Por Fernando Alves de Oliveira
Como um dos setores mais representativos
da nacionalidade, o sindicalismo deveria ser um inesgotável manancial na forja
de bravos e valorosos artífices, imbuídos da nobre missão da representação
popular nos mais variados segmentos da vida política do País. Filosófica,
doutrinária e institucionalmente falando, sindicalismo e política
personificam a arte de representar e servir.
Infelizmente, porém, não é o que observa
nesta nossa indubitável república sindicalista de um decênio, recheada de
pecaminosos episódios que depõe contra a moralidade pública. Historicamente, o
período mais negro da vida republicana.
Nossa estrutura democrática é sustentada
por pilastras presumíveis e aparentemente firmes. Quando, no entanto,
submetidas a uma radiografia mais profunda e apurada, constata-se que são
suscetíveis a um devastador processo de corrosão, determinado por agentes que
vão desde a manifesta ausência de espírito público, até imperdoáveis e
irreprimíveis rastilhos de corrupção, que, com frequência assustadora, se multiplica
em portentosa e irremovível praga.
Ademais disso, o Estado brasileiro não
consegue livrar-se do perfil parasitário, mercê de sua voluptuosa e incontida
sanha de arrebanhar impostos, tributos, contribuições e ônus sem fim, num
verdadeiro e consentido saque ao bolso do contribuinte. O custo Brasil é
exorbitante. O custeio da máquina pública é simplesmente intolerável.
Todos os políticos que até hoje conhecemos
- e sem nenhuma exceção de doutrina partidária- fora do poder têm visão correta
daquilo que está em desacordo e que necessita ser reparado. Quando candidatos,
a retórica torna-se ainda mais precisa e formidável. Os discursos são ainda
mais eloquentes. Suas plataformas eleitorais que preveem seus planos de
governo, "se eleitos", são de uma preciosidade ímpar. Irreparáveis.
Mas assim que tomam posse... Ah, aí é outra história. Com raras e honrosas
exceções, a regra predominante estriba-se na falação, desaguando na óbvia e
fatal perpétua enganação. Em todos os níveis de mandato. No Executivo ou Legislativo.
O que - a eles, é claro - de fato impera e
importa é a preservação e a perenidade do poder. Nesse expediente
surgem cada vez mais especialistas. Alguns, até revelando excepcional talento
nato. Mas na hora da ação, pouquíssimos são os que correspondem ao voto
sufragado por seus pobres mortais e enganados eleitores. Leia-se: todos nós.
Esta é uma triste e lastimável realidade e
que compete a todos nós o dever de desdobrar-nos ainda mais na busca de sua
superação, se realmente desejarmos construir uma real e efetiva democracia,
cujas ações não contemplem minorias, mas sim a coletividade como um todo, a
exemplo do que identicamente deveria ocorrer nas entidades sindicais
brasileiras, em consonância com as suas basilares premissas institucionais: as de
representar e servir dignamente.
A Nação exige dignidade e patriotismo dos
seus homens públicos. Por seu incomensurável gigantismo, o Brasil se faz
merecedor de representantes com ações voltadas às legítimas questões do efetivo
interesse popular e não as de grupos ou grupelhos. Lastimavelmente, - e a
exemplo do que ocorre na vida intestina dos sindicatos - os verdadeiros
interesses da coletividade são invariavelmente procrastinados em detrimento de
menores.
O que se vê claramente é que ao tempo do
avanço da corrupção, a impunidade se aprofunda, a insatisfação popular cresce e
o sentimento de impotência de todos ante a mediocridade da classe política anã
torna-se cada vez mais latente.
Até quando é a grande questão a ser
respondida. Pelos detentores do poder político e sindical. Ou pelas urnas de
ambos.
* Fernando Alves de Oliveira é consultor
sindical patronal, autônomo e independente, autor dos livros "O
Sindicalismo Brasileiro Clama Por Socorro" e
"S.O.S.Sindical.pt", editados pela LTr.
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