Por Ricardo Noblat
Alguém duvida que Dilma Rousseff possa e goste muito de
poder?
Parte da força de um presidente é inerente ao cargo. Parte
decorre das circunstâncias que ele vive. Parte tem a ver com o modo como aplica
a força.
Ao fim e ao cabo, o crédito acumulado antes e depois de
governar é o que o diferencia dos seus antecessores - para melhor ou pior.
Afilhada do presidente mais popular da história do país, sem
a experiência de concorrer a eleições, Dilma venceu logo a primeira e em
seguida engoliu um ministério que jamais escalaria. Lula o escalou para
protegê-la e vigiá-la.
Nem assim Dilma se acanhou de livrar-se de uma fatia dele
antes de completar um terço do mandato.
Administra sem brilho até aqui. A nova versão do Programa de
Aceleração do Crescimento emperrou. A versão anterior avança devagar. O governo
carece de um projeto ambicioso para o país.
Com ou sem motivo, os ministros remanescentes e os que
sucederam aos demitidos temem trombar com a presidente.
O receio fortalece a impressão de paralisia. E, no entanto...
No entanto, aos olhos de quase 80% dos brasileiros, Dilma vai
muito bem. O fato de ser a primeira mulher a governar o país a favorece. Bem
como o fato de ser uma mulher disposta a empregar a força que detém. Seu
marketing pessoal tem sido tão bom quanto o de Lula.
Parabéns a João Santana, o responsável pela imagem de Dilma -
e, antes, pela de Lula.
Genial aquela história da "faxineira ética".
Quem liga que a faxineira conhecesse há muito tempo os
ministros depois forçados a deixar o governo sob suspeita de corrupção? Nenhum
deles foi chamado por Dilma para ser despachado.
A dois ou três, ela apelou para que ficassem nos cargos mesmo
depois de entregar suas cartas de demissão. Todos saíram porque fizeram as
contas e concluíram: é melhor ir embora do que arcar com o desgaste das
denúncias publicadas pela imprensa. Dilma acabou faturando a demissão de tantos
em tão pouco tempo.
A faxina rendeu-lhe tal cacife que ela pôde dar-se ao luxo de
conservar ao seu lado, carregando-o para cima e para baixo como prova do
triunfo de sua vontade, o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento.
Fernando embolsou grana com consultorias que não prestou. Esquisitíssimo!
Mas a faxineira gosta dele, ora essa.
Há vezes que a força serve ao bem, ao mal ou simplesmente a
ela mesma. No momento, Dilma a usa para derrubar os juros em duas frentes.
A primeira, dos bancos. Se os juros que eles cobram são
reduzidos, os empréstimos ficam mais baratos. Aí as pessoas pegam dinheiro
emprestado para consumir. A economia se reaquece.
A outra frente é a da taxa Selic, administrada pelo Banco
Central, mas sujeita à intervenção crescente da própria Dilma.
A dívida pública federal é da ordem de R$ 1,8 trilhão. Se a
Selic baixa, o custo de rolagem da dívida também baixa. E assim sobra mais
dinheiro para o governo investir ou fazer com ele o que quiser.
Quem aspira a enfrentar Dilma em 2014 admite que ela se
reeleja com folga se for bem-sucedida na guerra contra os juros e não cometer
grandes bobagens até lá.
O risco de cometer é permanente. Um exemplo? A CPI do
Cachoeira. O governo passaria sem ela muito bem, obrigado. Mas cedeu aos
caprichos de Lula, que a patrocinou.
Lula queria que a CPI pegasse a VEJA, o governador Marconi
Perillo (PSDB-GO) e o Procurador-Geral da República. E que atrasasse o
julgamento do mensalão.
Nada do que Lula queria parece destinado a ser alcançado. Com
um agravante: o julgamento do mensalão foi apressado. E não se costuma apressar
julgamentos para absolver os réus.
De tão insignificante e desprovida de talento, a oposição
dispensava uma CPI para lhe disparar um tiro ou dois.
O procurador-geral ganhou a solidariedade dos ministros do
Supremo Tribunal Federal.
Cuide-se Dilma para um eventual desfecho desastroso da CPI -
afinal, sua base de apoio no Congresso já foi maior e mais fiel.
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Mas o que atribuem a Dilma, a tal "faxina", não foi ela a investigar e espanar os "malfeitores" do planalto! Foi imposta, práticamente, a fazer isto, pela imprensa e pela oposição. Ganhou a fama de faxineira de graça. A CPMI foi um tiro no pé do PT, com certeza.
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