Extraído de texto de Felipe Atxa, publicado no site “Mídia Sem Máscara”
No Brasil, funciona mais ou menos assim: um cineasta militante acorda com uma idéia para um filme. Vamos supor que essa idéia possa ser resumida na sentença “Rapaz se apaixona por garota”. Ele transforma essa idéia numa pequena proposta de filme, expandindo o conceito para “Na época da ditadura militar, rapaz rico e branco se apaixona por garota afro-descendente e pobre, mas a repressão, a tortura e o preconceito da classe média impedem que o casal seja feliz para sempre”.
De posse dessa premissa, o cineasta brasileiro recebe, do Estado, algo em torno de 60 mil reais para transformar a idéia original num roteiro que possa vir a ser filmado. Quando o projeto fica pronto, ele pede ao Estado mais três milhões de reais, agora para realizar o filme inteiro. Embora o valor solicitado seja duas ou três vezes mais do que ele precisaria, de fato, para completar a produção, o cineasta consegue o dinheiro. Após as filmagens, contudo, ele percebe que seu planejamento financeiro foi mal feito (entre desperdícios e auto-remunerações) e ele precisará de mais dois milhões de reais para finalizar seu trabalho. Pede novamente ao Estado o montante que falta, e mais uma vez é atendido.
Com o filme pronto debaixo do braço, o cineasta brasileiro reclama que, por causa dos filmes norte-americanos, que dominam o mercado, não encontrará tantas salas exibidoras quanto quer dispostas a exibir sua produção. Essa desculpa é automaticamente aceita, novamente, pelo Estado, que lhe confere derradeiros 700 mil reais, agora para fazer uma campanha de lançamento de seu filme. Independente disso, algumas salas são obrigadas a, por lei, exibirem seu filme, ainda que em todas as sessões a sala possa estar mais vazia que a mente de um militante petista.
O filme finalmente fracassa: consegue atingir um público de pouco mais de 10 mil espectadores, que destinam ao filme (cuja despesa total até o momento beira os seis milhões de reais) módicos 150 mil reais, dos quais apenas cerca de 40 mil reais podem ser consideradas receitas líquidas da produção. E todo esse processo foi inteiramente custeado por dinheiro público, concedendo ao cineasta o direito de não colocar a mão no bolso uma única vez sequer, exceto para despesas de escritório e remessa postal.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Como um filme é feito no Brasil
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