Por que melhorar de vida em Cuba, ainda que honestamente, é um ato tão subversivo quanto dar uma opinião sobre a política nacional
Padaria no centro de Havana
Foto: Reprodução
Desde 2006, quando o
ditador Fidel Castro transferiu a presidência de Cuba para o seu irmão, o
general Raúl Castro, o governo vem anunciando o que chama de reformas com o
intuito de "atualizar o regime socialista". Com a queda do Muro de
Berlim, em 1989, e o esfacelamento da União Soviética e dos regimes do Leste
Europeu, no início da década de 90, restaram no planeta apenas dois países com
esse sistema político e econômico: Cuba e Coreia do Norte. Ao alardear
"reformas", o regime cubano passa a impressão de que está preparando
o país para uma transição gradual para um modelo inspirado na China ou no
Vietnã, que do comunismo mantiveram apenas a ditadura, mas se abriram para a
economia de mercado. Amargo engano. A reportagem de VEJA esteve durante oito
dias em Havana e em Camaguey, cidade com 320 mil habitantes, para avaliar o
efeito das mudanças anunciadas nos últimos sete anos. Entre conversas com
fazendeiros, pescadores, médicos, barbeiros e dissidentes, a conclusão é que, a
despeito da ajuda de países como Venezuela, China, Canadá e Brasil, a vida
ficou mais difícil. O Estado, dominado pelos militares, mantém o controle de
todas as atividades relevantes. A perseguição política não foi aliviada. Apenas
mudou sua natureza. Se antes era realizada buscando algum suporte na lei, agora
se dá de forma clandestina, com milícias governistas reprimindo os opositores.
Por fim, a população continua impedida de progredir. Aos olhos do regime
castrista, a concentração da propriedade contradiz a essência do socialismo e
jamais será permitida. "A China precisou de apenas cinco anos para liberar
o capitalismo de maneira irrevogável", diz o economista Rafael Romeu, da
Associação para o Estudo da Economia Cubana, em Washington. "Raúl Castro
completou sete anos no poder e a economia continua na mesma."
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