Deu no "Blog Reinaldo Azevedo" a partir de matéria em "O Estado de S. Paulo":
Descaracterizar o que ocorreu no dia 28 da definição de golpe de Estado tem sido um dos mais perceptíveis esforços do governo de facto de Honduras, liderado por Roberto Micheletti. Para uma imensa parcela dos quase 8 milhões de hondurenhos, no entanto, o rótulo do movimento que depôs o presidente Manuel Zelaya pouco importa.
“Se o preço da nossa liberdade é sofrer com o isolamento internacional e a escassez de dinheiro pela suspensão da ajuda externa, estamos dispostos a pagar”, disse ao Estado o estudante de Engenharia Carlos Vargas, durante uma grande manifestação realizada na quarta-feira por partidários de Micheletti na capital do país, Tegucigalpa. “Se quiserem chamar de golpe, não será problema, desde que mantenham Zelaya longe da Casa de Governo.”
Semanas antes de ser posto num avião por militares e expulso de Honduras, Zelaya tinha cerca de 30% de aprovação popular - grande parte dela originária das classes C, D e E, beneficiárias de alguns programas assistencialistas e de aumentos do salário mínimo acima da inflação.
Mas a aproximação de seu governo com o do venezuelano Hugo Chávez e o não cumprimento das promessas de melhorar os indicadores sociais do país custaram a ele uma forte rejeição. Honduras é o segundo país mais pobre da América Central. Só está na frente do Haiti numa região que nunca foi notória pela prosperidade.
A população abaixo no nível de pobreza é superior a 50%, e não melhorou desde que Zelaya chegou ao poder, após ser eleito em 2005 por margem estreita - venceu Porfirio Lobo por 49,9% a 46,1% -, apesar do quadro econômico internacional relativamente favorável.
O índice de desemprego e subemprego é superior a 30%. Durante o mandato de Zelaya, o país não conseguiu ampliar a capacidade de exportação de seus principais produtos - café, banana e têxteis -, que seguem nos mesmos níveis de 2006. A expectativa de vida (69,4 anos) e a mortalidade infantil (24,03 por mil nascimentos) estão entre as piores marcas do continente. Para complicar, Zelaya descuidou-se da questão da segurança pública, enquanto o índice de criminalidade em Tegucigalpa não parava de crescer.
A tentativa de realizar uma consulta popular - ainda que não vinculante - sobre uma possível reforma constitucional como forma de abrir caminho para um novo mandato foi a gota d?água para a maioria da população. Micheletti sustenta que a simples proposta de Zelaya para mudar a Carta já o destituía automaticamente do poder, de acordo com o que diz a Constituição. E justifica o fato de os militares terem expulsado o presidente do país com o argumento de que os soldados agiram por ordem do Congresso e do Supremo Tribunal. Como a Constituição de Honduras - que não contempla o instrumento do impeachment - é vaga sob muitos pontos, essa interpretação é possível, apesar de fortemente rejeitada por praticamente todos os países do mundo, que não reconhecem o governo de facto.
Embora reconheça implicitamente o golpe e tenha se disposto a mediar a crise, o cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, que chegou a ser cotado para ser papa, atribuiu as ações de Zelaya à responsabilidade por sua deposição. “Sou o primeiro a condenar um golpe de Estado, mas nesse momento não é factível a volta de Zelaya ao poder. O melhor para o país seria que ele renunciasse e deixasse de dividir a população”, disse, em entrevista a jornais hondurenhos.
“Zelaya deixou atrás de si uma imensa rejeição, seja pelo fraco desempenho de sua administração, seja pela aliança com Chávez”, disse Andrés Navajo, professor de ciências políticas da Universidade Nacional. “Ainda que se alcance algum acordo para que ele retorne ao poder, encontraria um país ingovernável, com um Congresso e um Judiciário hostis e uma população revoltada com suas ações.”
O retorno simbólico de Zelaya a Honduras, na sexta-feira - quando, vindo da Nicarágua, atravessou a fronteira por alguns metros e passou cerca de meia hora em território hondurenho -, não deve ter ajudado a melhorar sua imagem entre a população. Ao contrário, comentaristas de TVs favoráveis ao governo consideraram sua ação uma bravata ao mesmo tempo covarde e provocadora, pela qual expôs o país ao risco de um confronto sangrento.
“Houve um golpe aqui em Honduras, sim”, diz uma dirigente local do Partido Liberal, de Micheletti, Alda Mejía. “Que a história registre isso: em 28 de julho, golpeamos a corrupção, golpeamos um atentado contra nossa democracia e golpeamos a ingerência estrangeira.”
O país se prepara para realizar eleições presidenciais em 29 de novembro e os dois principais candidatos têm-se mantido discretos em suas declarações sobre o golpe. O vencedor deve tomar posse em janeiro.
Descaracterizar o que ocorreu no dia 28 da definição de golpe de Estado tem sido um dos mais perceptíveis esforços do governo de facto de Honduras, liderado por Roberto Micheletti. Para uma imensa parcela dos quase 8 milhões de hondurenhos, no entanto, o rótulo do movimento que depôs o presidente Manuel Zelaya pouco importa.
“Se o preço da nossa liberdade é sofrer com o isolamento internacional e a escassez de dinheiro pela suspensão da ajuda externa, estamos dispostos a pagar”, disse ao Estado o estudante de Engenharia Carlos Vargas, durante uma grande manifestação realizada na quarta-feira por partidários de Micheletti na capital do país, Tegucigalpa. “Se quiserem chamar de golpe, não será problema, desde que mantenham Zelaya longe da Casa de Governo.”
Semanas antes de ser posto num avião por militares e expulso de Honduras, Zelaya tinha cerca de 30% de aprovação popular - grande parte dela originária das classes C, D e E, beneficiárias de alguns programas assistencialistas e de aumentos do salário mínimo acima da inflação.
Mas a aproximação de seu governo com o do venezuelano Hugo Chávez e o não cumprimento das promessas de melhorar os indicadores sociais do país custaram a ele uma forte rejeição. Honduras é o segundo país mais pobre da América Central. Só está na frente do Haiti numa região que nunca foi notória pela prosperidade.
A população abaixo no nível de pobreza é superior a 50%, e não melhorou desde que Zelaya chegou ao poder, após ser eleito em 2005 por margem estreita - venceu Porfirio Lobo por 49,9% a 46,1% -, apesar do quadro econômico internacional relativamente favorável.
O índice de desemprego e subemprego é superior a 30%. Durante o mandato de Zelaya, o país não conseguiu ampliar a capacidade de exportação de seus principais produtos - café, banana e têxteis -, que seguem nos mesmos níveis de 2006. A expectativa de vida (69,4 anos) e a mortalidade infantil (24,03 por mil nascimentos) estão entre as piores marcas do continente. Para complicar, Zelaya descuidou-se da questão da segurança pública, enquanto o índice de criminalidade em Tegucigalpa não parava de crescer.
A tentativa de realizar uma consulta popular - ainda que não vinculante - sobre uma possível reforma constitucional como forma de abrir caminho para um novo mandato foi a gota d?água para a maioria da população. Micheletti sustenta que a simples proposta de Zelaya para mudar a Carta já o destituía automaticamente do poder, de acordo com o que diz a Constituição. E justifica o fato de os militares terem expulsado o presidente do país com o argumento de que os soldados agiram por ordem do Congresso e do Supremo Tribunal. Como a Constituição de Honduras - que não contempla o instrumento do impeachment - é vaga sob muitos pontos, essa interpretação é possível, apesar de fortemente rejeitada por praticamente todos os países do mundo, que não reconhecem o governo de facto.
Embora reconheça implicitamente o golpe e tenha se disposto a mediar a crise, o cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, que chegou a ser cotado para ser papa, atribuiu as ações de Zelaya à responsabilidade por sua deposição. “Sou o primeiro a condenar um golpe de Estado, mas nesse momento não é factível a volta de Zelaya ao poder. O melhor para o país seria que ele renunciasse e deixasse de dividir a população”, disse, em entrevista a jornais hondurenhos.
“Zelaya deixou atrás de si uma imensa rejeição, seja pelo fraco desempenho de sua administração, seja pela aliança com Chávez”, disse Andrés Navajo, professor de ciências políticas da Universidade Nacional. “Ainda que se alcance algum acordo para que ele retorne ao poder, encontraria um país ingovernável, com um Congresso e um Judiciário hostis e uma população revoltada com suas ações.”
O retorno simbólico de Zelaya a Honduras, na sexta-feira - quando, vindo da Nicarágua, atravessou a fronteira por alguns metros e passou cerca de meia hora em território hondurenho -, não deve ter ajudado a melhorar sua imagem entre a população. Ao contrário, comentaristas de TVs favoráveis ao governo consideraram sua ação uma bravata ao mesmo tempo covarde e provocadora, pela qual expôs o país ao risco de um confronto sangrento.
“Houve um golpe aqui em Honduras, sim”, diz uma dirigente local do Partido Liberal, de Micheletti, Alda Mejía. “Que a história registre isso: em 28 de julho, golpeamos a corrupção, golpeamos um atentado contra nossa democracia e golpeamos a ingerência estrangeira.”
O país se prepara para realizar eleições presidenciais em 29 de novembro e os dois principais candidatos têm-se mantido discretos em suas declarações sobre o golpe. O vencedor deve tomar posse em janeiro.
Um comentário:
A população tá certa.Golpear um golpe,uma tentativa de destruírem a democracia do país,tem mais é que ser destituído o imbecil que assim tentou agir.Esses esquerdoides gostam tanto de falar em "soberania" desse ou daquele país...e o porque Chaves se metia? Zelaya,agora,que aguente as consequencias de seu ato e o povo que não volte atrás.Mariana
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