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quinta-feira, 1 de junho de 2023

Das aulas de artes no IF Baiano até a exposição em programa televisivo nacional



Conheça a trajetória do artista Alex da Hora

Olhares expressivos, corpos negros, frutas tropicais e cenas de um cotidiano rural picelados em óleo sobre tela compuseram o cenário do Encontro com Patrícia Poeta, na sexta-feira, 26 de maio. O autor das obras é o artista baiano Alex da Hora, de 23 anos. A história do artista até receber o convite para expor no programa televisivo de alcance nacional é cheia de desafios e superações e passa pelo Instituto Federal Baiano.

Alex é o segundo dos seis filhos da lavradora Andra Lemos da Hora. Viúva, Dona Andra criou os filhos sozinha nas comunidades quilombolas do Barroso e do Ronco, na zona rural de Camamu - BA. Alex cresceu em contato com a natureza, ajudando a mãe na lavoura, brincando livre com seus irmãos. "Eu vivia muita coisa com meus irmãos, a gente estava sempre pescando, passeando pela mata, aprontando, plantando coisas com minha mãe e eu gostava muito de desenhar plantas, peixes, coisas que a gente fazia no cotidiano", conta o artista.

Perto de sua casa havia uma estufa de secar cacau e o menino introspectivo, que amava desenhar e ler, costumava pegar carvão vegetal na fornalha para fazer seus desenhos. "Eu pegava esses carvões e ficava desenhando peixes, mas não era nada sério, era só um momento de diversão para mim. Até porque eu nem sabia ao certo o que era arte, minha mãe é analfabeta, eu sou o primeiro da minha família a entrar numa universidade e até a concluir o ensino médio mesmo", relata.


Ingresso no IF Baiano

Mesmo sem referências de universitários na família, Alex tinha o sonho de fazer um curso superior e traçou um caminho para conquistá-lo. "Eu entendia que estudando num colégio estadual eu nunca conseguiria, minha mãe também não tinha condições de pagar colégio particular. Eu estudava muito em casa, lia muito literatura russa, francesa, inglesa e tinha muito interesse em aprender mais; andei pesquisando e vi que os colégios federais eram melhores, que tinha o IF Baiano em Valença próximo e que eu poderia ir pra lá", conta.

Assim que ingressou na Rede Federal, seu talento para a pintura foi notado pela professora de Artes, Nelma Barbosa, que buscou incentivá-lo, fazendo ele trabalhar não apenas a técnica, mas o olhar para si. "No meio de uma atividade de artes, ele se apaixonou pelo Sebastião Salgado e a gente foi percebendo que era preciso ter um olhar diferente [para Alex], porque além de apaixonado como espectador, ele também era apaixonado pelas técnicas de artes", conta a professora.

Ainda que o curso técnico de Alex, Técnico em Agropecuária, não tivesse relação com sua arte, estar numa escola profissional que tem o trabalho como princípio educativo o impulsionou a se profissionalizar, pois esta era uma preocupação dos seus educadores. Ele participou de projetos de pesquisa e extensão e sua orientadora, a professora Nelma, conta que a cobrança sobre suas participações nesses projetos era focada na sua profissionalização no campo das artes.

"Assim que começou a participar dos projetos, ele passou a comercializar pequenos trabalhos de artes, porque a ilustração científica exige domínio técnico de desenho e pintura. Então, a cada técnica nova que ele aprendia, era revertido em trabalho profissional próprio", explica Nelma. A bagagem de pesquisador e extensionista em ilustração científica que desenvolveu no IF abriria portas para que Alex mais tarde se tornasse bolsista na Fiocruz - RJ, no principal centro da ilustração científica do país.

Ao participar de atividades em sala de aula, projetos de pesquisa e extensão e discussões pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas, Alex foi desabrochando como artista, como pessoa e também como quilombola. Sua professora conta orgulhosa que acompanhou o processo de desabrochar do aluno até ser o artista que é hoje: "um Alex que cria, que caminha, que luta e que fala de tudo, de si, principalmente, de sua gente, e que não esquece e não vai esquecer de onde veio e porque veio", relata a professora.



Escola de Belas Artes

Não esqueceu mesmo. O artista ingressou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2020, uma escola que se origina na Escola Real das Ciências Artes e Ofícios, criada por D. João VI, em 1816. Mesmo distante de casa, Alex continua intimamente ligado à sua terra, a suas origens. Suas obras retratam sua família, suas experiências no Quilombo do Barroso, suas lembranças e vivências no campo.

Para Alex, não foi fácil migrar e ser um quilombola nordestino em uma escola tradicional e elitista de Artes, em um dos cursos mais caros da UFRJ (pelas despesas com materiais didáticos), mas o artista tem conquistado seu espaço. "Eu não tinha pai, tenho uma mãe que sempre me apoiou nas palavras, sempre foi amorosa, mas nunca pôde me apoiar financeiramente e eu que tinha que me virar, trabalho desde os 11 anos, saí de casa cedo, estou me virando no mundo e estou alcançando minhas coisas".

Para ele é incrível estar na UFRJ e conquistar tudo o que vem conquistando, mas ele vê todos os dias estudantes pobres desistindo, ficando para trás. Ser a exceção inspira, mas também incomoda. "Nem todo mundo fica feliz, né? Eu sou o estereótipo do nordestino baiano, quilombola, bobinho. As pessoas sempre me viram assim, como o bobinho, e de repente você começa a ganhar destaque… nem todo mundo fica feliz com isso, infelizmente essa é a realidade e eu tenho que suportar, já sofri muito preconceito e continuo sofrendo, sei que vou sofrer pro resto da vida".

Referências

Duas de suas principais referências atualmente são artistas negros formados nessa mesma escola que, como Alex, enfrentaram o racismo e as consequências de desafiar a ordem e o destino traçado para corpos como o seu: Artur Timóteo da Costa (Rio de Janeiro, 1882 - 1922) e Estêvão Roberto da Silva (Rio de Janeiro, 1845 - 1891). Em um desses casos de racismo, Estevão Roberto da Silva foi preterido em uma premiação, na qual era reconhecido por seus pares como o melhor, e, ao receber um prêmio inferior ao merecido, recusou diante do imperador Dom Pedro II.


Artur Timóteo da Costa e Estevão Roberto da Silva

"Eu sou a personificação desse outro lado do Brasil que não deveria dar certo e quando a gente dá certo, incomoda muita gente", afirma Alex. Artur Timóteo da Costa, Estevão Roberto da Silva e Alex Matheus da Hora fizeram seus corpos excluídos chegarem a lugares inimagináveis para muitos dos seus e, através da pintura, levaram a beleza, a alegria e a dor, a humanidade e o brilho de corpos como os seus para muitas pessoas.

O Alex menino não imaginava que estudaria na Escola de Belas Artes da UFRJ pelas condições de sua família, mas acreditou em seu talento e buscou os seus sonhos. "Eu sempre acreditei em mim, nunca duvidei. Quando a gente tem um objetivo e passa a visualizar isso, todo o sofrimento, toda a dificuldade que a gente enfrenta passa a ser suportável e comigo foi assim: a professora Nelma sempre identificou o meu talento, eu passei a ver isso também em mim e hoje eu me acho incrível, eu sei que posso alcançar muitas coisas". Os planos futuros do artista baiano que, ao ver seu corpo em movimento, aprendeu a sonhar é expor suas obras em galerias nacionais e um dia chegar às principais galerias do mundo.

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O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano) foi criado em 2008 e é uma instituição de ensino médio e superior, focado na Educação Profissional e Tecnológica. Agrega as antigas Escolas Agrotécnicas Federais e as Escolas Médias de Agropecuária Regionais da Ceplac (Emarc) presentes na Bahia. Atualmente, possui 14 campi nos municípios de Catu, Senhor do Bonfim, Santa Inês, Guanambi, Valença, Teixeira de Freitas, Itapetinga, Uruçuca, Bom Jesus da Lapa, Governador Mangabeira e Serrinha, Alagoinhas, Itaberaba e Xique-Xique.

Enviado por Rhamayana Barreto, jornalista do IF Baiano

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