Por Reinaldo Azevedo
Bem, bem, bem… Então vamos ver. Técnicos do Tribunal Superior
Eleitoral que analisaram a prestação de contas da candidata do PT à Presidência
em 2014, Dilma Rousseff, recomendaram a sua rejeição. O parecer foi enviado a
Gilmar Mendes, ministro do STF e que é o relator do caso no TSE. Ele remeteu o
parecer ao Ministério Público Eleitoral e estipulou um prazo de 48 horas para
que o órgão se manifeste. Nesta quarta, o ministro deve apresentar o relatório.
O gabinete de Mendes também andou encontrando coisas estranhas. Já chego lá.
Antes, é preciso destacar que tem um motorista no meio do caminho. No meio do
caminho tem um motorista.
Segundo informam Andréia Sadi, Ranier Bragon e Gustavo Uribe na Folha,
vejam vocês, "a segunda maior fornecedora da campanha de Dilma Rousseff tem
como um dos sócios administradores uma pessoa que, até o ano passado, declarava
o ofício de motorista como profissão."
É… Uma empresa chamada Focal Confecção e Comunicação Visual
recebeu a bolada de R$ 24 milhões da campanha. Só o marqueteiro João Santana
levou mais: R$ 70 milhões. A Focal fica em São Bernardo, e um dos seus donos,
no papel ao menos, é Elias Silva de Mattos, um rapaz que é motorista e que, até
o ano passado, recebia R$ 2 mil por mês. Ele se tornou sócio em novembro do ano
passado, com participação de R$ 3 mil na composição da empresa. A outra sócia é
Carla Regina Cortegoso, com cota de R$ 27 mil.
A reportagem da Folha falou com Mattos. Sua reação? Esta, prestem
atenção:
"Eu sabia que ia virar transtorno na minha vida. Eu não posso dar entrevista, não estou preparado para falar. Eu não sou nada, vai lá conversar com eles". Mattos se referia à empresa.
"Eu sabia que ia virar transtorno na minha vida. Eu não posso dar entrevista, não estou preparado para falar. Eu não sou nada, vai lá conversar com eles". Mattos se referia à empresa.
Quem falou em nome "deles" foi Carlos Cortegoso, pai de Carla
Regina, que nem sócio da empresa é. Ele preferiu emprestar à coisa um sotaque
sociológico, de luta de classes talvez: "Todo mundo tem o direito de ascender
na escala social mediante o trabalho e competência". Nisso, claro!, estamos de
acordo, né? Em 2005, com outra composição societária, sem o motorista, a Focal
foi apontada por Marcos Valério - aquele do mensalão - como uma das
destinatárias de recursos do esquema, por indicação do PT.
Voltemos à prestação de contas. As notas fiscais apresentadas pela
Focal, que teria atuado na área de montagem de eventos, integram o lote dos
problemas apontados pelos 16 técnicos do TSE, que afirmam ter encontrado
irregularidades em 4% da arrecadação de campanha (R$ 319 milhões) e em 14% das
despesas - ao todo, R$ 350 milhões.
O ministro Gilmar Mendes solicitou ainda à Receita dados
complementares sobre cinco empresas que colaboraram com a campanha de Dilma: a
Saepar Serviços, a Solar BR, a Gerdau Aços Especiais, a Ponto Veículos e a
Minerações Brasileiras Reunidas. O total doado por essas
companhias ultrapassa os R$ 10,6 milhões. A lei estabelece que cada
empresa pode doar, no máximo, 2% do seu faturamento. Segundo cálculo feito pelo
gabinete de Mendes, o limite foi ultrapassado. Em despacho à Receita com data
de sexta, o ministro cobra os números com "máxima urgência", dados os "fortes
indícios de descumprimento do limite para doação".
E agora?
Mendes deve apresentar seu relatório na quarta. Pode acatar o parecer dos especialistas do TSE - e vamos ver o que diz o Ministério Público Eleitoral - ou rejeitá-lo. Em 2010, Lewandowski ignorou a opinião dos técnicos, que recomendavam a rejeição das contas de Dilma, e as aprovou, no que foi seguido por seus pares. Ele chegou, acreditem!, a omitir a avaliação técnica em seu texto final.
Mendes deve apresentar seu relatório na quarta. Pode acatar o parecer dos especialistas do TSE - e vamos ver o que diz o Ministério Público Eleitoral - ou rejeitá-lo. Em 2010, Lewandowski ignorou a opinião dos técnicos, que recomendavam a rejeição das contas de Dilma, e as aprovou, no que foi seguido por seus pares. Ele chegou, acreditem!, a omitir a avaliação técnica em seu texto final.
Mesmo que as contas sejam rejeitadas pelo TSE, Dilma pode ser
diplomada. Mas a oposição terá em mãos um trunfo para pedir uma investigação
judicial, que pode resultar até na cassação do diploma da presidente e na
consequente perda do mandato. O caso do motorista que ganhava R$ 2 mil e que
agora é sócio de um empreendimento que está em segundo lugar no item das
despesas do PT não ajuda muito, né? Sobretudo porque, tudo indica, o rapaz não
está à vontade na pele de um dos donos de uma empresa que fatura R$ 24 milhões
com um único cliente.
Para arrematar: pensemos nesse caso. Alguns tontos dizem que os
males do Brasil são as doações de empresas a campanhas. É mesmo? Se o
financiamento fosse público, será que não existiriam mais assalariados de R$ 2
mil como sócios de empreendimentos de faturamento milionário?
Tem um motorista no meio do caminho, PT!
No meio do caminho, tem um motorista!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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