Por Celso Arnaldo Araújo
Mais dramático que o clímax de "Avenida
Brasil"! No mesmo horário, a mocinha Dilma Rousseff luta contra todas as suas
forças para dizer "Cajazeiras" e faz uma confissão digna de último capítulo:
"Tem hora que eu fico tatibitati, viu gente?"
A ideia era adiar para o sábado (13) o comício do
bairro de Cajazeiras, em Salvador, fugindo à concorrência do capítulo final da
novela que milhões de espectadores elegeram, em primeiro turno, como programa
obrigatório da sexta-feira (12). A esta altura, comícios do PT, mesmo com a presença
do astro-mór de seu elenco de canastrões, levam uma sova de audiência até do
último capítulo de "Máscaras" e do primeiro de "Balacobaco" - imagine do
fenômeno "Avenida".
Mas tinha mesmo de ser na sexta. Sábado, era
dia de Dilma jogar a máquina da presidência "republicana" no colo de Marcio
Pochmann, em Campinas, e no de Fernando Haddad, em São Paulo. Algum meliante da
turma da pesada do PT, afrontando a Justiça Eleitoral, chegou a pensar em levar
um telão para o palanque, a fim de que o povo pudesse comparar as
interpretações de Dilma e Carminha, sem perder um lance de ambas - mas uma
juíza baiana, em boa hora, proibiu a patifaria. E a novela? Com certeza, o
próximo Diário da Dilma registrará que ela deixou mamãe Dilma Jane gravando -
até porque, sábado à noite, reprise do último capítulo, também tinha comício.
Sem a novela, era Dilma e o povo de
Cajazeiras. Cajazeiras e Dilma. Audiência pequena, de TV estatal da Bélgica,
mas qualificada - todos já votam no PT, com ou sem a estrela. Dilma então tomou
fôlego e prometeu a si mesma: diante de meia-dúzia de abnegados, este discurso
ficará para a história.
Dito e feito. Por ora, só os leitores da
coluna tomarão conhecimento desta peça histórica - mas os historiadores sérios
da era lulopetista, daqui a 50 ou 70 anos, se debruçarão sobre o lendário
Comício de Cajazeiras, se só este sobrar na poeira do tempo, com o espanto de
quem enfim descobriu que, durante esse período, o comando do país esteve
entregue a figuras que o desqualificaram por um conjunto aterrador de
despreparo, ignorância, má-fé e desonestidade política e intelectual - se
houvesse nelas algum intelecto.
"Boa noite Cazajeiras (sic), boa noite à
Bahia, boa noite Salvador"
Do bairro para o estado e depois para a
cidade, o mundo de Dilma dá voltas e traz a presidente a uma cidade onde, em
2010, teve uma vitória consagradora. Desta vez, a coisa é mais difícil.
Pelegrino mal chegou ao segundo turno. Mas não depois desta noite. Te cuida,
Carminha.
"Eu, quando chego aqui, tenho um sentimento.
O sentimento é de gratidão. Imensa gratidão por cada (sic) mulher e por cada
(sic) homem desse (sic) estado, dessa (sic) cidade, desse (sic) bairro de
Cazajeiras (sic)…"
Agora a ordem fez sentido, apesar da
desagradável e dupla cacofonia suína. Pena que o nome do bairro, na fala de
Dilma, não tenha soado bem, pela segunda vez - é como se um presidente, num
comício na praça da Sé, tivesse chamado São Paulo de Pão Saulo. Duas vezes.
Desta vez, os cajazeirenses reagem em pequeno
coro, com um alarido mouco:
- Cajazeiras!
- Cazajeiras!, reincide Dilma, por reflexo
condicionado.
A supergerente que finge conhecer todos os
quadros de Caravaggio de nome e figura tira o pito do povo de letra -
literalmente. Literalmente.
- Ca-ja-zei-ras, escande cada sílaba, evocada
na memória viva de quem, mesmo em fuga, tentava não perder um capítulo de "O
Bem-Amado" e sobretudo das cenas das irmãs Doroteia, Dulcineia e Judiceia,
apaixonadas por Odorico.
- Ca-ja-zeiras, repete, triunfal, para não
deixar dúvidas de que sua mente, como dizem os áulicos, é um mata-borrão de
informações e conhecimentos. Até que foi rápido.
Em "O Direito de Nascer", uma das primeiras
novelas da TV brasileira, o personagem de Dom Rafael, que detinha o segredo do
nome de um filho legítimo não reconhecido e tinha sofrido um AVC no meio da
trama, levou 93 capítulos para enfim conseguir pronunciar o nome do herdeiro:
─ Al-ber-ti-nho Li-mon-ta!
O Direito de Nascer? Dilma deve ter pensado
de novo no último capítulo de "Avenida Brasil", que estava para começar, e no
sacrifício que fizeram os cajazeirenses ali presentes para perdê-lo. Era
preciso trazer à cena uma revelação bombástica - daquelas que, pelo menos,
encerram um bloco de novela. Lá vem:
- Tem hora que eu fico tatibitate, viu,
gente?
O fato de ter dito tatibitate sem
tatibitatear já foi uma proeza. Admitir uma certa dificuldade de expressão foi
outro feito - na história das presidências em nível mundial, só a confissão de
Bill Clinton sobre já ter fumado maconha, mas sem tragar, foi mais impactante.
Não houve surpresa, é claro, para os leitores desta coluna, que há anos
conhecem a Dilma tatibitate de todas as horas. Ali, havia uma explicação:
"Mas é emoção… E eu vim aqui porque eu quero
dar um testemunho de uma pessoa, que é o Nelson Pelegrino".
Dar um testemunho de, tomar um testemunho a,
dar um testemunho sobre? Afinal, o que quer Dilma de Pelegrino?
"Pelegrino é meu companheiro. Meu companheiro
de coração, de cabeça e de alma. O Pelegrino, o Jaques Wagner, toda (sic) esse
time que está aqui nesse palanque e vocês, nós somos um time".
Hum, metáforas sobre futebol não são
exatamente o forte de Dilma - haja vista o "eu já vi, parei de ver, voltei a
ver" sobre Nilmar e Ganso. Mas será muito pior do que nunca.
"Como um time de futebol ou o time de uma
equipe de qualquer esporte" - só o PT de Dilma para ser "o time de uma equipe".
"É (sic) aquelas pessoas que pegam junto".
Hum, hum. Pessoal do Supremo: é certo que já
não cabe nada novo no processo do Mensalão. Mas uma confissão presidencial
desse nível não é forte o bastante?
"Que tem a mesma força para agi (sic) junto.
É isso que é um time…"
Não diga.
"Enquanto eu falo de um time, eu digo de pessoas
que são capazes também de mudar as coisas, de transformar e de fazer aquela
situação que dá alegria a todos nós".
"Fazer aquela situação que dá alegria?" -
algum cajazeirense captou algum sentido na coisa? Pelegrino só vai dar alegria?
"No caso da Bahia, nós tamos (sic) que nem
(sic) quando é um time que marca gol…"
Quando o time do PTFC "marca gol (sic)", tem
obra aí - e não é das mais cheirosas. Porque daqui por diante, acaba a novela -
e começa a vida real no mundo chicaneiro do PT, pior do que na mais grotesca
novela mexicana.
O Comício de Cajazeiras não é apenas
histórico por mais uma vez revestir de galhofa o despreparo universal de Dilma
Rousseff como por, nos minutos seguintes, disponível ao exame dos leitores
desta coluna, escancarar a mais desavergonhada ação de governo, de chantagem e
ameaça, ao povo humilde de um bairro de Salvador cujo nome a presidente sequer
sabe pronunciar. Se os soteropolitanos não elegerem esse "time que marca gol",
está implícito que eles não ficarão nem no banco na próxima administração da
cidade, no que depender da técnica Dilma.
Essa história tatibitate de time de futebol é
para a quarta divisão da política - a política de Dilma, a pior técnica do
mundo para escalar seu ministério e seus aliados, e de seu maior craque, o
perna de pau Lula da Silva.
Assista ao vídeo: http://youtu.be/SxCJwa_RJng
Fonte: "O País Quer Saber"
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