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quarta-feira, 11 de junho de 2014

"A melhor seleção do Brasil"



Por Alexandre Garcia
O jornalista gaúcho Luiz Carlos Prates, mostrando por que a seleção de 1970 é considerada a melhor de todas, explicou que foi por causa do governo Médici: o chefe da delegação era um brigadeiro, o preparador físico um capitão (Cláudio Coutinho) e imperava a disciplina militar - até o Jairzinho cortou a cabeleira black power. Com organização e disciplina, a seleção ganhou o tri com  futebol bonito, brasileiro no estilo e na raça. Foi, realmente, a melhor de todas.  Mas não foi por causa do Médici. Foi por causa do clima que envolvia o país em tempos de "Ame-o ou Deixe-o" - adesivo que todos carregávamos no parabrisa de nossos carros, mensagem destinada aos terroristas que atrapalhavam a paz da maioria.  Por causa do espírito do "Prá Frente Brasil", um entusiasmo que fez o Brasil crescer a média de 11,2% por três anos consecutivos, o que ficou conhecido como "o milagre brasileiro". Era um país organizado, cidades limpas, depois da campanha contra o "Sujismundo", segurança nas ruas e emprego. 
Um jovem jornalista meu admirador mandou-me o mais recente artigo dele, em que falava no "sanguinário Médici". Expliquei a ele que Médici, cigarrinho na boca e radinho de pilha no ouvido, era aplaudido quando entrava no Maracanã, que vaia até minuto de  silêncio. Expliquei que havia uma guerra interna, começada por uma gente que explodiu uma bomba que matou um jornalista. Que de 1964 a 1984 - período em que durou o regime militar, morreram nessa luta menos de 500 pessoas, de ambos os lados - dá quatro dias de homicídios no Brasil de hoje. O jovem colega reconheceu que não vivera aquela época e que o "sanguinário" era por conta do professor da faculdade de jornalismo, que assim se referia a Médici. O professor, pelo jeito, apenas destilava frustração por não terem conseguido implantar no Brasil uma ditadura como a que perdura há 51 anos em Cuba.
Pois eu vivi aquele período. Tinha 23 anos em 31 de março de 1964, quando o prefeito de Encantado/RS me convocou para defender a Prefeitura, que seria atacada por um "grupo dos onze", milicianos criados por Brizola. Anos depois,fui assaltado por um grupo chamado VAR-Palmares, com  vivas a Che Guevara, no Banco do Brasil Viamão. No auge do governo militar, em 1968, eu fui presidente do Diretório Acadêmico do jornalismo da PUC/RS. Depois fui repórter do 'Jornal do Brasil'. Ouvia músicas de protesto ("quem sabe faz a hora, não espera acontecer"), vibrava com peças teatrais críticas, como "Liberdade,Liberdade", fazia poemas ("Luther, Kennedy, Guevara - estão matando os heróis do novo mundo - te cuida, dom Hélder").
Lembrei-me disso porque leio nos jornais  que o grupo Dzi Croquetes desafiava o governo militar; que o Chico fazia letras ironizando Médici e Geisel; que Augusto Boal e outros teatrólogos caiam de pau no Governo; que o 'Pasquim' satirizava os militares. Foi uma época em que a Bossa Nova teve sua fase áurea e conquistou o exterior; que floresceu o teatro engajado (contra o governo);  brilharam nos festivais as músicas de protesto. Hoje acabou o mote, o brilho, a criatividade. Paradoxal. Aliás, é bom lembrar que a ditadura manteve eleições para tudo. Presidentes eram eleitos como foi Tancredo: pelo Congresso, onde Ulysses perdeu para Geisel; o general Euler, da oposição, perdeu para Figueiredo. Houve restrições: um terço dos senadores eram nomeados; em cidade de fronteira e capitais, os prefeitos eram eleitos de forma indireta, assim como os governadores. E um dia terminou. Tal como planejara Geisel, que extinguiu o AI-5, a censura, e deixou para Figueiredo abrir a camisa de força do bipartidarismo, promover a anistia e a volta dos exilados e entregar tudo para os civis.
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