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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Racismo é acusação para tudo - até no futebol

O hábito de acusar alguém de racismo por fazer uma escolha, ou dizer alguma coisa com a qual o grupo acusador não concorda, também já passou para o futebol. 

João Menéres Campos Iken para o Observador:

No passado dia 28 de outubro foi entregue a Bola de Ouro de futebol. Este prémio é considerado o prémio mais prestigiado do futebol a nível individual.
Como já é costume, surgem todos os anos massas de adeptos que questionam a escolha do melhor jogador do ano. No ano passado, a bola de ouro foi entregue a Lionel Messi, decisão altamente controversa no meio futebolístico e, desde então, o futebol tornou-se palco de choradeiras dos adeptos na atribuição de cada prémio individual. Isto só mostra que o estado atual do futebol é degradante. Quando o jogador preferido de um adepto não ganha a Bola de Ouro, ouve-se dizer “A ‘France Football’ é corrupta, estão do lado do Messi.”. Quando uma equipa perde a jogar terrivelmente ouve-se dizer “Fomos roubados, o arbitro era um ladrão.” Deus me dê paciência para estas massas futebolísticas.
Após a entrega da Bola de Ouro ao espanhol Rodri do Manchester City, as massas de adeptos uniram-se então para acusar a “France Football” de racismo, uma vez que um dos jogadores favoritos dos adeptos, o brasileiro negro Vinícius Júnior, do Real Madrid, não ganhou o prémio. Contestam a decisão de um júri constituído por jornalistas e representantes dos 100 países com melhor qualificação no ranking da FIFA. Onde já vimos isto acontecer? O caso que mais gerou polémica foi, quando George Floyd foi morto pela polícia, vieram as massas “Woke” dos “Black Lives Matter” e outros movimentos de extrema-esquerda manifestar-se para as ruas, acusando a polícia americana de racismo, esquecendo-se que George Floyd não estava a seguir as indicações da polícia, estava armado e sob o efeito de drogas.
Agora os adeptos de futebol esquecem-se, que Vinícius Júnior esteve abaixo de Rodri em dois dos três critérios para a escolha do melhor do mundo. O primeiro critério é performance individual, onde até pode afirmar-se, que o craque brasileiro esteve melhor do que Rodri. Vinícius Júnior participou em 37 golos na época de 2023/24, enquanto Rodri só teve 26 participações. Contudo, não nos podemos esquecer que Rodri é médio defensivo, enquanto Vinícius é extremo, o papel de Vinícius é marcar golos e dar assistências. O papel de Rodri é criar jogadas, intercetar passes e desarmar os adversários. Nos quatro jogos do “City” pela “Premier League”, em que Rodri não esteve presente, o clube inglês perdeu três. Nos 34 em que Rodri participou, o “City” não perdeu nenhum. Rodri foi essencial no seu clube e, por isso, julgo que foi melhor que Vinícius. Mas isto é algo muito discutível, por isso, vamos considerar que os dois jogadores foram igualmente bons.
O segundo critério é sucesso com a equipa. A nível doméstico, Vinícius Júnior ganhou a liga espanhola, enquanto Rodri ganhou a liga inglesa, a liga mais competitiva do mundo. Na “Liga dos Campeões” o Real Madrid de Vinícius ganhou a competição, enquanto a equipa de Rodri se ficou pelos quartos de final, perdendo nos penáltis com o Real Madrid, num jogo que o Manchester City dominou e merecia ter ganho, mas perdeu na lotaria das grandes penalidades. Pela seleção nacional, Vinícius Junior nada ganhou e teve um desempenho péssimo na Copa América. Rodri, pelo contrário, ganhou o Euro com a seleção espanhola e foi escolhido o melhor jogador do torneio. Neste critério, Rodri foi ligeiramente melhor.
No terceiro critério, de fair-play, respeito, atitude e classe, a diferença entre os dois é abismal. Vinícius Júnior é um tumultuoso em campo, não há um jogo do Real Madrid onde o brasileiro não se envolva em uma discussão acesa com um jogador ou com o arbitro. Vinícius está sempre no chão, está sempre à procura da falta e do penálti. Vinícius Júnior é um jogador extremamente irritante de se ver jogar. Por outro lado, Rodri é um jogador exemplar e devia servir de padrão para todos os jovens aspirantes a jogadores de futebol. O craque espanhol é humilde, é formado em gestão, embora seja jogador profissional de futebol, e tirou o curso enquanto jogava no Villareal e, nessa altura, viveu numa residência de estudantes. Para além disso, Rodri não exibe carros de luxo e doa 25% do seu salário a instituições de caridade espanholas. No campo, Rodri tem um comportamento de louvor: o jogador não procura faltas, não simula faltas para ganhar grandes penalidades, e não se envolve em conflitos com adversários.
Fica para mim claro, que Rodri foi o justo vencedor da Bola de Ouro da “France Football”. Não existiu, na minha perspectiva, nenhum racismo na escolha do vencedor do prémio, pelo que deixemos adeptos de futebol de acusar uma instituição renomada e um júri repleto de gente altamente competente e experiente no mundo do futebol de racismo. Afinal, quem somos nós, que nunca jogámos futebol profissional na vida para criticar a escolha de António Tadeia ou Cléber Machado?
Infelizmente o hábito de acusar alguém de racismo, por fazer uma escolha ou dizer alguma coisa, com qual o grupo acusador não concorda, também já passou para o futebol. Desde 2016 que vemos o comentariado político e seus crentes a fazer falsas acusações de homofobia, xenofobia e racismo àqueles que apenas emitem opiniões suas, no exercício da sua liberdade de expressão, contra àquelas que são tidas por politicamente corretas. Agora em 2024 vemos meros criadores de conteúdo de futebol a acusar jornalistas altamente competentes de racismo, porque escolheram o melhor jogador da temporada de 2024 para receber essa condecoração pelo seu trabalho em campo e fora dele e não escolheram o queridinho dos fãs, um desordeiro adorado pela sua má conduta em campo e fora dele.

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