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sexta-feira, 29 de junho de 2012

"A teoria da vaia"

Por Samuel Celestino

Há uma vinculação curiosa entre o político e as vaias. Assim como, também, entre os clubes de futebol e suas torcidas. Entre a vaia ao político e a vaia ao clube há um diferencial. O clube a arquibancada respeita, porque há paixão no relacionamento. Quando acontece com o político a relação passa a ser outra: a tendência é aumentar a malquerença. Não me lembro de político, em cargo majoritário, que não tenha sido vaiado.
Aliás, num processo revisionista posterior aos anos 80 (depois do corte institucional onde a ditadura estabeleceu as suas regras anti-cidadania), houve um encanto entre o País e Tancredo Neves. O duende mineiro que morreu antes da posse na Presidência era amado. O Brasil chorou quando seu corpo foi sepultado no cemitério de São João Del Rey, cercado pelas montanhas de ferro do seu estado natal.
Depois daí, a lembrança apaga. A começar por quem ocupou o cargo que seria de Tancredo, José Sarney, que saiu da ovação que granjeou ao lançar o plano de combate à inflação às vaias com que era recepcionado em qualquer lugar em que estivesse no território nacional. O plano falhou e a inflação bateu no teto de 80% ao mês.
Carlos Lacerda, quando governou o então estado da Guanabara, declarou certa feita que não comparecia ao Maracanã enquanto governador porque não iria se submeter às vaias dos torcedores. Antônio Carlos Magalhães tinha quem organizasse sua claque, para soar mais forte do que as vaias. Mesmo assim foi brindado com várias. Tinha, ainda, grupos treinados para carregá-lo, sobretudo quando na Lavagem do Bonfim a sua comitiva chegava ao adro da Igreja. Mário Covas, um político de estirpe, fundador do PSDB, quando governador de S.Paulo não só foi vaiado, como foi atingido na cabeça por um dos manifestantes que tentaram derrubar o gradil do Palácio dos Bandeirantes.
Ponho um ponto final ao citar Covas porque os apupos que ele recebeu foram cortesia de professores em manifestação grevista. Com isso, faço um traço de união com a situação em que o governador Jaques Wagner experimenta nos últimos tempos. Passou a ser vaiado em todas as ocasiões em que aparece em público, tanto na capital como nos municípios interioranos. Os professores têm parte nisso, mas nem tanto. Não há exclusividade. De tal maneira que, na segunda-feira passada, em Cachoeira, só pode cumprir uma das suas programações, na Catedral, e retornou a Salvador em consequência dos apupos. Mesmo com a proteção estabelecida por sua segurança. Os professores estavam determinados à vaia. Alguns políticos aliados queixaram-se da situação constrangedora depois. Só a senadora Lídice cumpriu integralmente a programação cachoeirana. Ela é de lá.
A vaia e os aplausos são irmãos gêmeos. Quem exerce função pública, mesmo que seja artista (João Gilberto sabe disso) compreende que a vaia faz parte do espetáculo. Para o político é pior, porque em relação a um clube de futebol e a uma celebridade artística, vaias e aplausos acontecem em espaços públicos. São até normais. Um time é vaiado quando perde partidas seguidas, mas o torcedor, movido pela emoção e pelo amor às cores da agremiação, aplaude à primeira vitória. Com o artista também é assim. Já o político é diferente. Quando as vaias chegam ao espaço público, se multiplicam em sequência. Os aplausos ficam reservados para os espaços privados, onde só entram convidados e bajuladores.
Jaques Wagner está na sua quadra astral dos apupos. Com o governante acontecem dois fatos diferenciados e opostos: ou dele se gosta ou há repúdio. Uma boa parte que gosta pensa em ser obsequiado com um favor. É interesseira. Isso porque a carreira política no Brasil é marcada pelo desdém.
Em razão do próprio comportamento, o político, mesmo que não o seja, é considerado desonesto. Conheço muitos que são sérios. Outros que morreram pobres (Regis Pacheco, ex-governador baiano, por exemplo) e outro tipo (esse é da pior essência) é viciado com o que não lhe pertence.  Sonha com o tesouro público. ACM quando não gostava de um político e quando esse se aproximava, por pura malvadeza costumava falar, às vezes alto, para o grupo que o rodeava, normalmente puxadores de saco: "segurem suas carteiras".
Lula cometeu o desatino de se reunir com Maluf, nos jardins do palacete dele, e ficou péssimo na fotografia que ganhou as manchetes. Maluf, que muito sofreu com vaias e com o epíteto de ladrão, transformou-se até no verbo "malufar", não perdeu tempo. Em entrevista detonou o ex-presidente com ironias finas, com dizer que, diante de Lula ele "é comunista". E crivou-lhe de flechas.
Assim posto, convém Wagner adotar todas as precauções possíveis. De que forma, não sei. Mas sei que se aproximam as comemorações cívicas do Dois de Julho. Um pesadelo.
* Coluna publicada no jornal "A Tarde", edição de quinta-feira, 28.

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