Por Reinaldo Azevedo
Li com atraso um artigo de Sandro Vaia, publicado no Blog do
Noblat. Mas nunca é tarde. Eu o reproduzo abaixo.
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A observação foi feita em tom irônico pelo professor norte-americano Douglas Harper em seu dicionário etimológico e convenientemente lembrada esta semana pelo crítico literário Sérgio Rodrigues em seu blog. Esse passou a ser o xingamento campeão nas redes sociais.
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A observação foi feita em tom irônico pelo professor norte-americano Douglas Harper em seu dicionário etimológico e convenientemente lembrada esta semana pelo crítico literário Sérgio Rodrigues em seu blog. Esse passou a ser o xingamento campeão nas redes sociais.
Usa-se a torto e direito, mais ainda do que reacionário e
direitista, e por ironia das ironias na maioria das vezes é usado por quem não
sabe que seu significado lhe serviria como uma luva. Mal comparando, seria como
se o Tiririca chamasse alguém de palhaço.
Na semana passada, dois acontecimentos muito didáticos jogaram
luzes sobre esse jogo de sombras onde se esconde esse crescente autoritarismo
castrador que se espalha como unha-de-gato em muro chapiscado.
A Folha contratou dois novos colunistas semanais para, segundo
ela, ampliar o pluralismo de opiniões em seu caderno "Poder": Reinaldo Azevedo,
que tem um blog campeão de audiência hospedado na Veja, e Demétrio Magnoli,
sociólogo e geógrafo conhecido por combater a imposição de cotas raciais nas
universidades brasileiras.
A internet se encheu de gritos de maldição contra os articulistas
e o jornal que os contratou, leitores anunciaram que cancelariam as suas
assinaturas e, fato inusitado, a coluna de estreia de Azevedo, sobre a ação de
libertação dos beagles de um instituto de pesquisas científicas, levou a
ombudsman do jornal a classificar delicadamente o colunista como um "rotweiller" - o que ela explicou depois, claro, era só uma força de expressão.
Um caso claro de intolerância ideológica, que pode ser facilmente
curado por duas providências simples: ou deixar de ler o jornal ou continuar
lendo o jornal, mas não ler os colunistas desagradáveis. Rebater argumentos e
tentar provar com fatos que os deles estão errados e que os seus estão certos
nem pensar. Isso dá muito trabalho. Negar em bloco e chamar de "fascista"
facilita a vida. Desqualificar sempre, debater nunca.
Mais grave do que isso foi o que aconteceu numa feira literária em
Cachoeira, no interior da Bahia, quando ativistas armados apenas pelas suas
bordunas de intolerância intelectual impediram, aos gritos, que se realizassem
os debates entre o sociólogo Demétrio Magnoli e a cientista social Maria Hilda
Baqueiro Paraíso e o filósofo Luiz Felipe Pondé e o sociólogo francês Jean
Claude Kaufmann.
Magnoli e Pondé foram impedidos de falar - como Yoani Sánchez já
havia sido impedida meses atrás - por pessoas que os xingavam de "fascistas". Exemplo perfeito daquilo que os franceses chamam de "glissement
semantique" - ou deslizamento de sentido das palavras.
País estranho e paradoxal onde opiniões fortes são comparadas com
mordidas de rotweiller e onde fascistas em ação proíbem debates e quem é
impedido de falar é que é o fascista.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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