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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

2008: ano agônico para o filme "Revoada"

Transcrito do "Setaro's Blog":
Em primeiro lugar, mandar, daqui deste blog, um grande abraço pela passagem de mais um aniversário, hoje, sexta, 26 de setembro, a Tuna Espinheira, realizador baiano que teve, neste 2008, lançado, em boa sala do Multiplex, o seu Cascalho, baseado em romance homônimo de Herbeto Salles. Quantas primaveras? Em segundo, publicar o seu artigo de indignação sobre o que padeceu José Umberto com a retalhação de Revoada, seu segundo longa que, retirado das mãos de seu montador original, Severino Dadá, foi completamente desfigurado pelos produtores, resultando, com isso, num filme-frankenstein. O affair Revoada, com honrosas exceções de poucos cineastas, entre eles o próprio Tuna, Kabá, e Edgard Navarro, recebeu da cooperativa chamada Cinema Baiano um silêncio tumular. Num momento em que a criação cinematográfica é vítima de ato autoritário (podendo, inclusive, atingir outros filmes baianos), onde se pode ouvir a voz rouca da classe cinematográfica, que se cala, sempre também atenta a seus interesses imediatistas e particulares? Há uma conduta pusilânime por parte da Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) no imbroglio. Por que não se manifestou? Bem, aqui vai a indiganação de um bravo cineasta, que, como sempre mostrou aqui e alhures, não tem medo e não possui papas na língua.
"O roteiro cinematográfico é uma peça técnica, mesmo urdido em nível de excelência, será sempre um produto sem vida própria. Andar por aí com este tipo de escrito debaixo do braço, via de regra, metamorfoseia o cineasta em uma barata tonta, Zumbi, alma penada.
É que, esta brasa viva, o texto maldito, precisa ser filmado, para então, sair da condição de uma espécie de assombração.
Não é nada incomum a convivência incômoda, do autor com o roteiro por anos, décadas, ou mesmo a vida inteira e mais cem anos... labutando pelos meios necessários de produção para germiná-lo em filme.
No caso especifico do chamado “filme de autor”, o norte mesmo, é apostar na loteria da vida e dos concursos bissextos de roteiros.
Zé Umberto foi por este caminho, fez sua “fezinha” numa Licitação do MINC e foi sorteado com uma verba carimbada a prover a vida seca de uma obra de baixo orçamento. Exorcizado daquele peso da condição de Zumbi. Como não poderia deixar de ser, ecoaram-se muitos gritos de Aleluia!.. Despachou-se o Exu, foram rendidas as reverencias devidas à Corte Celeste de plantão... Com bom humor e alma lavada. Roda-se o filme: REVOADA, sob a direção de José Umberto...
Até aí, pelo sim e pelo não, as coisas andaram nos trilhos. Foram captadas as imagens necessárias, recolhido o satisfatório material bruto a ser lapidado na mesa de montagem.
No Rio de Janeiro, o montador Severino Dada, sob a supervisão de Zé Umberto, segue trabalhando os cortes e a edição. Severino já havia estado na Bahia, percorridos a locações, ajudado na preparação do Plano de Filmagem, portanto bem sincronizado, lépido e fagueiro, com o material.
A mesa de montagem é o espaço sagrado da urdidura do filme, é o momento crucial, quando a obra, em estado bruto, passa a ser lapidada, tomar forma, adquirir o sopro de vida, sob a batuta imprescindível, inexorável, do seu criador: o roteirista/diretor.
Eis que, uma arapuca do destino, acomete o principal autor do filme com uma doença grave, carecendo de tratamento delicado e urgente. Aí começaria o período tristemente agônico do filme. Preposto da produção, em decisão sinistra, à revelia do diretor, hospitalizado, arranca o material de montagem das mãos do montador escolhido e o repassa para um outro, paulistano da gema, com grande experiência em colar planos e seqüências na modalidade cinematográfica que, um dia foi chamada de “papai/mamãe” (definição atribuída a Glauber), sem nenhuma familiaridade com a idéia do filme.
Foi trombeteado, aos quatro ventos que o filme está pronto. Com cópias, cartazes, etc. O caso está na Justiça, portanto ao Deus dará do andar de cágado. Ou como diria Vinicius: “Quem dos amigos, tão amigo, para ficar no caixão comigo?”
Resta enfatizar que, o filme em questão foi financiado com dinheiro público, resultado de um concurso de roteiros do MINC, o ganhador foi o “script” de autoria de José Umberto, dono do direito autoral da obra premiada.
Cassaram o diretor, deixando-o à margem da montagem e edição final do filme. Com certeza, fizeram um outro filme, provavelmente do tipo: “filme do crioulo doido”, quem sabe!? (O saudoso “Lalau”vai saber disto). Vade retro... Triste Bahia!"(
tunaespinheira@terra.com.br ) Tuna Espinheira.

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