STF reunido: a partir
da esq., Rosa Weber, Luiz Fux, Carmen Lúcia, Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes,
Celso de Mello, Ayres Britto, Marco Aurélio, Cezar Peluso e as duas cadeiras
vazias, de Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski (Foto: Carlos Humberto SCO/STF)
Por Reinaldo Azevedo
Açodamento?
Sete anos depois? Ignoro, reitero, o que fará cada ministro. Mas podemos
declarar derrotadas todas as manobras, as legais e as ilegais, para tentar
impedir que o mensalão fosse julgado ainda neste ano. Nesse particular, Lula e
José Dirceu perderam. Venceram a autonomia do Poder Judiciário - ou, ao menos,
a sua parte saudável - e, sim, a imprensa independente, que não existe para
prestar serviço a candidatos a tiranos e a jagunços que ousam assombrar o
estado democrático e de direito.
Dado o
rito, o ministro Cezar Peluso tem plenas condições de participar do julgamento.
Por quê? No dia 1º de agosto, Joaquim Barbosa, o relator, apresenta uma síntese
do seu voto, um parecer. Em seguida, o procurador-geral da República formaliza
a acusação. E tem início então a defesa, que se estende até o dia 14, em
sessões diárias, de segunda a sexta. Aí os ministros começam a votar.
Ouvidas
acusação e defesa e podendo ter acesso à integra do voto do relator e do
revisor do processo, Peluso pode deixar redigido o seu voto, ainda que o
processo avance setembro adentro. Mas há ministros na corte, como Gilmar Mendes
e Luiz Fux, que veem condições de que tudo termine em agosto.
Lewandowski,
o revisor, para quem se voltam todos os olhos, muito especialmente os do estado
de direito, sabia da sessão de ontem, é evidente, e de sua pauta. Mesmo assim e
sendo quem é no processo, preferiu não participar. O cronograma foi aprovado
pela unanimidade dos nove presentes. Não parece plausível supor que ele frustre
não a expectativa dos pares que tomaram aquela decisão, mas a do país. Vamos
ver.
Ontem,
a defesa de José Dirceu veio a público para asseverar que ele estava satisfeito
com a definição do calendário e que é de seu gosto ser julgado logo. A função
da defesa é defender, e não há muito o que especular a respeito disso. Mas é
balela. Ele e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram o permitido e, sobretudo, o não
permitido para melar esse julgamento, para inviabilizá-lo ainda neste ano. O
ex-presidente, como é sabido, estava assediando ministro da corte para empurrar
o julgamento para o ano que vem. No caso de Gilmar Mendes, a conversa assumiu
tintas de chantagem - que nem sempre é feita manipulando fatos; ao chantagista
podem bastar, como era o caso, os boatos.
A
decisão dos ministros do Supremo foi tomada 10 dias depois de VEJA revelar a
conversa indecorosa de Lula com Mendes e na semana em que a revista apresentou
evidências de que os petistas da CPI tinham em mãos uma espécie de cartilha
para tentar desqualificar o ministro, o procurador-geral da República e a
imprensa, fazendo da comissão, como anunciara previamente Rui Falcão em vídeo
conhecido, mero teatro de achincalhe e plataforma para acusar o que chamou de
"farsa do mensalão".
Tornado
público o avanço de Lula contra a independência do Judiciário, o STF preferiu
não emitir uma nota pública, mas fez, entendo, algo mais importante do que
isso: evidenciou que há ali homens e mulheres - independentemente do conteúdo
de seu voto, reitero (a qualidade de cada um, veremos depois) - que entendem
que a corte suprema de um país não pode estar sujeita a esse tipo de pressão,
de arreganho autoritário, de mandonismo primitivo. Assim, ainda que a
expectativa dos decentes possa não se cumprir ver condenados os mensaleiros
-, é bom saber que o tribunal conserva o DNA da independência.
Em
certa medida, talvez todos devamos ser gratos a Lula e a Dirceu - e também a
Rui Falcão, braço dirceuzista na presidência do PT - pelo destrambelhamento,
pelo açodamento, pela fanfarronice. Não fosse a sede com que foram ao pote; não
fosse, mais uma vez, a certeza da impunidade e a onipotência com que avançaram
contra as instituições, sequiosos de vingança, talvez Lewandowski enxergasse
ainda mais tempo para fazer a história avançar em câmera lenta. Diante das
escandalosas evidências de que a reputação do próprio Judiciário está em jogo -
e, pior, tendo a sua instância máxima na berlinda -, sobrou ao tribunal
evidenciar, agora de maneira clara, inequívoca, sem chances para segunda
interpretação, que o país está à espera de Lewandowski. Ele teria lustrado a
instituição e o bom senso se tivesse aparecido na sessão desta quarta. Mas
preferiu se ausentar.
Lula
já chegou a dizer que, na Venezuela de Hugo Chávez, havia "democracia até
demais" - o que nos faz supor que, para seu gosto pessoal, haveria ainda menos.
Quem é capaz desse juízo explica por que assedia ministros do Supremo.
Imaginem… O Apedeuta deve lastimar profundamente os traços da "ditadura
brasileira" que não lhe permitem impor a sua vontade aos juízes.
E
encerro com uma questão que projeta esse debate para o futuro. Ministros que
são titulares do Supremo, que já não dependem da vontade deste ou daquele,
foram alvos daquele assédio criminoso - crime previsto no Código Penal. Por uma
questão de lógica, começo cá a imaginar como são conduzidas as conversas com
aqueles que disputam uma indicação. Ainda neste ano, Dilma terá de apontar dois
nomes para integrar o Supremo, nas vagas de Peluso (sai em setembro) e Ayres
Britto (sai em novembro). Como será o assédio àqueles ou àquelas que são apenas
aspirantes às vagas? Se o jogo é bruto com quem, afinal, pode muito, a gente
supõe como é com quem ainda não pode tanto…
Se
haverá absolvição ou condenação em massa, isso, insisto, não sei. O que sei é
que a definição do cronograma, pouco importa o voto de cada membro do STF,
representou a derrota de Lula e Dirceu e a vitória das instituições
democráticas. E eu incluo nesse grupo a imprensa que ousa chamar as coisas pelo
nome que elas têm e milhares de brasileiros que, a exemplo dos leitores deste
blog, se mobilizaram para dizer: "Entregue o seu trabalho, Lewandowski"!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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