No "Blog Santanópolis", a
postagem no domingo, 1, de "Memórias de
Arnold Ferreira da Silva", que cita a viagem de dois cientistas europeus, Carl
Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix em 1819, que descrevem Feira de Santana,
ainda arraial, como "pobre lugarejo cujos moradores revelam o tipo exato do
sertanejo".
O professor Evandro Oliveira pesquisou mais sobre a importância desta viagem e
encontrou o texto que se segue:
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Carl Friedrich Philipp von
Martius nasceu na cidade bávara de Erlangen em 17 de abril de 1794. Filho de um
farmacêutico, sua escolha profissional fora totalmente influenciada pelo tipo
de trabalho do pai, e por isso posteriormente decidiu estudar medicina. Em 1814
finaliza o curso com a apresentação de um trabalho de doutorado sobre um estudo
de botânica. Nessa mesma época, já era conhecido do cientista e zoólogo Johann
Baptist von Spix, que possibilitou a entrada de von Martius na Academia de
Ciências da Baviera.
Após retornar de sua jornada ao Brasil se torna membro e secretário vitalício da Academia e ocupa também o cargo de conservador do Jardim Botânico de Munique. Além de professor de botânica na Universidade de Munique, Carl von Martius participa de várias sociedades científicas dentre elas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Após retornar de sua jornada ao Brasil se torna membro e secretário vitalício da Academia e ocupa também o cargo de conservador do Jardim Botânico de Munique. Além de professor de botânica na Universidade de Munique, Carl von Martius participa de várias sociedades científicas dentre elas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Em 1854, o rei Maximiliano
II da Baviera introduz o projeto de um "palácio de vidro" no Jardim,
causando grande revolta em von Martius que abdica do cargo de conservador.
Carl Friedrich von Martius
morreu em 1868 aos 74 anos em Munique no dia 13 de dezembro deixando esposa e
filhos. Foi sepultado no Alter Südfriedhof (Munique).
Percurso da expedição de
1817 a 1820
Carl Friedrich Philipp von
Martius chegou ao Brasil em 1817 fazendo parte da comitiva da arquiduquesa
austríaca Leopoldina, que viajava para o Brasil para casar-se com Dom Pedro I.
Acompanhado do cientista Johann Baptist von Spix (1781-1826), recebera da
Academia de Ciências da Baviera o encargo de pesquisar as províncias mais
importantes do Brasil e formar coleções botânicas, zoológicas e mineralógicas,
apesar da posição de outros naturalistas, que consideravam a viagem perigosa.
Auxiliados por nativos e
tropeiros, partiram do Rio de Janeiro em dezembro de 1817 rumo ao norte do
país, passando por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e pela Bahia. Ao chegarem em Salvador em novembro do ano seguinte,
despacham o material zoobotânico, até então coletado e iniciam nova etapa da
jornada. Nos quatro meses seguintes concluem a travessia dos inóspitos sertões
de Pernambuco, Piauí e Maranhão.
Após percorrerem milhares de
quilômetros, sob chuvas torrenciais, seca, sede, calor e doenças, passam alguns
meses em São Luís recuperando-se do grande desgaste psicológico e físico. O mês
julho de 1819 foi marcado pelo inicio da exploração da bacia do Amazonas que
durou aproximadamente 8 meses. Seguiram
o rio Amazonas até alcançarem a atual fronteira do Brasil com a
Colômbia. Devido à doença do cientista Johann von Spix, o retorno da expedição
foi antecipado e em 1820 retornaram à Alemanha.
Conclusão da viagem ao Brasil
Seis anos depois da chegada
à Alemanha, Spix morreu em 1826, em consequência de uma doença tropical
contraída durante a expedição no Brasil.
O livro 'Reise in Brasilien',
composto por três volumes, foi publicado entre os anos de 1823 e 1831. Ele
contém desenhos, estampas e mapas revelando informações interessantes do
Brasil. Os desenhos feitos por Martius e Spix não só retratam a fauna e a
flora, mas também as paisagens, o cotidiano do país e a viagem realizada pelos
dois cientistas.
A Flora Brasiliensis foi a
obra de maior importância feita por Martius, tinha o objetivo de documentar e
sistematizar todas as espécies de plantas brasileiras estudadas e também sua
utilização medicinal, comercial e econômica. Carl von Martius não presenciou a
conclusão de sua obra que fora sintetizada em 40 volumes, contendo mais de
22.000 espécies de plantas. Após sua morte, cientistas de outras nacionalidades
ajudaram a concluir a obra que foi finalizada em 66 anos.
Lundu instrumental recolhido
por Von Martius em sua viagem ao Brasil entre 1817 e 1820, publicado como anexo
do livro "Viagem Pelo Brasil", de Spix e Martius. É o registro
musical mais antigo que se conhece do lundu. .
Suas observações não se
restringiram à botânica, suas obras contêm diversas pesquisas sobre etnografia,
folclore brasileiro e estudos das línguas indígenas.
A obra Viagem pelo Brasil
descreve detalhadamente os costumes e características de diferentes tribos
brasileiras, também descrevendo as línguas usadas por cada tribo. Martius faz
uma tentativa de classificar as diferentes tribos, demonstrando sua visão
etnocentrista, colocando os indios em uma posição inferior ao homem europeu.
As opiniões de Von Martius e
os preconceitos nelas encontrados são fruto do século XIX, uma época na qual
ideias de eugenia predominavam no mundo civilizado. Desde o período colonial, é
possível encontrar escritos que foram chamados de 'histórias do Brasil', tais
como relatos de administradores, missionários e viajantes que registraram os
fatos ocorridos e observações sobre a vida e os costumes dos habitantes do
Brasil entre os séculos XVI ao XVIII. Todavia, a preocupação com uma história
que tomasse a ideia de um passado nacional é engendrada de maneira pontual com
o surgimento político do Brasil independente. A partir da criação do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), cerca de sete anos antes da data da
monografia, é que se percebe mais claramente a preocupação por parte da elite
letrada e política com o projeto de formular uma história do Brasil. Mas é
somente na década seguinte é que se acentuam as questões referentes à
formulação de uma história pátria. Em um momento que a elite dirigente buscava
consolidar o Estado imperial, todas as questões relativas à história do Brasil
seriam cruciais para traçar a forma de se contá-la e a forma como os
brasileiros se veriam a si próprios.
Para buscar as respostas a
essas inúmeras questões, o secretário do referido Instituto, Januário da Cunha
Barbosa, propôs uma premiação para quem respondesse sobre qual o melhor sistema
para escrever a História do Brasil. O ganhador do concurso foi von Martius, em
contato com a voga da disciplina histórica na Europa, particularmente na
Alemanha e propôs uma história do Brasil que fosse ao mesmo tempo
"filosófica" e "pragmática", tendo como eixo a formação de
seu povo, incluindo nesta formação a "mescla das raças".
A monografia de von Martius
"Como se deve escrever a história do Brasil" aparece inserida numa
preocupação com uma história que tomasse a ideia de um passado nacional, comum
a todos os "brasileiros", que teve início com o surgimento político
do Brasil independente. Sua contribuição foi tão importante para o conhecimento
da flora brasileira, que von Martius foi homenageado como um nome de rua, no bairro
do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro.
Com sua pesquisa, Von
Martius inaugura uma linha de pensamento que descreve a formação da identidade
nacional brasileira, a partir da junção das três diferentes "raças" e os
fatores naturais. Essa linha de pensamento influenciou muitos historiadores do
século XIX e também a produção literária da época que se voltava aos cenários
descritos pela viagem de Martius e Spix em romances e poesias.
Ainda não há muito tempo era
opinião geralmente adotada que os indígenas da América foram homens diretamente
emanados da mão do Criador. (…) Enfeitado com as cores de uma filantropia e
filosofia enganadora, consideravam este estado como primitivo do homem:
procuravam explicá-lo, e dele derivavam os mais singulares princípios para o
Direito Público, a Religião e a História. Investigações mais aprofundadas,
porém, provaram ao homem desprevenido que aqui não se trata do estado primitivo
do homem, e que pelo contrário o triste e penível (sic) quadro que nos oferece
o atual indígena brasileiro, não é senão o residuum de uma muito antiga, posto
que perdida história.
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