Por Marco Antonio
Villa
O governo Dilma Rousseff completa 18
meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um
blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de
malfeitos.
Na história da República, não houve
governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros
por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não
consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba
sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita
com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites.
O presidente oculto vai apontando o
rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São
Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo.
Nunca tivemos um ex-presidente que
tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o
que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles
foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a
presidência.
Lá acabou numa ruptura. Em 1935
Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica
que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira
retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing
para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso
no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior
feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar
entre as maiores empreiteiras brasileiras.
De resto, o PAC é o símbolo da
incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam
intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa,
Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.
O Nordeste é o exemplo mais
cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa
dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais
não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era
resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base.
Duas agências foram entregues
salomonicamente: uma para o PMDB (o Dnocs) e outra para o PT (o Banco do Nordeste).
E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300
milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores.
Enquanto isso, desejando mostrar
alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais
para cada família cadastrada durante cinco meses, perfazendo 400 reais (o benefício
será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na
região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a
equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público.
As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o
setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio
Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só
discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma.
Mercadante lembra Venceslau Braz.
Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre
ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à
Presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente:
"É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego."
Mercadante é uma versão século XXI de
Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave
crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se
manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas
voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não
mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um
projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que
mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor.
Sempre a política adotada é aquela
mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo
construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de
hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer
isso.
Prefere correr desesperadamente atrás
do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome
de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que
Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez
anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de
UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as
necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional.
O Itamaraty transformou-se em um
ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a
sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de
articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos.
Assimilou o "estilo bolivariano", da
retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos
caudilhos, como agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem
iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que
nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.
* Marco Antonio
Villa é historiador
Fonte: "O Globo"
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