Palco de grandes acontecimento vale a pena viajar
no tempo, e voltar ao Cine Teatro Santana, na visão de quem o frequentava
constantemente, o historiador Antônio Moreira Ferreira, também conhecido como
Antônio do Lajedinho:
Em 1919 Ruy Barbosa veio fazer uma visita aos seus
correligionários políticos de Feira de Santana. Naquela oportunidade fez um dos
mais importantes pronunciamentos políticos da época, com grande repercussão em
todo o Brasil. Aquele pronunciamento foi feito no palco do Cine Teatro Santana.
É o Cine Teatro Santana, parte histórica da Feira,
que ora volta nas lembranças de minha juventude.
O Cine Teatro que conheci na década de 30 era muito
grande para o número de habitantes da cidade.
Situado na antiga rua Direita, hoje Conselheiro
Franco, em frente ao "Beco do Mocó", ocupava uma área de aproximada de 600 a
800 metros quadrados, tendo na frente uma porta larga que servia de entrada
para a sala de espera, mais duas portas de frente, para saída, e duas bilheterias
entre as portas.
Ainda na frente existiam três janelas na parte alta, no
mezanino, que, com o advento do cinema foram fechadas as laterais e
transformadas em seteiras a central onde foi instalada a máquina de projeção (a princípio parava a projeção para trocar a parte seguinte do filme).
A parte interna era mobiliada com cadeiras, tendo
uma divisão na parte próxima do palco, (local privilegiado para o teatro e
discriminado em "geral" para cinema).
Nas laterais, a uns três metros do solo, havia uma
carreira de frisas e mais outros três metros acima, ficavam os camarotes, sendo
os de mezanino especiais. Tudo com o realce da arte barroca.
Naquele palco, que tinha vários camarins,
desfilaram os grupos dramáticos Sales Barbosa, do qual faziam parte Elziário
Santana, Osvaldo Santos, Florisberto Moreira da Silva, Antônio Ribeiro, as
irmãs Zaida, Zenilda, Zorilda e outras.
O Taborda que tinha Gilberto Costa, Martiniano
Carneiro da Silva, Joaquim Borges da Costa, Manoel da Costa Ferreira, Aurélio
Vasconcelos, Alberto Boa Ventura e outros.
Além do Grêmio Lítero-Dramático Rio Branco, do qual
faziam parte Dr. Gastão Guimarães, Dr. Juventino Pitombo, Antônio Ferreira da
Silva etc, como outros grupos que por aqui passaram.
Quando comecei a frequentá-lo, na década de 30, o
cinema ainda era mudo por aqui. O seu dono era o Sr. Calmon de Siqueira e os
operadores eram Florisberto Moreira (Zinho) e Joaquim dos Santos (Quincas).
Logo chegaram os primeiros filmes falados que
trouxeram mais adeptos ao cinema. Aos domingos eram oferecidos filmes
dramáticos, estrelados por Bette Davis, Kay Francis, Errol Flynn, Rodolfo
Valentino etc.
As segundas-feiras eram reservadas para os famosos
bang-bangs, que tinham como tradicionais "mocinhos" o Buck Jones, Kay
Maynard, George O'Brien, Tom Mix e outros.
Era a rapaziada que fazia questão de ocupar as
gerais, porque ali todos aplaudiam batendo o assento e gritando a cada castigo
que o mocinho aplicava no bandido.
Eram dois pandemônios: o da tela e o dos
torcedores. Muitas vezes era necessário parar a projeção e acender as luzes
para que os torcedores se acalmassem.
Depois vieram os seriados, também às segundas, que
interrompiam em uma cena de suspense e aparecia na tela "VOLTE NA PRÓXIMA
SEMANA". E durante os dias seguintes os homens comentavam os acontecimentos do
seriado, como hoje se comentam as novelas na TV.
Um dia, em nome do progresso, mutilaram o histórico
Cine Teatro Santana para transformar o local em estacionamento de aluguel para
automóveis.
De pé apenas "a marca do crime": um pedaço de
parede que desafia o tempo e mexe com as lembranças dos velhos contemporâneos
que ainda vivem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário