pelo
chanceler Sebastião do Rego Barros (dirigindo seu próprio carro) e seguiria
para o Palácio da Alvorada.
Conversou com FH e retornou durante a
madrugada. O presidente brasileiro entrou em contato com seu colega Bill
Clinton, e ele telefonou para Wasmozy dizendo-lhe que, em caso de ameaça,
deveria ir para a embaixada americana.
Dias depois, Oviedo deu um ultimato a Wasmozy, anunciando que atacaria o palácio ao amanhecer. O presidente paraguaio foi para a embaixada americana com o ato de renúncia redigido. Lá estava o embaixador Márcio Dias, que o rasgou. (Wasmozy guardou o picadinho.) O dia amanheceu, e o golpe evaporou-se.
Dias depois, Oviedo deu um ultimato a Wasmozy, anunciando que atacaria o palácio ao amanhecer. O presidente paraguaio foi para a embaixada americana com o ato de renúncia redigido. Lá estava o embaixador Márcio Dias, que o rasgou. (Wasmozy guardou o picadinho.) O dia amanheceu, e o golpe evaporou-se.
Tudo isso aconteceu sem holofotes ou
estudantadas de um multilateralismo que no caso da patrulha dos chanceleres da
Unasul serviu apenas para colocar o Brasil a reboque de uma política de ameaças
inócuas.
Uma diplomacia profissional, a
americana, falou o mínimo possível. Resultado: a doutora Dilma e seus
companheiros fizeram a empada, compraram a azeitona, deram o mimo aos
americanos e ficaram com o caroço.
Como dizia o chanceler Azeredo da
Silveira, atravessaram a rua para escorregar na casca de banana que estava na
outra calçada.
A diplomacia multilateral faz
espetáculos, arma consensos e, geralmente, dá em nada. A bilateral, como a do
Brasil no Paraguai em 1996, dá trabalho.
Fonte: "O Globo"
Um comentário:
Não é porque uma maioria de interessados em promessas pequenas de bolsas qualquer coisa votou em petistas despreparados prá governar o país, que automaticamente os tornaram mais capazes e melhores diplomatas.
Governar(bem) um país como o Brasil, não é prá amadores.
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