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domingo, 3 de novembro de 2024

Walter Lima e a disposição de resistência por José Umberto


Walter Lima com Mario Cravo filmando "
Smetak, O Alquimista do Som", em Itaparica

José Umberto: "Conheci  Waltinho (Walter Lima, cineasta) na década de 60 aqui em Salvador. Ele fazia parte de um grupo, o Geciba, que realizava o curta metragem "O Carroceiro" (1965), de Ney Negrão.

As artes estavam sufocadas pela ditadura militar.

Mas havia uma disposição de resistência à opressão. Nossa geração emerge nessa circunstância histórica de repressão e obscurantismo. E realizávamos curtas metragens em 16 mm com a câmera portátil suíça Paillard Bolex, víamos filmes históricos no Clube de Cinema da Bahia, coordenado por Walter da Silveira, assistíamos muitas obras cinematográficas, muitas, e líamos livros, suplementos culturais nos jornais locais e nacionais. Havia um clima de inquietação, de buscas e de crença em utopias. Era uma geração das ruas, das praças, dos becos, das noites, dos ciclos de estudos, das reuniões subterrâneas, das transgressões, dos manifestos, da denúncia ao arbítrio, enfim, um geração em transe. E ela queria que o cinema agitasse as telonas dos nossos circuitos culturais. Um cinema engajado, integrado aos rumores da sociedade... que não deixássemos a peteca cair, que o vigor da juventude prevalecesse e que lançássemos luz sobre todos. E assim se fez."

Diz mais José Umberto: "Circulávamos muito pela cidade (uma geração 'flâneur', de caminhadas, de procuras nas esquinas da vida), especialmente no Grupo dos Novos, o Teatro Vila Velha de João Augusto, efervescente, já integrávamos as raízes alvissareiras das intuitivas idéias tropicalistas, do pós-neoconcretismo de Lygia Clark, a florescente contracultura nacional e internacional, o cinema marginal que florecia com o cineasta Ozualdo Candeias na Paulicéia Desvairada, todo o percurso do Cinema Novo Brasileiro, a explosão da Nouvelle Vague francesa, do Free Cinema britânico, o underground norte-americano de John Cassavetes, a antropofagia do Teatro Oficina, o 'espírito' do teatro da crueldade de Antonin Artaud, uma reunião de idéias, de proposições, de provocações... e nós no meio de tudo isso, no meio do redemoinho das descobertas, em fermentação, em experimentação, saboreando o ardor das invenções.

Só vim a trabalhar com Waltinho na década de 70 quando ele me convida para ser seu assistente de direção em dois curtas seus: 'Smetak, O Alquimista do Som' e 'Bahia, Por Exemplo'. Enquanto trabalhávamos na Diretoria de Imagem e Som (Dimas/Funceb). Uma época de muitas realizações conjuntas na área de projetos cinematográficos para a Bahia. Fizemos história com H maiúsculo em parceria com o intelectual de envergadura Geraldo Machado, que em 1968 fora nosso colega no Grupo Experimental de Cinema da Ufba, organizado por Walter da Silveira e obteve a colaboração de Guido Araújo.

Eu e Waltinho realizamos cruzamentos de criações e intervenções pontuais na trajetória da pós-Escola Bahiana de Cinema, um ciclo significativo no histórico do Cinema Brasileiro contemporâneo."

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