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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"Embaixo do tapete"

Por Dora Kramer
Olhando com atenção nota-se que não é necessariamente o estilo que marca a diferença entre os governos Lula e Dilma, no trato dos escândalos de corrupção.
Dilma já demitiu seis, cinco suspeitos de desvios de conduta, em dez meses. Lula só enfrentou seu primeiro caso rumoroso ao fim do segundo ano, em 2004, quando Waldomiro Diniz - o homem encarregado das relações com o Congresso na Casa Civil - apareceu em vídeo tentando achacar um "empresário" do jogo de bicho.
Daí em diante, os escândalos ocorreram na medida de um ou dois por ano, enquanto agora acontecem em espaço de tempo bem menor: mais ou menos a cada 50 dias.
Lula demorava a se render aos fatos, fazia várias manifestações de apreço aos acusados, mas, nos casos mais graves, (Palocci e o caseiro, Dirceu e o mensalão, Erenice Guerra e família) os ministros acabaram caindo.
A diferença principal é o volume de evidências que aparecem envolvendo os grupos infratores e as condições objetivas para lidar com ele.
Por que aumentaram tanto? Muito provavelmente por causa do passivo acumulado nos dois períodos anteriores, em que não houve a menor preocupação do governo em avisar aos navegantes de sua coalizão que havia regras de conduta a serem seguidas e que a legalidade era o limite.
Ao contrário: as palavras do então presidente sempre apontavam na direção da conivência, da passada de mão na cabeça, no chega para cá meu irmão que "tamo junto".
A intolerância da sociedade cresceu também por causa do grande estoque de mercadoria podre nas prateleiras oficiais. Dilma não deu um freio de arrumação genuíno na bagunça e agora paga o preço daquela tolerância toda.
Além disso, a presidente não dispõe dos dotes artísticos do antecessor e, portanto, não tem condição de levar as coisas na conversa por muito tempo.
Fonte: Jornal "O Estado de S. Paulo"

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