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sexta-feira, 27 de abril de 2007

Primeiro foi Diogo, agora é Jabor, e ainda será você

(Transcrito do Blog Reinaldo Azevedo, postagem de quinta-feira, 26):

Leia atentamente, muito atentamente, o que segue, no "Estadão On Line". Volto em seguida. Por Denise Madueño:
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT), anunciou nesta quinta-feira (26), que vai processar o comentarista Arnaldo Jabor pelas críticas feitas aos deputados, na terça-feira passada, na Rádio CBN, ao comentar reportagem publicada na véspera pelo “Estado”. A matéria informava que os deputados gastaram, só nos dois primeiros meses deste ano, R$ 11,2 milhões com gasolina.
Jabor chamou os deputados de “canalhas” e disse: “Todos sabemos que os nossos queridos deputados têm direito de receber de volta o dinheiro gasto com gasolina, seja indo para os seus redutos eleitorais, ou indo para o hotel com suas amantes, ou seus amantes”.
Chinaglia se referiu diretamente ao comentário de Jabor e foi aplaudido pelos deputados ao anunciar, no plenário da Casa: “Chegou ao nível do inadmissível. E, como é inadmissível, vamos, em nome da Casa, processar o jornalista Arnaldo Jabor”. O presidente da Câmara anunciou que a iniciativa de mover o processo tem o objetivo de “defender a democracia e o povo brasileiro”, e acrescentou: “A desqualificação da política não é um ato ingênuo, é retirar da mão popular e da sociedade o único instrumento para dirimir conflitos ou defender legítimos interesses”. Chinaglia anunciou também que pretende pôr em votação, em breve, a proposta de emenda constitucional (PEC), já em tramitação, que cria uma advocacia para a Câmara, a exemplo da Advocacia Geral da União. Segundo a reportagem do “Estado”, os deputados gastaram, só em janeiro e fevereiro, 1 milhão de litros de gasolina, combustível suficiente para se dar a volta ao mundo 250 vezes - num percurso de 11 milhões de quilômetros. "Todos sabemos”, disse Jabor, “que os nossos queridos deputados têm direito de receber de volta o dinheiro gasto com gasolina (...). A Câmara, ou, melhor, você e eu, pagamos o custo, desde que eles levem notas fiscais para comprovar o gasto da gasosa”. E concluiu: “Quando é que vão prender esses canalhas? Ah, eu esqueci. Eles têm imunidade, têm foro privilegiado. É isso, aí, amigos otários como eu”.
Chinaglia foi aplaudido também ao afirmar que está defendendo a instituição, que todos ali têm representação popular. “Não pretendemos passar a idéia para a sociedade de que somos obscuros. Aqui estão os que têm a legitimidade de representar o povo brasileiro. Partimos do pressuposto de que são homens e mulheres honrados, assim como são os brasileiros que os elegem”, disse o presidente da Câmara. Ele afirmou que todas as instituições cometem erros, mas que, “na Câmara, não há compromisso com qualquer o erro”.
Voltei
A boa notícia é que a imprensa, ao menos, está noticiando o caso. Uma má notícia, claro, é a disposição do presidente da Câmara de processar um comentarista. A outra má notícia é a seletividade do jornalismo. Um juiz confessa, num ofício, que julga antes da “juntada formal” das petições aos autos. Um juiz confessa ter “idealizado” um sistema próprio para conduzir seus processos. A imprensa silencia, fazendo de conta que não é com ela.
Na primeira vez em que me manifestei sobre o caso Diogo-Franklin, incluindo o “furo” de Kennedy Alencar, que anunciou a sentença antes de ela existir, escrevi: “Hoje é Diogo; amanhã pode ser Kennedy”. E pode. Quem brinca com ditadura, autoritarismo, bonapartismo, acaba se queimando. O triste exemplo, no terreno conservador, foi o brilhante Carlos Lacerda. Foi fazer proselitismo à porta do quartel, deu no que deu. Há os que ficam abanando o rabicó para os bolcheviques disfarçados de democratas, achando que prestam um serviço à causa. Ainda acabam se danando. O chato é que, quando eles se derem mal, nós já teremos ido.
O comentário de Jabor é duro? É, sim. Mas vergonhoso mesmo é os deputados gastarem R$ 11,2 milhões com gasolina em dois meses. Seus comentários não podem fazer mal nenhum a não ser a si mesmo - tomam-no por exagerado, destemperado -; já a gastança dos deputados é a contraparte da miséria institucional e material brasileira e dizem respeito a todos nós. Se alguém afirmar que os jornalistas são todos uns canalhas, vou discordar. Sou jornalista e não sou canalha. Há muitos outros que conheço que também não são. Mas há canalhice que sobra nesta profissão, como há entre caminhoneiros, padres, professores... Não, não vou entrar no mérito da defesa que os advogados de Jabor farão. Meu ponto é outro.
O ambiente
Há tempos alerto aqui para um ambiente hostil à imprensa. Quem puxa o coro é o Executivo, é Luiz Inácio Lula da Silva. A ação contra Jabor e as óbvias ilegalidades de que Diogo Mainardi está sendo objeto estão inseridas numa seqüência de eventos. De forma mais saliente, remonta à tentativa de expulsar Larry Rohter do Brasil, sob o silêncio cúmplice das entidades que dizem defender os direitos dos jornalistas. Depois veio a proposta de se criar o Conselho Federal de Jornalismo - não custa lembrar que a autora intelectual é uma entidade de caráter sindical ligada à CUT e ao PT. Agora, vem Franklin Martins com a sua BBC - que chamo de PTT...
Chinaglia é um petista. A sua disposição atenderia aos reclamos de seus pares, nem todos do seu partido. Para ele, é o melhor dos mundos: cumpre uma disposição de sua legenda, de encabrestar a imprensa, e, ao mesmo tempo, navega nas águas tormentosas do corporativismo bronco. Acharam o quê? Que a ação contra Diogo era um fato isolado? Que se tratava, enfim, de coibir alguém por seus “exageros”? O que não suportam no colunista da “Veja” nem é tanto o que ele diz, mas a possibilidade de que ele venha a dizer sabe-se lá o quê. Os petistas têm medo é da liberdade.
IntoxicadosDiogo tem a fama de não ter papas na língua. Jabor também - embora pensem coisas muito distintas sobre os mais variados assuntos. O cineasta, por exemplo, acredita que Lula é uma espécie de remédio que combate o bolchevismo petista. Diogo, tenho certeza, não. Pouco importa: o esforço dos petistas para puni-los serve como um sinal, uma ameaça, uma tentativa de criar bodes expiatórios, exemplos. A idéia é acenar com uma contenção: “Vocês, da imprensa, tenham calma”. Como sabemos, o ministro Franklin Martins acha que a imprensa está “intoxicada”.
Ele quer nos mandar para o hospital, para uma clínica de recuperação, para um internamento. Eles não aceitam os toxicômanos do pensamento livre. Acham que devemos fazer uso moderado das drogas lícitas que eles nos oferecem. Estamos só no começo. O Executivo não gosta da imprensa. Em breve, teremos de falar e escrever com notas de rodapé, explicando quando recorremos a uma metáfora. Ou, então, aderir ao estilo do juiz Sérgio Wajzenberg, lotando o texto de aspas para ter pontos de fuga: “Não quis dizer bem isso; desculpem-me se pareci ambíguo”.
O Legislativo não gosta da imprensa. O Judiciário não gosta da imprensa. O estado não gosta da imprensa. E, infelizmente, boa parte da imprensa não gosta de si mesma, tomada que está pelos esbirros desse misto de bolchevismo bocó e mercadismo do governo Lula. Os contínuos do partido fazem o trabalho de purificação para seus chefes ideológicos, abanando seu rabinho cheio de falsa dignidade. Os bobos da corte, em vez da ética do moleiro, escolhem a dos puxa-sacos. Acharam o quê? Que a coisa pararia em Diogo Mainardi? Que vai parar em Arnaldo Jabor? Estamos assistindo apenas ao capítulo de um longo confronto.
Não é preciso ser a Mãe Dinah do jornalismo para saber aonde isso vai dar se não houver reação.

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